segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

VERDADES POUCO CONHECIDAS SOBRE POLÍTICOS BRASILEIROS

O exilado Celso Furtado – O consagrado economista e professor paraibano, nascido em Pombal, Celso Monteiro Furtado (1920-2004), expedicionário da FEB, Bacharel em Direito e Doutor em Economia pela Sorbonne; criador e duas vezes Superintendente da SUDENE, Diretor do então BNDES, primeiro Ministro do Planejamento do Brasil, intelectual consagrado internacionalmente, viveu exilado em Paris, lecionando e pesquisando na Sorbonne e em outras universidades e instituições dos EUA e da Europa, no período de 1965 a 1979. Quando era visitado por brasileiros em Paris, recebia-os, acreditem, falando francês. É autor de Formação Econômica do Brasil, uma das obras mais importantes, livro-referência, para quem quer conhecer o País. Inteligente, culto, mestre brilhante, pensador do Brasil e formulador da Economia, administrador notável – Celso foi um dos homens mais valorosos e vaidosos da História Política Brasileira. Com ele disputaram o Troféu Rempli de soi-même no Século XX, com conteúdo, estofo, justificadamente, e, por isto, vaidosos podiam ser: Darcy Ribeiro, Fernando Henrique Cardoso e Paulo Brossard. Medíocres, “cheios de vento”, “fazendo gênero”, Aloysio Chaves (Senador PDS-PA, 1979-87) e Fábio Feldman (Deputado Federal PMDB e PSDB-SP 1987-95). Entre aqueles, os "justicados", e estes, os "vazios", está o "punhos de renda" Luiz Vianna Filho, intelectual valoroso, de obras, é verdade, porém, para mim, sem os louros e as loas tão altas que lhe foram dadas em vida e que ainda são cantadas em sua memória. Darcy Ribeiro não escondia a sua vaidade. Disse-me mais de uma vez: “A minha vaidade é resultado da minha fragilidade, da minha pequenez, das minhas carências. Eu preciso de carinho, de afagos. Por isto solicito tanto reconhecimentos, gestos ternos, carícias de toda natureza, inclusive verbais. Eu sou extremamente carente”. 

Amaral, Ministro de Jango,
entrega a Reforma Administrativa.
(Foto: www.educaja.com.br)
O marinheiro Amaral Peixoto – O niteroiense Ernâni do Amaral Peixoto (1905-89), engenheiro-geógrafo, Almirante da Marinha do Brasil, foi um político com vasta e riquíssima biografia. Revolucionário em 1930, ex-Interventor no Estado do Rio de Janeiro, de 1939 a 1945, depois, filiado ao PSD, exerceu mandatos de Deputado Federal Constituinte em 1946, Governador do RJ eleito diretamente (1951-4), Ministro de Estado da Viação e Embaixador nos EUA no Governo JK, Ministro do TCU, Ministro Extraordinário da Administração do Governo João Goulart, Deputado Federal pelo MDB e, finalmente, duas vezes Senador, a primeira pelo MDB, a segunda, “biônico”, pelo PDS. Era conhecido e ridicularizado como “Amaral Pé Enxuto”. Segundo seus adversários, apesar de Almirante da Marinha de Guerra do Brasil, jamais se aproximou ou se banhou no mar ou embarcou em um navio, baleeira ou canoa, exceto a barca Rio-Niterói e os barcos chamados “Avisos” da Marinha para viagens político-eleitorais até a Baía da Ilha Grande. Puro humor de bases falsas e depreciador. Pilhéria desmoralizante. A verdade histórica é outra. 

Ernâni do Amaral Peixoto, além de participar de importantes atuações em terra, como militar, e, também a bordo de vasos de guerra, em movimentos tenentistas, por influência do irmão, também militar da Marinha, Augusto do Amaral Peixoto Júnior, revolucionário em 1924 e em 1930, esteve embarcado várias vezes, em exercícios navais, missões de paz e de conflitos armados, desde que se formou na Escola Naval, no Rio, em 1927. O revolucionário, de 1922, 1924 e 1930, então Capitão-de-Mar-e-Guerra, Protógenes Guimarães, depois Ministro da Marinha e Interventor no RJ, com quem Amaral travou contato nos levantes tenentistas, foi, sem dúvida, além do irmão Augusto, o seu grande líder militar e, depois, o padrinho político de Amaral junto a Getúlio Vargas, antes até do Estado Novo. 

Sua primeira viagem de instrução, ainda como guarda-marinha, no ano que recebeu o espadim, deu-se a bordo do cruzador Bahia. No ano seguinte, foi promovido a segundo-tenente e serviu no encouraçado Minas Gerais. Em 1929, primeiro-tenente, e, em 1930, encarregado geral dos aspirantes embarcados no Minas Gerais. Foi imediato do navio mineiro Maria do Couto, participando de operações de adestramento com forças do Exército. Retornou ao Minas Gerais, ficando ligado à direção de tiro junto com Lúcio Meira e Henrique Fleiuss, sendo também secretário do encouraçado, sob o comando de Silvio Noronha. Nesta época, participou de articulações que deflagraram a Revolução de 1930, que depôs Washington Luís e alçou Getúlio Dornelles Vargas (1884-1954) ao poder. 

