1917 – 2017
José Augusto da Câmara Torres
(* Caicó, RN, 1917 – † Niterói, RJ, 1998)
Jornalista, Educador, Advogado, Político
________________________________________
“O DEPUTADO DA
EDUCAÇÃO, DA CULTURA
E DO DESENVOLVIMENTO”
![]() |
José Augusto da Câmara Torres, em 1962, aos 44 anos,no exercício do segundo
dos quatro de Deputado Estadual à Assembleia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro.
(Acervo Marcelo Câmara)
|
José Augusto da
Câmara Torres (1917-1998), jornalista, educador, advogado e político, foi, no
Século XX, o mais importante líder comunitário e político do Extremo Sul
Fluminense. Em quatro legislaturas consecutivas, e com votações crescentes, de 1954 a 1970, cumpriu
mandatos na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, representando,
prioritariamente, o povo de Angra dos Reis, Paraty, Rio Claro e Mangaratiba.
Ocupou, ainda, as Secretarias de Estado do Interior e Justiça e de Serviços
Sociais, e foi membro do Conselho Estadual de Educação. Era considerado um dos
maiores especialistas e executivos em Educação e um dos mais brilhantes
advogados do País, destacadamente nas áreas do Direito Civil. Na sua carreira
política, sempre recebeu votos em todos os municípios fluminenses, inclusive a
capital Niterói, porém a sua base era os municípios de Angra dos Reis, Paraty,
Rio Claro e Mangaratiba, onde Câmara Torres militou politicamente por quase sessenta
anos, recebendo, nas eleições das quais participou votações maciças, que
chegaram a ultrapassar os 70 por cento dos votos válidos no Extremo Sul
Fluminense.
Em todo o Estado
do Rio de Janeiro, advogou por quase seis décadas, principalmente no Sul do
Estado e nas cidades de Niterói e Rio de Janeiro. Técnico de Educação
concursado, com defesa de tese, oral e escrita, chefiou a Primeira Região
Escolar, no Extremo Sul do Estado, sendo o responsável pela criação,
construção, instalação e ampliação de toda a rede de Educação Pública daqueles
municípios. De 1942 até a sua morte em 1998, ele foi o protagonista das grandes
conquistas socioculturais e econômicas da Região. Era aposentado como Consultor
Técnico Estadual de Educação e como advogado, viúvo da professora Gertrudes
Nóbrega da Câmara Torres - a Dona Tudinha
- mestra de gerações de angrenses, falecida em 1989. Sua casa, primeiro em
Angra, depois em Niterói, sempre foi chamada de "a embaixada da Região",
aberta a todos, cidadãs e cidadãos de todas as classes sociais e cores
políticas, fossem seus eleitores ou não, clientes ou não, amigos ou desconhecidos.
Fiel e
dedicadíssimo às comunidades que representava, Câmara Torres entregou ao Estado
do Rio de Janeiro e, principalmente, àqueles municípios, com elevada dignidade
e correção, mais quase sessenta anos de vida pública. O seu generoso coração
sempre esteve ocupado por esses municípios que ele chamava de “pátrias íntimas”.
Do início dos anos 1940 até a sua morte, não houve iniciativa ou conquista para
o povo da Região que não contasse com a sua liderança, participação decisiva.
Por isto, o Estado do Rio de Janeiro muito lhe deve como educador e político de
muitas lutas, nobres causas e grandes realizações. No Extremo Sul Fluminense, de
1942 a 1955, triplicou o número de escolas e de matrículas no Ensino Fundamental.
Implantou a Merenda Escolar na Região e participou e influiu, decisivamente, na
implantação dos cursos de segundo grau, extracurriculares e profissionalizantes.
Levou a Educação aos pontos mais distantes de todo o Extremo Sul Fluminense.
Depois, como Deputado Estadual, legislou intensa e continuadamente na
Assembleia Legislativa nas áreas da Educação, Cultura, Saneamento, Saúde,
Transportes, Segurança Pública, Comunicações, Turismo e Meio Ambiente. Pugnou,
com altivez, pelo Ensino Público de qualidade e pela valorização dos
professores. Até a sua morte, era reconhecido como "o deputado das professoras", "o político da Educação
Pública", um batalhador pela Educação Pública de qualidade, universal
e gratuita, e por condições dignas de trabalho para os profissionais do setor.
