domingo, 29 de janeiro de 2017

"ESSE BRIZOLA É UM DEMAGOGO, UM IDIOTA, SÓ DIZ BOBAGENS..." - Bordão dos adversários de Brizola, dito, de 1979, quando ele retorna do exílio, até a sua morte em 2004.

Darcy, Brizola e Niemeyer: os criadores dos CIEPS
Foto: www.pdt.org.br
No último dia 22 de janeiro, nos lembramos de que há 95 anos nascia Leonel de Moura Brizola, em Cruzinha, na roça gaúcha, distrito de Carazinho, filho de camponeses pobres, criado órfão de pai, este assassinado pelas costas na Revolução Federalista. Alfabetizado pela mãe, estudou em escolas públicas, se formou Técnico Agrícola com uma bolsa de estudos do Estado do Rio Grande do Sul. Trabalhou desde a infância para se manter na Capital, Porto Alegre, e cursar o Ginásio e o Segundo Grau, até se formar Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRS. Ingressou na Política por iniciativa própria, depois incentivado por João Goulart e Getúlio Vargas, foi um dos fundadores do Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, a única agremiação social-democrata até hoje existente no País, se elegendo deputado estadual. Em 1950 casou com Neuza Goulart, irmã de Jango, que pertencia à família mais rica do Estado. O resto da História você já leu neste blog, na matéria Incrível! Fantástico! Extraordinário! Episódios da Política e façanhas de alguns políticos brasileiros - 2ª parte, postada em 16.10.16.

Desde a sua morte, os políticos federais, estaduais e municipais, e as Oposições circunstanciais, as de plantão, em qualquer nível, a mídia, os cientistas sociais e políticos – todos que, no passado, sempre criticaram as suas ideias e posições não se cansam de repetir o que Brizola sempre afirmou, e sempre foi contestado, por mais de cinquenta anos. Os que sobreviveram a Brizola fazem, diariamente, pronunciamentos e dão entrevistas, como se fossem eles os primeiros a se manifestarem sobre certas questões nacionais, como que fossem eles os que descobriram o que Brizola repetiu por décadas. São problemas cristalizados, que estão se transformando em arqueologia na nossa História. Abaixo alguns dos pensamentos do Homem Público Leonel Brizola, proclamados, sem medo, sem ódio, durante toda a sua vida de lutas pelo Povo Brasileiro, de coerência ideológica e política.


  • Sobre o Trabalhismo, hoje, no Brasil, uma doutrina na gaveta, e ausente da vida partidária: 
O Trabalho é o valor primacial, fundamental, insubstituível, o principal elemento, essencial na vida de uma sociedade. O trabalho deve ser a base da Economia, deve perpassar toda a vida social. Ele é o elemento que humaniza, eleva, honra e dignifica a Vida e o Homem na Comunidade, na sua conduta como cidadão, agente criador e produtivo e nas suas relações com o outro, com a Coletividade, com o Estado.“


  • Sobre o Povo Brasileiro: 
A elite norte-americana luta pelo povo norte-americano. A elite alemã defende o povo alemão. A elite japonesa briga pelo povo japonês. E assim por diante. Cada elite de um país trabalha pelo povo do seu país. Aqui, não. O Povo Brasileiro é bom, trabalhador, generoso. O que não presta é parte das nossas elites, vinda de vários pontos, com vários matizes. Ora dá as costas para o seu Povo, ignora-o; ora se locupleta dos bens do País, saqueia a Nação; ora se alia às elites de outros países para auferir criminosamente lucros e vantagens indevidas, em detrimento do Povo Brasileiro.”


  •    Sobre a sua “tara” existencial e política, a Educação: 
A Educação é o principal dever, instrumento, a principal tarefa de uma Nação que pretende ser livre e soberana, reproduzir gerações conscientes e responsáveis pelo seu desenvolvimento, forjar o seu futuro com independência e autonomia, missão de um País que quer ser dono do seu próprio destino. Não se confunda escola de “horário integral” com escola de “Educação Integral”: a primeira é uma extensão de permanência das crianças numa escola deficiente, precária, que, com raríssimas exceções, tivemos no passado; a segunda é uma nova Escola, onde a criança tem ensino, orientação moral e social, assistência integral às suas necessidades físicas, psicológicas, mentais e culturais, e é preparada, com dignidade e respeito, para a Vida, a Cidadania e o Trabalho. Cada CIEP deve ser um espaço, um pólo, centro de convergência social, de criação e divulgação cultural de uma comunidade.


  • Sobre os brasileiros: 
A vida das nossas crianças começa no ventre materno. Temos de proporcionar um pré-natal seguro, eficiente, de qualidade, às mães brasileiras. O cérebro das nossas crianças tem de ser cuidado antes do seu nascimento. Depois, na pré-escola, tudo começa acontecer no desenvolvimento físico, mental, psicológico, afetivo, intelectual das nossas crianças. É o período onde se formam e se consolidam as matrizes orgânicas, mentais, emocionais nos cérebros das nossas crianças. Elas precisam de atenção, substanciosa nutrição, cuidados, carinho. É como ocorre nos computadores: se um desses chips queimar, não tem mais jeito. Se não dermos a elas boas condições de higiene, saúde, uma família bem estruturada, uma boa pré-escola, eficiente e eficaz, o que será da alfabetização dessas crianças, do seu curso de 1º grau? São nessas fases, da primeira infância onde se constroem as bases do indivíduo, das futuras cidadãs e cidadãos.”