No Governo Provisório, foi designado Ajudante de Ordens do comandante da Flotilha de Contratorpedeiros, Almirante Otávio Perry, indo servir no cruzador Barroso. Também foi Ajudante de Ordens do Almirante Augusto Burlamaqui, Comandante-em-Chefe da Esquadra, acompanhando-o quando ele foi nomeado Diretor-Geral do Arsenal de Marinha. Em seguida, cumpriu missões como Oficial da Marinha do Brasil na Liga das Nações, na Suíça, como Assistente Naval de José Carlos de Macedo Soares, ao lado dos Almirantes Américo Ferraz e Castro e Álvaro Vasconcelos, e, em outras representações em eventos, na Itália. Após essas missões político-diplomáticas, Amaral foi enviado para a base naval de Spezia, próxima a Gênova, na Itália, embarcando no contratorpedeiro italiano Leone, onde fez observações técnicas e estudou os sistemas de direção de fogo. 

Com a eclosão da Revolução Constitucionalista, em 9 de julho de 1932, Amaral voltou ao Brasil e seguiu, como voluntário, para a frente de combate no setor Paraty,RJ-Cunha,SP, onde foi artilheiro, sob as ordens do irmão Augusto, comandante do batalhão da Marinha no setor, e dos capitães Nelson de Melo e João Alberto Lins de Barros. Coincidentemente, o patronímico “Amaral” é tricentenário em Paraty, rezando a tradição local que o ex-Governador do RJ tem as raízes paterna (Peixoto) e materna (Amaral) no Município Monumento Nacional, pois o avô paterno de Amaral Peixoto, Pedro Evaristo de Almeida Peixoto, foi Presidente da Câmara Municipal do Município, de 1913 a 1915. E muitos paratyenses com o sobrenome “Amaral”, se apresentam como parentes de Ernâni. 

Após a vitória das forças legalistas em 1932, Amaral Peixoto, promovido a capitão-tenente, é designado para servir como Ajudante de Ordens do Comandante da Primeira Divisão Naval, Almirante Ferraz e Castro, seguindo a bordo do navio capitânia da Divisão, o Rio Grande do Sul, para juntar-se a outros vasos de guerra, a fim de bloquear o tráfego do Rio Amazonas e de seus afluentes, garantindo a neutralidade do Brasil no Conflito de Letícia, entre Peru e Colômbia. No final de abril de 1933, por sugestão do Ministro da Marinha, Protógenes Guimarães, a Getúlio Vargas, Amaral Peixoto é nomeado para o cargo de Ajudante de Ordens do Presidente da República, em substituição ao Capitão-Tenente Celso Pestana, morto em acidente automobilístico. Neste cargo, Amaral faz o Curso de Aperfeiçoamento em Armamento, na Escola de Especialização da Marinha. Ernâni, em 1939, casou-se com Alzira Sarmanho Vargas, a Alzirinha, filha de Getúlio, tornando-se seu genro e poderoso conselheiro. 

Como se vê, Amaral Peixoto, passou parte da sua carreira militar embarcado e se aperfeiçoando nas técnicas e artes navais. Ainda em 1933, influenciado pelo irmão Augusto, eleito Deputado Constituinte em 1933, pelo Partido Autonomista, Amaral ingressa na política, filiando-se à agremiação. 

O resto é Política e está nos livros de História e nas enciclopédias. E aí começa outro longo e plural percurso do personagem. Agora, desembarcado. Destaque para a atuação de Amaral Peixoto como interlocutor presencial do Presidente Roosevelt, dos EUA, representando Vargas, nas tratativas da entrada do Brasil na Segunda Guerra contra os países do Eixo. Também influenciou a decisão de Vargas de o Brasil lutar ao lado dos Aliados, além de se pronunciar publicamente e participar de manifestações populares, em pleno Estado Novo, contra o nazifacismo. 

Roberto: talento, liderança e competência política.
(Foto: www.adorocinema.com)
O boêmio e andador Roberto Silveira – Roberto Teixeira da Silveira (1923-61), natural de Bom Jesus do Itabapoana, RJ, o mais jovem Governador do Estado do Rio de Janeiro, eleito em 1958, por uma inimaginável coligação PTB-PSP-UDN contra o PSD de Amaral Peixoto, que tinha como candidato Getúlio Moura, foi um dos mais autênticos e populares líderes políticos do século passado da História do Brasil. Antes de governar os fluminenses, foi duas vezes Deputado Estadual, a primeira como Constituinte em 1946, Secretário do Interior e Justiça do Governador Amaral Peixoto e Vice-Governador de Miguel Couto Filho. Seria, para muitos, “o futuro Presidente da República”, após João Goulart, se o golpe não ocorresse. 