Por sua obstinada e desvelada dedicação ao povo dos municípios que representava,
a Imprensa, algumas vezes, o criticava pejorativamente como sendo “o faz-tudo
do povo da Região”.
EDUCAÇÃO E CULTURA
Nascido em
Caicó, no Rio Grande do Norte, José Augusto da Câmara Torres, de família pobre
e de ilustres intelectuais, como o grande Luís da Câmara Cascudo e o Arcebispo
Dom Hélder Câmara e o Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara (este filho de um
potiguar que migrou para Santa Catarina), o jovem chegou a Niterói com 15 anos,
já com experiências no Jornalismo, revelando-se precocemente um intelectual de
talento, orador, ensaísta, líder e ativista estudantil católico. Na juventude,
fundou e editou jornais e dirigiu instituições culturais em sua terra natal e
em Niterói. Foi aluno do Colégio Salesiano Santa Rosa e do Liceu Nilo Peçanha,
formando-se pela Faculdade de Direito de Niterói, Bacharel em Direito e
Ciências Sociais. Lecionou História do Brasil, História Universal, Língua Portuguesa,
Ciências, Literatura Portuguesa e Brasileira nos Colégios Salesiano, Nossa
Senhora das Mercês e no Ginásio Icaraí. Em 1944, efetivou-se como Técnico de
Educação, servidor público do Quadro Permanente do Estado do Rio de Janeiro, após
rigoroso concurso público de provas e títulos, quando apresentou tese, aprovada
e com defesa oral, sob o tema A Inspeção
Escolar na Escola Primária. Antes,
já em 1942, fora designado, para aquele cargo e para a chefia da 1ª Região
Escolar, no Extremo Sul Fluminense, com sede em Angra dos Reis, onde,
recém-casado, foi residir.
Em poucos anos,
revoluciona a Educação na Região, introduzindo uma moderna gerência de
administração escolar, novas técnicas de ensino e metodologias
didático-pedagógicas de vanguarda, que valorizavam o professor, as culturas
locais e integravam a comunidade à escola. Introduziu a merenda escolar em toda
a Região, que encontrou com pouco mais de trinta escolas, chegando, já em 1953,
a mais de uma centena de unidades. Triplicou o número de crianças matriculadas
na Região, de dois mil para seis mil estudantes. Promoveu, ainda, um intenso
movimento cívico e cultural, realizando exposições e semanas de estudos
pedagógicos, as famosas “excursões culturais” criadas por Rubens Falcão que
faziam o intercâmbio entre escolas e estudantes de vários municípios, entre
outros eventos que marcaram época. Nunca o Ensino Público atingiu níveis tão
altos de excelência e eficácia no Extremo Sul Fluminense.
José Augusto da
Câmara Torres foi, fundamentalmente, um homem da Educação e da Cultura. Mais
que isto, um homem da Educação e da Cultura Fluminense. Seu curriculum profissional nos apresenta um
trabalhador intelectual fértil, produtivo e brilhante: jornalista aos doze
anos, liderança estudantil e tribuno desde os quinze, professor aos dezoito, jornalista
profissional aos vinte e um, escritor de obra reconhecida aos vinte e dois anos,
Técnico de Educação aos vinte e três anos, advogado aos vinte e seis, deputado
estadual aos 37 anos. Câmara Torres não foi apenas um homem do Jornalismo, das
Letras, do Magistério, da Política, da Advocacia Fluminense. Câmara Torres foi um
notável agente que realizou, difundiu e desenvolveu a Educação e a Cultura na
terra fluminense. Seu espírito humanista, seu trabalho cívico, comunitário e
político em favor da Educação e da Cultura, estão em cada município que atuou:
em cada rua das cidades, em cada praia, nas matas, sítios e fazendas, e grotões
dos municípios, onde, semeou fé e esperança, plantou escolas, alfabetizou,
formou e ensinou cidadania a gerações de milhares de crianças e jovens. Cada
escola que construiu transformou-se em um centro de realização e promoção
cultural, onde a história, o patrimônio, as referências, o Homem local era
valorizado e promovido, em sintonia com a história da comunidade, do Estado e
da Nação.