  • Sobre o tráfico de drogas e armas: 
O Rio de Janeiro não fabrica drogas nem armas. Tudo vem de fora. Precisamos assumir definitivamente, vigiar e controlar as nossas fronteiras, tarefa constitucional da União, da Polícia Federal, da Receita Federal, das nossas briosas Forças Armadas. É pelas nossas fronteiras, marítimas e secas, que entram as drogas, as armas e também ocorre o tráfico de pessoas, legiões de seres humanos escravizados pelo crime e a infâmia.”


  • Sobre Getúlio Vargas: 
O Presidente Getúlio Vargas foi o grande estadista que o Brasil teve no Século XX: construiu o Estado, ergueu a Nação e organizou a Economia nacional, estabeleceu os deveres e direitos dos trabalhadores, lutou até a morte pela nossa independência e soberania.


  • Sobre João Goulart: 
Jango foi derrubado por um conluio da direita entreguista e antinacional, aliada a forças externas, porque era um nacionalista que queria um Brasil livre e desenvolvido, defendia os direitos e interesses do Povo Brasileiro e as riquezas do País”


  • Sobre Segurança Pública no RJ:
Eu jamais proibi a Polícia Civil ou Militar de subir os morros cariocas, penetrar nas favelas, onde prospera, como no asfalto, a bandidagem e a criminalidade. O que eu nunca permiti é que a polícia invadisse as comunidades pobres atirando a esmo, chutando as portas dos barracos dos trabalhadores, assassinando, com balas perdidas, cidadãos de bem, crianças, mulheres, idosos, gente inocente, como acontece hoje. Operações nas favelas? Sim. Mas, cirúrgicas, eficazes, precedidas de trabalhos de inteligência e planejamento. As polícias dos meus dois governos no Rio de Janeiro prenderam centenas de traficantes, homicidas, estupradores, prenderam os bicheiros, chefes de máfias criminosas do jogo ilegal, do tráfico de drogas e de armas. Eu prendi os bicheiros, mas quem levou a fama foi a respeitável e douta juíza Denise Frossard, que os condenou por justiça. No governo Moreira Franco, os bicheiros frequentavam e eram banqueteados no Palácio do Governo. Quando assumi o Governo do Rio de Janeiro pela segunda vez, em 1991, sucedendo Moreira Franco, a capa da revista Veja mancheteava: Rio em Guerra Civil”.


  •   Sobre a presença do Estado na Economia:
A princípio, tudo dever ser privado, não deve caber a presença ou intervenção estatal. Numa economia de mercado, onde há livre iniciativa, com empregos e salários, direitos e deveres de empregadores e empregados, e o objetivo de quem produz é o lucro, o Estado não deve entrar, não deve interferir, a participação do Estado deve ser seletiva, específica, excepcional. O Estado deve, sim, regular vigiartributar, acompanhar para defender o interesse público, e só se tornar sujeito ou responsável pelas atividades econômicas, ser agente produtivo, nas áreas de interesse e importância social, onde não haja interesse, razão ou motivo do particular atuar, onde ele não tenha chance de lucrar, não tenha perspectivas de ganho.


  • Sobre as perdas internacionais, sempre ridicularizadas pelos seus adversários:
As perdas internacionais, a nossa maior desgraça, se traduzem nos pagamentos crescentes de encargos da dívida externa e o envio sistemático, e também crescente, de lucros das grandes corporações que aqui atuam para o exterior, não investindo, nem reinvestindo no País, não geram empregos, não multiplicam riqueza e renda.


  •  Sobre a Educação em Tempo Integral, os CIEPS:
A Educação Integral, a Escola em Tempo Integral, livre e democrática, é fundamental, indispensável, deve ser generalizada em nosso País, acessível a todas as crianças e jovens, pobres e ricos, de todas as etnias e latitudes sociais, culturais, econômicas. Ela é comum, centenária em vários países, inclusive em alguns das Américas. Constitui ensino sob pedagogia contemporânea, enriquecedora; prédios amplos e adequados; equipamentos apropriados ao ensino; boa e produtiva didática; transmissão de valores, princípios, fundamentos e referências civilizatórias acrescentativas; orientação moral, social e cultural para formação de um caráter reto e uma personalidade sadia, digna, tolerante, dos nossos jovens, futuros cidadãos; educação física e esportes; alimentação, do café da manhã à sopa no final da tarde; assistência social, psicológica, médica e odontológica, para que as crianças cresçam, se desenvolvam harmonicamente com a sua cultura e o seu meio, visando a uma vida com saúde, paz, prosperidade e alegria.”