Além de um Homem Público brilhante e extraordinário administrador, era um político muito próximo do povo, gostava de conversar com todos, ouvia muito. Homem de Cultura, fascinado pelas Artes em geral, sua personalidade tinha um aspecto que poucos conheciam. Era um boêmio, mesmo sem álcool, à la Mário Lago, apaixonado por música popular, folclore e serestas. Adorava reunir-se com amigos, mesmo durante o seu governo, em viagens oficiais, para conversar, participar de serestas e ouvir os poetas dizer poemas. Muitas vezes, e eu fui testemunha em algumas, esperava que as comitivas oficiais se recolhessem nas cidades que visitava e, com alguns assessores de maior amizade, “fugia” para a boemia, retornando pela madrugada. Mas isto, poucos viriam a saber. Porém, na hora de cumprir a agenda na manhã seguinte, oito ou nove horas, a que horas fosse, estava lá o Governador Roberto Silveira, impecavelmente trajado, com excelente humor, o seu insuperável carisma, sempre muito simpático, acessível a todos, para cumprir a agenda oficial, seja para fazer uma visita técnica ou político-institucional, participar de uma reunião de trabalho, presidir uma inauguração de uma obra de seu governo etc. 

Outra curiosidade de sua personalidade era a impressionante velocidade com que andava pela Capital, quando necessário, e cidades do interior do RJ, cumprindo compromissos em eventos, onde a sua presença era protagonista. Poucos, entre eles, meu pai, Câmara Torres, à época Deputado Estadual, seu grande e fraterno amigo, que, mesmo com a baixa estatura, conseguia acompanhar o passo de Roberto Silveira. Roberto tinha a rapidez no caminhar tão rara, quanto à inteligência, sensibilidade e capacidade política.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

COMO O CONSUMIDOR BRASILEIRO É BOBO! - 2ª parte

(Foto:questaolegal.blogspot.com.br)
Todos nós somos enganados no comércio, todos os dias. Não falemos nem de falsas promoções, publicidades enganosas. Mas somente da rotina nas compras, cotidianas, normais, regulares. São engodos, trapaças, mentiras, armadilhas, truques, mágicas, crônicas e epidêmicas, institucionalizadas pelo mercado, recepcionadas pela mídia, das quais somos vítimas. São preços de boa-fé, nos quais acreditamos, crentes de que estamos pagando mais barato, “levando vantagens”. Mas, na verdade, estamos sendo ludibriados. Alguns exemplos:

OS FAMOSOS “DESCONTOS” DAS FARMÁCIAS E DROGARIAS – A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos – CMED, órgão ministerial do Governo Federal, estabelece o preço máximo consumidor – PMC – a ser cobrado ao consumidor de todos os medicamentos que têm venda autorizada no mercado. Pois bem. Ao comprar um medicamento em qualquer farmácia ou drogaria do País, quando você manifesta a sua surpresa ou indignação pelo preço cobrado, o balconista ou até mesmo o gerente, treinado, é obrigado a dizer o seguinte: “Nós já estamos dando um ‘desconto’ de tanto, não podemos dar mais. O preço é X, mas a mercadoria, para o senhor (ou para a senhora) é Y, tantos por cento mais barato, um desconto que fazemos para os nossos clientes...” MENTIRA, EMBUSTE, CRIME CONTRA O CONSUMIDOR”. O preço X, do qual fala o funcionário, é O PREÇO DA EMPRESA, UMA ESCOLHA DA EMPRESA, DIANTE O PREÇO MÁXIMO estabelecido pela CMED, a fim de competir com a concorrência. NÃO HÁ DESCONTO ALGUM. PURA FRAUDE! Essa empresa pratica o preço X. A outra, o preço W. A terceira, o preço K... e assim por diante. Não existe desconto algum, mas somente um preço praticado por aquela empresa, compulsoriamente abaixo do preço máximo fixado pela CMED. Se houver “desconto” será a diminuição em alguma percentagem sobre o valor do preço da empresa. Só conheço duas redes nacionais de drogarias, em cujas lojas, os gerentes estão autorizados a dar um real desconto, pequeno, para o consumidor, isto é, abater sobre o preço da empresa. E isso acontece a depender da loja da rede. Portanto, NÃO ACREDITE EM “DESCONTO”. NÃO HÁ DESCONTO ALGUM. O QUE HÁ É O PREÇO DA EMPRESA. E PONTO FINAL.