No Estado do Rio, Câmara Torres empreendeu inúmeras ações culturais, associando-se a instituições e lideranças da terra para atuar como o estudioso, o professor, o intelectual, o administrador, o político, que empreendeu, gerenciou e sustentou inúmeros projetos culturais. Na sua condição de educador e político, idealizou e apoiou muitos eventos, foi um ágil e produtivo animador cultural, um realizador bem sucedido, catalisando interesses, sentimentos e aspirações da gente fluminense, transformando sonhos em obras, em fatos culturais de relevância. Câmara Torres foi um tenaz defensor, como educador, advogado e político, do patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro. Por mais de cinquenta anos, ele foi o grande incentivador e apoiador das manifestações populares e folclóricas no Extremo Sul Fluminense e em outros municípios, suas festas e celebrações religiosas e profanas. Ergueu-se como o interlocutor, antes de 1950, do seu primo, mestre e amigo, o genial Luís da Câmara Cascudo, promovendo o diálogo entre os Governo do Estado e da União, visando aos primeiros apoios e estímulos à pesquisa e aos estudos do Folclore fluminense, que resultaram na criação da Comissão Fluminense do Folclore. Na década de 1960, Câmara Torres levou a Paraty o seu amigo e grande folclorista Edson Carneiro, liderando um grupo de pesquisadores de prestígio nacional, para conhecer in loco o Folclore Paratyense, depois registrado em artigos e ensaios editados em livros e revistas especializadas. Em 1960, afirmou-se como o grande apoiador das comemorações dos Trezentos Anos de Paraty, que comemorou a Revolução Popular liderada por Domingos Gonçalves de Abreu que promoveu a autonomia de Paraty em relação à Angra dos Reis. Em 1967, novamente, Câmara Torres foi um dos principais realizadores dos festejos do Tricentenário da Vila de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty. Por iniciativa e com a assessoria histórica de Câmara Torres, nasceram os brasões de Angra dos Reis, Paraty, Rio Claro, Mangaratiba e Piraí, criações do seu amigo e famoso heraldista Alberto Lima. Todas as instituições socioculturais e esportivas do Estado sempre tiveram nele um amigo valioso, um apoiador incansável.
No Estado do Rio, Câmara Torres empreendeu inúmeras ações culturais, associando-se a instituições e lideranças da terra para atuar como o estudioso, o professor, o intelectual, o administrador, o político, que empreendeu, gerenciou e sustentou inúmeros projetos culturais. Na sua condição de educador e político, idealizou e apoiou muitos eventos, foi um ágil e produtivo animador cultural, um realizador bem sucedido, catalisando interesses, sentimentos e aspirações da gente fluminense, transformando sonhos em obras, em fatos culturais de relevância. Câmara Torres foi um tenaz defensor, como educador, advogado e político, do patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro. Por mais de cinquenta anos, ele foi o grande incentivador e apoiador das manifestações populares e folclóricas no Extremo Sul Fluminense e em outros municípios, suas festas e celebrações religiosas e profanas. Ergueu-se como o interlocutor, antes de 1950, do seu primo, mestre e amigo, o genial Luís da Câmara Cascudo, promovendo o diálogo entre os Governo do Estado e da União, visando aos primeiros apoios e estímulos à pesquisa e aos estudos do Folclore fluminense, que resultaram na criação da Comissão Fluminense do Folclore. Na década de 1960, Câmara Torres levou a Paraty o seu amigo e grande folclorista Edson Carneiro, liderando um grupo de pesquisadores de prestígio nacional, para conhecer in loco o Folclore Paratyense, depois registrado em artigos e ensaios editados em livros e revistas especializadas. Em 1960, afirmou-se como o grande apoiador das comemorações dos Trezentos Anos de Paraty, que comemorou a Revolução Popular liderada por Domingos Gonçalves de Abreu que promoveu a autonomia de Paraty em relação à Angra dos Reis. Em 1967, novamente, Câmara Torres foi um dos principais realizadores dos festejos do Tricentenário da Vila de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty. Por iniciativa e com a assessoria histórica de Câmara Torres, nasceram os brasões de Angra dos Reis, Paraty, Rio Claro, Mangaratiba e Piraí, criações do seu amigo e famoso heraldista Alberto Lima. Todas as instituições socioculturais e esportivas do Estado sempre tiveram nele um amigo valioso, um apoiador incansável.
O seu notável
trabalho como Técnico de Educação e advogado no Extremo Sul Fluminense, seu
fecundo e eficaz munus político de
deputado estadual e dirigente partidário, fizeram de Câmara Torres o orador dos
grandes eventos, das inesquecíveis efemérides. Foi um dos grandes
incentivadores dos estudos sobre a História e a Cultura Fluminense, inclusive
produzindo ensaios importantes, sobre nós mesmos, sobre o nosso lugar, o nosso
papel na vida nacional, os fatos e processos acontecidos na terra de Euclides
da Cunha. A inauguração de cada uma das dezenas de escolas que construiu no Sul
Fluminense traduzia-se numa festa cultural, popular, democrática, onde Câmara
Torres ministrava uma aula sobre o patrono de cada unidade, convocava o povo
para a sua História, para o exercício da cidadania social e política, práticas
tecidas na pesquisa, na reflexão e na ação, a partir de cada município, a
partir da sua gente e da sua História. No seu tempo, cada escola era um centro
comunitário de atividades culturais, a célula de uma biblioteca e espaço para
as atividades artísticas e profissionalizantes. Câmara Torres criou a rotina de
trazer personalidades da Cultura Brasileira para falar ao povo, aos estudantes,
aos professores de cada município do Extremo Sul Fluminense. Os seus objetivos
eram estimular o conhecimento e a autoestima dos munícipes, proporcionar a
consciência e a responsabilidade sociocultural e política de cada um e de
todos.
A partir de
1942, os temas “Angra dos Reis, “Paraty”, “Rio Claro”, “Mangaratiba”, e antes mesmo
“Niterói”, vão ocupar, prioritária e majoritariamente, a agenda de Câmara
Torres, vão habitar toda a sua obra divulgada e publicada, no Jornalismo e na
Ensaística, nos campos da Educação, do Direito, da Política, da História, da
Sociologia, do Folclore. Isto porque, naquele ano, ele visita a Região pela
primeira vez, se apaixona pela terra, e publica em sua coluna Hora Fluminense, na primeira página de O Estado, de Niterói, o mais importante
jornal à época, densos e informativos artigos, tratando da problemática socioeconômica
dos municípios, das suas belezas e potencialidades, ante vendo-lhes um destino
promissor nos campos socioeconômico, cultural e turístico. É de sua autoria o
primeiro e mais importante perfil biográfico de Samuel Costa, a belíssima e
memorável oração que pronunciou quando da inauguração do Grupo Escolar que
recebeu o nome do advogado e político, a 18 de novembro de 1948, ele, na
condição de Técnico de Educação e Chefe da Inspetoria Regional de Ensino, no
66º ano de nascimento do ilustre paratyense. Publicou na revista literária Bando, de Natal, Rio Grande do Norte, a
única e histórica crônica que narra a morte, em 1944, em Angra dos Reis, do
grande Alberto Maranhão, estadista da Primeira República, que após a Revolução
de 1930, vive em Paraty, como fazendeiro e proprietário de jornal, por longos
anos. Em 1951, proferiu no Grupo Escolar Samuel Costa, conferência sobre a vida
e obra de Sylvio Romero e sua identidade com Paraty, recebendo, à época, do
Doutor Nelson Romero, filho do ilustre humanista, em nome da família, carta de
regozijo e agradecimento. Reuniu e editou, pela primeira vez, em 1973, os
poemas de Samuel Costa, escrevendo a introdução à antologia. Também prefaciou
as obras Paraty – Caminho do Ouro, de
Heitor Gurgel e Edelweiss Amaral, e Silvio
Romero, Juiz, de
José Alberto da Silva, livro que narra a vida do grande
sergipano como "Juiz Municipal do Termo de Paraty", de 1877 a 1879.
Jornalista,
professor, advogado e político, em toda a sua vida acadêmica e profissional, em
mais de setenta anos de ininterrupta atividade intelectual, publicou livros e
centenas de ensaios, estudos, artigos, reportagens e críticas nas áreas da
Literatura, da História, da Educação, Política, Sociologia e do Direito, além
de trabalhos nos campos do Folclore. Até a sua morte, participou, ativamente,
de diversas instituições e movimentos culturais que agitaram o Sul Fluminense e
todo o Estado do Rio de Janeiro, simultaneamente fundando entidades e dirigindo
campanhas comunitárias.