“CHOCOLATE DE GRAMADO”, DE OUTROS LUGARES, ARTESANAIS, CASEIROS – Mentira. Pura fraude publicitária. A bela cidade gaúcha de Gramado, nunca fabricou chocolates. Nem outras, especialmente do Sudeste e Sul, cantadas em prosa e verso, como alternativas às grandes marcas que estão no mercado. O que se faz na Serra Gaúcha é uma CONFEITARIA DE CHOCOLATE, sobre um produto acabado, comprado das indústrias que, efetivamente, fabricam chocolate: as paulistas Nestlé, Mondelez (Lacta), Hershey´s Brasil (Bauduco e Visconti) e Pan; a mineira Kopenhagen; a gaúcha Neugebauer (a primeira fábrica de chocolates do Brasil, de 1891); as capixabas Garoto e Vitória; a baiana Chocolate Caseiro Ilhéus, entre outras poucas. E por que “poucas”? Porque nem todas as indústrias de chocolate produzem e podem fornecer chocolates como matéria-prima às imponderáveis linhas de confeitarias de chocolate. Isto é, fornecer chocolate em grandes barras ou tijolos meio-amargos ou “brancos”, ou chocolate em pó ou líquido (licores, flavours) que servirão de base a inúmeros produtos. Por que escrevo brancos entre aspas? Porque o “chocolate branco”, na verdade, não é chocolate, pois não possui cacau na sua formulação, na sua receita.

Saudades da carioca Bhering e da paulistana Sönksen, ambas desaparecidas, que produziam chocolates de alta qualidade: pureza, equilíbrio, delícias.

A princípio, é necessário saber que o chocolate nasceu entre os Astecas, e, por extensão, feito e consumido também pelos Maias, em tempos pré-colombianos, e, inicialmente, era uma bebida, exatamente o que a palavra asteca denominava:  xocoatl, tradução: “bebida amarga”. O cacau (cacaualtl) é uma riqueza nativa da Amazônia, do Brasil, que os índios nômades e o jupará ou “macaco da meia-noite”, um bichinho semelhante a um esquilo, após chupar as sementes dos frutos que caíam no solo das florestas, fizeram com que a riqueza chegasse até o México, atravessando toda a América Central. Cultivo tropical perene, a tradição, a Cultura Popular diz que o cacaueiro, a árvore do cacau, que foi “a árvore da vida” na civilização asteca, é delicada e generosa como um grande amor e a mulher amada: “Se bem cuidada, bem tratada, bem cultivada, ela estará sempre bela, frondosa, generosa, dá bons e doces frutos eternamente”. Entre os astecas, as amêndoas de cacau eram moedas. O chocolate era preparado com água, pimenta-da-jamaica, mel e baunilha. No século XVII, os espanhóis trocaram o mel pelo açúcar; no século seguinte, os holandeses criaram o chocolate sólido, em barras; e no século XIX, os suíços adicionaram leite ao chocolate.

Das amêndoas, diretamente, não é feito o chocolate, “o alimento mais completo que existe”, que foi o alimento dos norte-americanos nas duas grandes guerras, tem sido o farnel dos astronautas e dos atletas em todas as Olimpíadas. O caminho do fruto ao chocolate é longo, artesanal, trabalhoso, sofisticado, exige ciência, técnica, percorre várias fases, que podem ser resumidas, no universo rural, na colheita, fermentação e secagem das amêndoas. Elas são processadas, beneficiadas, nas próprias fazendas pelos cacauicultores.  Depois de colhidos nas lavouras, nos cacauais, os frutos dourados dos cacaueiros (theobroma cacao = “alimento dos deuses”, na denominação científica do sueco Linnaeus), são quebrados, as sementes, retiradas manualmente e a polpa que as envolve serve para preparação de doces, geléias, refrescos, sorvetes, ou fornecida ao gado, misturada à ração. Em seguida, as amêndoas passam pelo processo de fermentação, fase fundamental para definição do aroma e sabor do cacau, matéria-prima do chocolate. A secagem ideal das amêndoas, outra fase importantíssima do beneficiamento, deve ser feita ao sol, extirpados fungos e insetos, também retiradas cascas e excessos com o pisoteio a pés descalços pelos trabalhadores, dois processos efetivados em “barcaças”, grandes planos de madeira com tetos móveis sobre trilhos para protegê-las das chuvas.  Ao final do beneficiamento, as amêndoas são armazenadas, acondicionadas em sacos de cinco arrobas cada (60 kg).

Antes de seguirem direto aos portos para embarque e exportação, ou destinadas às indústrias de cacau, amostras das amêndoas são levadas à classificação, postas em categorias de acordo com a sua pureza natural, consistência, forma, cor, peso médio e aroma, por órgãos oficiais ou credenciados. Nas indústrias, setor de alta complexidade e especialização de grandes plantas, máquinas e equipamentos, as amêndoas passam pela torra, moagem e prensagem e são transformadas nos derivados do cacau: pasta ou massa de cacau, primeiro e principal produto, um “cacau integral” ou “líquor”; manteiga de cacau (gordura do cacau), extraída da prensagem da pasta; torta de cacau, blocos do que restou da massa prensada, que retém, ainda, trinta por cento de manteiga; e o pó de cacau, que é a torta pulverizada.