DOAÇÃO E SERVIÇO
Afora o seu ingente trabalho, por quase sessenta anos,
como líder e arauto das grandes causas da Gente Fluminense, não há cidadão ou
família do Extremo Sul Fluminense que não reconheça e não deva a Câmara Torres,
uma atitude, um empenho, um gesto, pelo menos uma palavra de compreensão e
apoio, em defesa de um direito ou conquista pessoal, afora todas as suas
realizações coletivas, em benefício das comunidades. Na Região, os órgãos e os
serviços públicos devem muito à ação contínua e persistente de Câmara Torres,
tanto na Assembleia Legislativa, como junto a órgãos estaduais, federais e
internacionais. Durante o tempo em que foi Deputado, viabilizou os governos dos
prefeitos daqueles municípios, à época sociedades e prefeituras pobres, sem
recursos, prestando-lhes toda a assistência e apoio, para bem e produtivamente
desempenharem os seus mandatos.
![]() |
Deputado Câmara Torres na tribuna da Assembleia Legislativa em junho de 1956
em defesa das comunidades e do desenvolvimento da Região Sul
Fluminense.
(Acervo Marcelo Câmara)
|
No final da década de 1960, o Projeto Turis, da EMBRATUR, que tratava da ocupação racional e
ecológica do litoral do Rio a Santos, teve em Câmara Torres um defensor
entusiasta, audacioso e perseverante. O
Plano de Desenvolvimento Integrado e Proteção do Bairro Histórico do Município
de Paraty, patrocinado pela União Federal, cuja conveniência foi tratada na
UNESCO, órgão da ONU, nasceu das ideias e das ações de Câmara Torres em vários
fóruns regionais e nacionais nos anos cinquenta e sessenta, resultado do seu
trabalho contínuo pela integração do Município ao Estado do Rio e pelo
desenvolvimento autossustentável de suas comunidades. Ambos os instrumentos
tiveram o apoio político indispensável de Câmara Torres na Assembleia
Legislativa e junto aos governos estadual e federal, e que introduziram Paraty
no Século XXI.
Lutou,
politicamente, sem pausa, por mais de três décadas, inicialmente pela abertura,
depois pela conservação, tráfego regular e pavimentação da estrada
Paraty-Cunha. Lutou, incansavelmente, nos níveis estadual e federal,
mobilizando até organismos e recursos internacionais, para a pavimentação da
estrada, chegando mesmo a obter compromissos formais de governadores, ministros
de Estado e a celebração de contratos entre o Governo do Estado e construtoras,
os quais sucessivos governos federais não permitiram que fossem cumpridos. Hoje,
a Estrada Parque Comendador Antônio Conti, pavimentada, é uma realidade, uma
conquista de Câmara Torres, do Povo Paratyense, através dele e de seus líderes
comunitários e políticos. Foi o grande responsável pela abertura da Estrada
Angra dos Reis-Paraty (Rodovia Roberto Silveira) e, depois, pela Rodovia
Rio-Santos, com outro traçado, é verdade, mais inteligente e preservacionista.
Dedicou-se,
também, durante toda a sua vida pública, pela manutenção do Serviço de
Navegação Sul Fluminense, que oferecia transportes às comunidades da Baía da
Ilha Grande. Criticou, durante anos, o funcionamento do presídio na Ilha
Grande, que segundo ele, "contrariava
as vocações ecológicas e preservacionistas daquele patrimônio, expondo-o a toda
sorte de perigos e agressões".
Como
parlamentar, atuou e legislou destacadamente na área social, em favor da Região
que representava, especialmente na Educação, Cultura, Saúde, Saneamento,
Transportes, Segurança Pública, Turismo e Meio Ambiente. Planejou e viabilizou,
como Secretário do Interior e Justiça, a construção do Fórum Silvio Romero, em Paraty, e João Fausto Magalhães, em Angra dos Reis, cujos nomes foram dados
por ele. Criou e instalou as Subseções da Ordem dos Advogados de Angra dos Reis
e de Paraty Construiu, com recursos próprios, no início da década de 1950, o
Aeroporto de Angra dos Reis, Fundou e foi o primeiro presidente do Aero Clube
de Angra dos Reis. Empenhou-se pela manutenção e melhoria do campo de aviação
de Paraty, pois foi um pioneiro do transporte aéreo no Extremo Sul do Estado. Idealizou
e coordenou, em 1970, a Operação Trindade, primeira ação multidisciplinar do
Estado no sentido da integração e desenvolvimento socioeconômico sustentado da
comunidade da Praia da Trindade. Foi o autor da lei que remunerava e dava
tratamento especial aos profissionais da Educação designados para trabalhar nas
escolas oceânicas, de difícil acesso de Paraty. Irmão e Procurador das
Irmandades das Santas Casas de Misericórdia de Angra dos Reis e de Paraty, era,
também, membro das Associações de Caridade, que mantém os Asilos de assistência
às velhices desamparadas de Angra dos Reis e de Paraty.
Cristão e
solidário, generoso em todos os seus atos, Câmara Torres, na Política, teve
adversários, jamais inimigos. Na Advocacia, contendores que o admiraram, nunca
debatedores odientos. Morreu pobre, sem bens a inventariar, sendo visto por
correligionários e adversários políticos, como "uma legenda moral de honestidade e trabalho, de doação às causas
populares, que fazia dele um homem público por excelência, honrado, leal,
destemido e produtivo, com inestimáveis serviços prestados ao Estado do Rio de
Janeiro". Os cientistas políticos poderão ver Câmara Torres como "um Homem Público com uma inexcedível
capacidade de doação, um Político com uma dimensão humana e social
insuperável". Deixou oito filhos, quatorze netos e uma legião de
amigos e admiradores no Estado e no País. Entre os seus filhos está o
jornalista, escritor, editor, consultor cultural e Consultor Legislativo do
Senado Federal, aposentado, Marcelo Câmara, que sempre desenvolveu intensa e
múltipla atividade intelectual, herdando, ainda em vida do pai, a rica
biblioteca de Câmara Torres, com importantes e raras obras jurídicas, de
História, Educação, Literatura, Ciências Políticas e Sociais, e o seu
monumental arquivo profissional e pessoal, onde está registrada toda a sua vida
como jornalista, educador, advogado e político, inclusive a sua correspondência
com líderes e famílias da Região Sul do Estado, e com personalidades da vida
fluminense e nacional, estas desde os anos vinte até a sua morte.
LIDERANÇA POLÍTICA
Em meados da
década de 40, Câmara Torres já era uma vigorosa e irreversível liderança
regional. Com a redemocratização do País, em 1945, ingressa no Partido Social
Democrático - PSD, e, cinco anos depois, é um dos fundadores e dirigente do
Partido Social Progressista - PSP, elegendo-se, por essa legenda deputado
estadual em 1954 e, por mais três vezes consecutivas. Funda os diretórios
municipais do PSP em Paraty, Angra dos Reis, Rio Claro e Mangaratiba e é eleito
Secretário-Geral do partido no Estado do Rio. Em 1958, foi um dos principais
articuladores da coligação PSP-PTB-UDN- PDC-PSB, que levou o amigo e companheiro de
lutas políticas, Roberto Silveira, ao Governo do Estado.
Em 1959,
exerce as funções de Primeiro Secretário da Assembleia Legislativa. No Governo
de Geremias de Matos Fontes, ocupa, por alguns meses, a Secretaria de Estado do
Interior e da Justiça, onde realiza profícua administração, erguendo fóruns em
vários municípios, assistindo e modernizando as prefeituras municipais e
revolucionando o sistema penitenciário, com a implantação de projetos pioneiros
da Educação formal e profissional nos presídios. Em sua gestão, obteve, pela
primeira vez, em mais de sessenta anos de tentativas frustradas de tantos
governos, a devolução, por parte do então Estado da Guanabara, das áreas,
prédios e benfeitorias, onde funcionavam o Presídio do Abraão e a Colônia Penal
Dois Rios, na Ilha Grande, concretizando-se anos depois a transação, por conta
da sua saída da Secretaria, e de sua volta à Assembleia Legislativa.