Com esses derivados a sofisticada indústria chocolateira, também altamente especializada em equipamentos, pessoal, donas de receitas exclusivas, algumas centenárias, com segredos industriais milionários etc., fabrica as várias linhas de chocolate (sólidos, em pó e líquidos) e os inúmeros chocolates, nas suas variadas formas, sabores, composições e texturas. Assim, basicamente, o chocolate negro é resultado da mistura da massa de cacau, da manteiga de cacau, do leite e do açúcar; o “chocolate” branco, apenas manteiga de cacau, leite e açúcar; a torta e o pó de cacau são matérias-primas para uma infinidade de chocolates sólidos e líquidos, flavours, achocolatados etc.

COMPOSIÇÃO DO CHOCOLATE - Os chocolates de primeira linha (Godiva, belga, por exemplo; os chocolates alemães, franceses, ingleses e do leste europeu) são resultado de um blend, composto de “cacau Bahia” (originário do Sul da Bahia, aonde chegou em 1746, vindo do Pará), cacau da África ou cacau da Amazônia (ambos com grande teor de gordura) e o “cacau fino do Equador”, fruto de uma cepa nativa, existente também na Venezuela, Colômbia e alguns países caribenhos, de uma árvore ainda mais delicada e vulnerável que o cacaueiro nativo, tradicional. Os chocolates de segunda e terceira linha usam, além de muito açúcar, excessiva quantidade de gorduras vegetais em substituição à manteiga de cacau, ingrediente nobre na formulação do bom chocolate. A leguminosa algaroba, natural do Peru, existente em regiões áridas, inclusive no Nordeste brasileiro, tem sido usada por alguns países (Israel é um exemplo), na tentativa de transformá-la em sucedâneo do cacau na fabricação do “chocolate”. Sem êxito, pois, apesar de alguns traços similares, não consegue tomar o lugar do prestigioso alimento.

Existem fábricas de chocolate em Gramado, Canela, Petrópolis, Itatiaia, Itaipava, Nova Friburgo, Poços de Caldas, Campos do Jordão e outras cidades turísticas, geralmente serranas ou estações d’água? Claro que não. O que existe nesses lugares são confeitarias de chocolate e lojas de chocolate. Mas, perguntariam alguns: quer dizer que não existe “chocolate caseiro” em lugar nenhum? Claro que sim. Mas são indústrias domésticas, pequenas, mínimas, nas fazendas, nas cidades das regiões produtoras da Bahia, Espírito Santo e Amazônia, que fabricam produtos realmente caseiros, isto é, singelos, sem nenhum grau de sofisticação quanto a sabor ou sabores, praticamente massa de cacau integral, amêndoas sem peles, trituradas, torradas e moídas (chocolate amargo), depois misturadas ao leite e ao açúcar. Ou licores de cacau, que é o chocolate puro na sua forma líquida, acima de 35 graus. A exceção é o Chocolate Caseiro Ilhéus, da cidade do mesmo nome na Bahia, que, adotando o empirismo centenário do chocolate doméstico feito na maior região produtora do País, alia a ele alta tecnologia na fabricação de produtos.

O que essas confeitarias de Gramado e suas congêneres fazem é, após derreter os chocolates, desenhar e esculpi-los, criando formas e figuras que se transformam em produtos, definindo inclusive texturas. Aos chocolates meio-amargos comprados dos grandes chocolateiros adicionam e/ou misturam cereais, frutas, biscoitos, doces, balas, confeitos. Armazenam licores e outras bebidas alcoólicas em garrafinhas de chocolate etc.

O ALIMENTO MAIS COMPLETO – Portanto, ao comprar um chocolate, que não seja um Kopenhagen, o melhor do país, ou um Neugebauer, outra marca de excelência e qualidade, ou um Chocolate Caseiro Ilhéus – leia, na embalagem, a composição do produto, atente para as proporções de açúcar e de gorduras de soja e de outros vegetais. Prefira os produtos onde prevaleçam os derivados de cacau, o leite, os mínimos teores de açúcar e, baixos teores, de outras gorduras estranhas ao cacau. Se é saudável consumir os meio-amargos, por possuir menos açúcar, especialmente os diets, por outro lado, às vezes, essa redução é compensada pelo alto teor de gorduras. Os lights diminuem porcentagem de açúcar e gorduras, mas atente se a manteiga de cacau e os demais derivados (pasta/massa ou torta ou pó) estão presentes e se você não está ingerindo muitas gorduras vegetais hidrogenadas (gorduras trans). Por outro lado, não exagere, em uma única vez, no consumo da moda: alta quantidade de cacau, 50%, 60%, 70% em cada barra. O organismo pode reclamar.