Mesmo
ingressando na Aliança Renovadora Nacional – ARENA, após o golpe de 1964,
lutou, durante o regime militar, contra a instalação da usina nuclear na Praia
da Itaorna, em Angra, e esteve detido no Colégio Naval, sendo libertado após
dez dias de detenção, sem qualquer acusação formal, com um pedido de desculpas
do então comandante da unidade. Antes, fora acusado em Inquérito Policial
Militar, por ter intervindo em favor da liberdade e integridade de líderes
políticos e comunitários de Paraty, uns presos, outros perseguidos pela
Ditadura, a maioria deles, seus circunstanciais adversários políticos,
correligionários em tempos anteriores. Em 1970, foi o único deputado estadual
da ARENA a concorrer a uma vaga na Câmara Federal, não logrando êxito, apesar
de expressiva votação, o que o colocou numa primeira suplência por quatro anos,
levando-o a um longo jejum eleitoral. Em 1971 assumiu a Secretaria de Estado de
Serviços Sociais, iniciando um trabalho em várias frentes, de grande
repercussão, com projetos de vanguarda dirigidos aos marginalizados, crianças e
idosos, aos portadores de deficiência física e mental, apoiados por governos e
instituições estrangeiras e internacionais. Isto provocou inveja e intriga em
setores do poder, sendo demitido por exigência da chamada “linha dura” do
regime que infelicitava o País, por ordem expressa do general Walter Pires. Em
1986, após dezesseis anos afastado de disputas eleitorais, amigos de Angra e de
Paraty lançam o seu nome à Assembleia Legislativa pelo Partido Democrático
Social – PDS. Obtêm 5 mil votos, uma expressiva votação à época, é o candidato
à Assembleia Legislativa mais votado em Paraty. Entretanto, não se elege,
abandonando definitivamente a Política. Com sabedoria e prudência, presidiu o
PSP, a ARENA e o PDS, de Angra dos Reis.
O Extremo Sul
Fluminense lhe deve a edificação das matrizes do seu desenvolvimento
socioeconômico, político e cultural, além de conquistas na Educação e Cultura, Saúde,
nos Transportes, no Saneamento, Justiça e Segurança Pública, na Preservação Ambiental,
no Turismo e outras áreas de atuação do Poder Público. Entre os benefícios
regionais alcançados graças ao trabalho incansável de Câmara Torres, além
daquelas já apontadas, está a abertura e conservação da Estrada Rio
Claro-Mangaratiba. Sócio Remido e Vice-Presidente do Aeroclube do Estado do Rio
de Janeiro, realizou os primeiros voos de Angra dos Reis e Paraty com destino a
Niterói e ao Rio de Janeiro, para acudir a população que precisava de
atendimento médico de urgência, favorecendo, também, a ida constante de
servidores e autoridades públicas ao Município.
JORNALISTA E ESCRITOR
Aos doze anos de
idade, José Augusto da Câmara Torres já era um jornalista, quando fundou e
dirigiu o veículo estudantil O Ideal da
Juventude, em sua terra natal. Mais tarde, também fundou e dirigiu, em
Niterói, os jornais Espumas e A Ordem. Antes, no Colégio Marista, em
Natal, colaborou no Sete de Setembro.
Jovem, militou politicamente ao lado de Alceu de Amoroso Lima, o Tristão de
Athayde, Dayl de Almeida, José Arthur Rios, os irmãos Badger e Roberto
Silveira, Celso Peçanha, Anselmo Macieira, Vasconcelos Torres, entre outros,
nas lutas estudantis, universitárias e políticas. Em Niterói, pertenceu ao
Centro de Cultura José de Anchieta, do Colégio Salesiano Santa Rosa, ao Grêmio
Lítero-Esportivo Olavo Bilac, do Instituto de Educação de Niterói, e foi um dos
fundadores da Congregação Mariana, presidindo a Academia São Francisco de
Sales, braço cultural da Congregação. No Rio e em Niterói, escreveu em jornais
e revistas, entre eles, Folha Colegial,
O Estado, Correio da Manhã, Revista
Potiguar (RN), Ariel, Taba, O Gládio, Aríete, Almanaque Ilustrado das Famílias Católicas Brasileiras.
Fez crítica literária, de cinema e teatro. Foi correspondente no Rio e
articulista da revista Nordeste, de
Natal, RN, colaborando, também, em A
República, da capital potiguar. Assinou, na década de 40, a coluna Hora Fluminense, espaço nobre na
primeira página do diário O Estado,
então o maior jornal da Velha Província e redator do antigo Serviço de
Propaganda e Turismo do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em Angra dos Reis,
publicou no jornal O Sul Fluminense,
e assinou, por quatro anos, a coluna Aspectos
na Folha de Angra, onde também foi
secretário de redação. Foi membro da Associação Fluminense de Jornalistas e da
Associação de Imprensa Periódica Paulista.
Em 1939 e em 1944, respectivamente, circulam, com tiragens restritas, nos meios acadêmicos e técnicos da Educação, as duas monografias, teses de sua autoria: Educação Moral e Cívica e A Inspeção Escolar na Escola Primária. Aos 22 anos publicou, com Dayl de Almeida, Imortais, livro de ensaios, com prefácio de Alcebíades Delamare. Publicou, ainda, diversos trabalhos de História, Ciência Política, Educação, Sociologia, Folclore e Crítica Literária. Entre esses, destacam-se os estudos pioneiros sobre o paratyense Samuel Costa (1948), Sylvio Romero (1949) e sobre o angrense Lopes Trovão (1947 e 1953). Em 1943, a Biblioteca Municipal Professor Guilherme Briggs, de Angra dos Reis, publica Os olhos verdes na literatura, ensaio e conferência que profere naquele município. Foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Artístico de Paraty. Era Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e Sócio Correspondente do Ateneu Angrense de Letras e Artes. Integrava a Academia Valenciana de Letras, a Associação Brasileira de Escritores, entre outras entidades culturais, fluminenses e nacionais.
Em 1939 e em 1944, respectivamente, circulam, com tiragens restritas, nos meios acadêmicos e técnicos da Educação, as duas monografias, teses de sua autoria: Educação Moral e Cívica e A Inspeção Escolar na Escola Primária. Aos 22 anos publicou, com Dayl de Almeida, Imortais, livro de ensaios, com prefácio de Alcebíades Delamare. Publicou, ainda, diversos trabalhos de História, Ciência Política, Educação, Sociologia, Folclore e Crítica Literária. Entre esses, destacam-se os estudos pioneiros sobre o paratyense Samuel Costa (1948), Sylvio Romero (1949) e sobre o angrense Lopes Trovão (1947 e 1953). Em 1943, a Biblioteca Municipal Professor Guilherme Briggs, de Angra dos Reis, publica Os olhos verdes na literatura, ensaio e conferência que profere naquele município. Foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Artístico de Paraty. Era Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e Sócio Correspondente do Ateneu Angrense de Letras e Artes. Integrava a Academia Valenciana de Letras, a Associação Brasileira de Escritores, entre outras entidades culturais, fluminenses e nacionais.
Possuía os títulos de Cidadão Fluminense, do antigo Estado do Rio de Janeiro, de Cidadão Honorário do Estado do Rio de Janeiro, do atual Estado do Rio de Janeiro, e de Cidadão Honorário de Angra dos Reis, Paraty, Rio Claro, Mangaratiba e Duas Barras. Foi agraciado com a Medalha do Centenário de Silvio Romero (1939), pelos seus trabalhos sobre o escritor, com a Medalha do Cinquentenário da República, e com a Medalha Tiradentes, da Assembleia Legislativa do atual Estado do Rio de Janeiro, entre dezenas de outras insígnias. Em Angra dos Reis, foi eleito pelos seus colegas de profissão "O Advogado do Ano" por mais de uma vez. Pertenceu a diversas entidades religiosas do Estado, sendo, também, Benemérito de dezenas de instituições socioculturais, filantrópicas e desportivas. Recebeu dezenas de láureas de instituições públicas e privadas do Estado.
Câmara Torres morreu pobre, sem bens a inventariar. Deixou, além de um notável legado de ética, probidade, honradez, liderança e coerência política, de nobres causas e lutas, de fidelidade aos seus representados, um importante patrimônio de leis e realizações, na Educação, na Cultura, na Infraestrutura do Desenvolvimento, nos setores sociais e econômicos. Foi, enfim, um importante e luminoso personagem da História Política Fluminense nos últimos sessenta anos do século XX.
Em 2000, o Teatro Municipal de Angra
dos Reis, RJ, o mais importante centro cultural da cidade, recebeu o nome de
TEATRO MUNICIPAL CÂMARA TORRES, por força de Lei Municipal.
Em 2004, a Casa de Cultura de
Paraty passou a denominar-se CASA DE CULTURA CÂMARA TORRES, em decorrência da
Lei Municipal 1414, de 2004, resultado de Projeto do então Vereador e Presidente
da Câmara, Casé Miranda.
Em 2011, o município de Rio Claro,
RJ, homenageou-o inaugurando, em Passa Três, a sua mais moderna e bem equipada
escola, o CENTRO DE ENSINO MUNICIPAL DEPUTADO CÂMARA TORRES, construído com recursos
da União (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB).
O Aeroporto de Angra dos Reis, RJ, construído
no início dos anos 1950 por Câmara
Torres, com recursos próprios, passará a se chamar, em breve, AEROPORTO CÂMARA
TORRES.
Os municípios de Mangaratiba e
Niterói, igualmente, preparam homenagens à sua memória.
_____________________________________________________________________________