O cacau é um alimento riquíssimo em nutrientes, muito denso, forte, contem: magnésio (mais que qualquer outro alimento), ferro (importantíssimo no nosso organismo), cromo (que balanceia o açúcar no sangue), anandamida (endorfina da felicidade, fabricada naturalmente pelo corpo humano, somente encontrada no cacau), theobromina (bactericida que elimina cáries dentárias), antioxidantes (o cacau é o alimento que contém a maior concentração no mundo), manganês (ajuda o ferro na oxigenação do sangue), zinco (fundamental no nosso sistema imunológico, fígado, pâncreas e pele), cobre (essencial ao sangue), vitamina C (o cacau supre em mais de 20 por cento as necessidades do organismo), feniletilamina (PEA, encontrado no cacau cru, produzido pelo nosso corpo quando nos apaixonamos e também importante para a nossa atenção) e serotonina, principal neurotransmissor do corpo humano.

Já o chocolate, primogênito do cacau, misturado ao leite e ao açúcar, contem mais de trezentas substâncias químicas que nos proporcionam prazer, bem-estar, nos fornecem concentração mental e energia. Além da maioria dos elementos encontrados no fruto cru e nas amêndoas beneficiadas, como escrevi acima, o chocolate, contem, ainda, os minerais: potássio, cloro, fósforo, cálcio e sódio, e as vitaminas A, B1, B2, B2, B3 e E.

O consumo per capita de chocolate no Brasil é de apenas 2,5kg por ano, um dos mais baixos do mundo, inferiores aos de todos os países das três Américas. Em todo o mundo, o chocolate é considerado um alimento, normalmente consumido numa pequena quantidade, uma barrinha após as refeições. Aqui, para nós, ele é uma “guloseima”, um supérfluo. Só comemos chocolate na Páscoa, Dia dos Namorados e Natal. E muito, exageradamente. Na década de 1980, minutei projeto no Congresso Nacional para introdução do “chocolate em pó” na merenda escolar e nos farnéis das Forças Armadas. Indefinidos e dissimulados lobbies conseguiram o arquivo da propositura. Também idealizei proposta legislativa para a fixação compulsória do prazo para consumo de qualquer chocolate ou achocolatado. O governo federal de então, sabedor da nossa intenção, felizmente, foi sensato e, mais rápido que o processo legislativo, normatizou a perecibilidade do produto. Hoje qualquer barrinha ou bala de chocolate traz as datas de fabricação e vencimento para consumo. Como vimos, o chocolate é um alimento muito forte, rico em nutrientes e digerido em quantidade pode em exagero ser laxante. Lembremos da nossa infância, do Licor de Cacau Xavier contra as constipações intestinais. Prove, além dos nacionais que recomendei acima, as barras com o máximo de 50% de cacau, meio-amargas, importados do Equador, que há alguns anos lotaram, com preços baixos, as gôndolas dos supermercados. Agora, andam meio sumidos. Chocolate com formulação bem equilibrada e com gosto de cacau.


terça-feira, 29 de novembro de 2016

"Affair" Geddel X Calero: INGENUIDADE E DELINQUÊNCIA. INEXPERIÊNCIA E FRAGILIDADE.

A raposa e o frango
(Foto: Marcelo Camargo Ag. Brasil)
“Nunca, antes, na história deste País”, diria o Lula se capacidade crítica tivesse, foram cometidos tantos deslizes e desatinos seguidos, rapidamente transformados em graves crimes contra a Administração Pública e imenso escândalo que abalou a República, como no episódio palaciano que envolveu o ex-deputado Geddel Vieira Lima e o diplomata Marcelo Calero.

Eis a minha visão do caso, com base, exclusivamente, no depoimento integral do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero à Polícia Federal – PF, feita a 19 de novembro, ao qual tive acesso, e às falas de Geddel e Calero à mídia e, mais, as declarações oficiais do Senhor Presidente da República. Ignoro, não considero as impressões, comentários, opiniões e críticas de jornalistas, parlamentares, outros Ministros do Governo e terceiros, sejam estes últimos pacificadores ou incendiários, voluntariosos ou complacentes.

Não críveis, imprevisíveis, a ingenuidade e o erro repetido e contumaz, logo constituído em crime de Advocacia Administrativa (Art. 321 do Código Penal - CP), do ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Geddel Vieira Lima, em insistir num pleito pessoal, particular, se valendo de uma função pública na qual estava investido, pressionando um colega de Ministério e ameaçando-o, caso não fosse atendido.

Geddel comprara, na planta, um apartamento em um prédio de trinta pavimentos em Salvador, Bahia, numa área onde quase todos os imóveis são tombados. O projeto da obra fora aprovado pela Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN na Bahia, mas, em seguida, questionada pela Presidência Nacional do órgão em Brasília, é embargada, por ferir o contexto urbano colonial e o patrimônio paisagístico da capital baiana, autorizando-se, posteriormente, apenas a construção de treze andares do edifício. Geddel, a princípio, agiu pelos canais normais, através de advogado, junto ao IPHAN, em defesa de seu interesse contrariado. Mas, depois, constatando que a decisão do IPHAN, ouvida a Procuradoria do órgão, que foi pela redução do número de andares do prédio, preferiu, valendo-se do seu poder político, atuar pessoal e agressivamente, em causa própria, abordando, questionando e desafiando o então Ministro da Cultura, ao qual o IPHAN é subordinado. Chegou a dizer a Calero que ele deveria “enquadrar” a Presidente do IPHAN, Kátia Bogéa, que “pediria a cabeça dela, indo falar até com o Presidente da República”.

Por outro lado, ficou evidente a incipiência política e fragilidade administrativa de Calero, que não se portou com a altivez e autoridade de um Ministro de Estado. Mesmo respaldado pelo Presidente da República, não foi firme em manter a posição legalista, não se impôs, como era do seu dever e direito, não resistiu enfim, se desestabilizou emocionalmente e pediu demissão diante de um impasse que ele não criou e no qual agia correta e republicanamente, mesmo de maneira tíbia e juvenil.

A fotografia: uma velha raposa cometendo um crime e um frango, blindado pelo seu cargo, com o mesmo poder institucional da raposa, em pânico, apesar de prestigiado pelo raposão, o Presidente, chefe da raposa e do frango, porém, este, com a inexperiência de um adolescente inseguro. A princípio, não se confunda, aqui, qualquer pedido político, lícito e legal, de conotações políticas ou feito por um político, de interesse pessoal, grupal ou social, com prática de Advocacia Administrativa. Nada há nada de errado ou criminoso um ministro solicitar informações, orientação, ou um roteiro para revisão de uma decisão administrativa a um colega, sobre qualquer questão, mesmo que ela seja privada (e, normalmente, é dirigida ao mundo privado), a ser decidida por um órgão público.

Porém, quando a abordagem de Geddel sobre Calero é autoritária, ameaçando-o, tentando subalternizá-lo e levá-lo a uma decisão sem sustentação legal, que lhe agrada, FORA DA LEI, contrariando os protocolos administrativos recursais, regulares, aí deixamos a normalidade e caímos na delinquência.

Tudo começa com um erro primário, indevido e tolo, de Geddel que, desinformado e sem intermediário confiável, procura um colega de Ministério para pedir um “favor”, o cancelamento ou uma revisão de um ato administrativo, de um órgão subordinado àquele colega, no qual tinha interesse pessoal, particular. É lógico que esse “favor” teria de cumprir todas as exigências legais, normativas. Ou a procura um colega de Ministério para ser seu cúmplice ou comparsa na prática de um crime de Advocacia Administrativa, uma pessoa que, além de reta e incorruptível, não era, e nunca foi, seu amigo ou pessoa de suas relações, o ex-ministro Calero.

Em minha vida, conheci na infância e juventude líderes brilhantes, e, depois, como servidor público, trabalhei com homens públicos admiráveis, probos, políticos de coturno, integérrimos. E, também, com alguns medíocres, negocistas e desprezíveis. Um pedido desse jaez é comum, não apenas em ambientes políticos e públicos, mas em qualquer setor da atividade humana. Senador ou deputado solicitar a um ministro, a uma secretaria ou departamento, de qualquer nível, ou a um presidente de estatal, uma “atenção especial”, “examinar com carinho o processo”, “uma orientação”, “atentar para as minhas razões ou argumentos”, “apelar para a sua sensibilidade e reconhecida competência” etc. etc. – tudo isto é comum, rotineiro. Tudo dentro da Lei, ressalte-se, sem vantagens ou privilégios de qualquer espécie ou dimensão. São “rezas” comuns e rotineiras no mundo político. E também na esfera privada. Presencialmente, por telefone, por e-mail, carta, bilhete, whatsapp. Qualquer cidadão, seja qual for o seu status ou esfera social, política, econômica ou cultural, ministro ou vendedor de cartão de telefone, pode tanto peticionar, requerer informações, revisões, recorrer, bem como agir como descrevi acima, formal ou informalmente. Formalmente é garantia constitucional.

O desarrazoado, o desinteligente, imprudente, absurdo, criminoso, é, uma autoridade pública, valendo-se do cargo, além de pugnar pelo ilegal, pelo “jeitinho brasileiro”, irregular, insólito, requerer ilicitude, pressionar, chantagear, ameaçar. Se alguém assim proceder, configura-se, além de Delito Ético e Corrupção, o crime de “Advocacia Administrativa”. Geddel ameaça, direta e indiretamente, Calero, segundo o depoimento do ex-ministro da Cultura à PF, até com a demissão da Superintendente do IPHAN na Bahia, se o parecer do IPHAN nacional fosse mantido.

A prática, quando legítima, lícita, justificada, legal, normalmente é informal, corriqueira. Mas pode ser formal, cerimoniosa. Equivale, por analogia, se viajarmos a outro território, o Judiciário, por exemplo, quando um advogado entrega no gabinete de um juiz, desembargador ou ministro de tribunal um memorial, acerca de uma causa que defende. Nada há de criminoso ou escandaloso num ato dessa natureza, contanto que seja respeitoso, lícito, de caráter legítimo e com objetivos lícitos. Também nada há de antiético ou criminoso, a verdadeira ação de lobby, regulamentada e comum em vários países, quando empresa, setor, partido político ou corporação procura núcleos decisórios, em qualquer dos poderes do Estado, e tenta influir na análise e conclusão a seu favor, através da argumentação, da persuasão e do convencimento da autoridade pública ou executivo privado acerca de questão que esteja submetida a seu encaminhamento ou decisão.

RESUMO DA ÓPERA – PERSONAGENS, ATUAÇÕES E EXPECTATIVAS

Geddel Vieira Lima – Analisando-se o depoimento de Calero à PF, as próprias entrevistas dele à mídia e gravações telefônicas que o ex-ministro da Cultura promoveu, o ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, pode-se inferir que ele transgrediu a Ética Pública e cometeu crime de Advocacia Administrativa (Arts. 321 do CP). Pediu demissão no dia 25 de novembro, seis dias após o depoimento de Calero à PF.

Marcelo Calero – Suas declarações dão conta de que agiu corretamente, dentro da Lei e das normas aplicáveis pelo IPHAN, não aceitando a influência de Geddel para liberação da obra. Porém abateu-se e se transtornou. Apresentou-se ao Presidente e à sociedade como uma pessoa acuada com as insistentes ameaças de Geddel. Especificamente, no imbróglio, no confronto com Geddel, na sua condição de Ministro da Cultura, foi fraco, inexperiente, juvenil, menor. Entretanto, no processo, no âmbito do MinC, foi ético, competente, correto, teve conduta administrativa e jurídica perfeitas. Acertou ao recepcionar, integralmente, o parecer técnico da Procuradoria do IPHAN que analisou o recurso de Geddel, recomendando a diminuição da altura do prédio, decidindo em definitivo sobre o mérito.

Ao final do primeiro encontro com Temer, que tratou do assunto “Geddel”, o Presidente o tranquilizou sobre a decisão que deveria comunicar ao Chefe da Secretaria, que seria baseada em parecer técnico, “infelizmente não sendo possível atendê-lo”, acresceu o Presidente. E ponto final. Num segundo encontro, quando Temer lhe sugeriu a construção de uma saída, Calero, insolitamente, “sentiu-se bastante desapontado, uma vez que ‘foi advertido’ (? – apóstrofo e interrogação minha), em razão de ter agido sem cometer qualquer tipo de irregularidade; e sentiu-se ‘decepcionado’ (?- outro apóstrofo e interrogação minha) também pelo fato de não ter mais a quem reportar-se a fim de solucionar esta situação, uma vez que o próprio Temer o havia ‘enquadrado’ (? – terceiro apóstrofo e interrogação minha)”. O Presidente não o desapontou, não o advertiu nem o enquadrou, entendimentos completamente equivocados.

Afinal, Calero disse à PF que, então, sua única saída foi apresentar seu pedido de demissão, que ocorreu a 18 de novembro.

Quanto às gravações que Calero fez dos seus diálogos com Geddel e Padilha, não são usuais entre os membros de um Ministério, mas, compreensíveis, pelas circunstâncias. Quanto à única gravação que fez da conversa de Temer com ele, também telefônica, ironicamente a última, que ele a considerou “protocolar”, como comprovadamente o foi, julgo-a sem qualificação moral. Em minha opinião, lamentável, indigna, para não dizer ignominiosa,

Jurema Machado – Presidente Nacional do IPHAN que embargou o empreendimento La vie Ladeira da Barra, prédio onde Geddel comprou o apartamento.

Kátia Bogéa – Presidente que substituiu Jurema, recebeu os advogados de Geddel, recepcionou o recurso pela revisão do embargo, pois constatou que não houve contraditório no processo administrativo, direito de defesa de Geddel. Encaminhou os autos para apreciação da Procuradoria do IPHAN, que decidiu pela redução do gabarito.

Eliseu Padilha – Ministro-Chefe da Casa Civil, inicialmente disse a Calero que, se “a questão estava judicializada, não deveria haver decisão administrativa definitiva a respeito”. Em seguida, “que tentasse construir uma saída com a AGU” - Advocacia Geral da União. Depois, passou a impressão a Calero que desejava preservá-lo no cargo e, mais tarde, perguntou a Calero como Geddel poderia recorrer da decisão do mérito exarada pelo Ministro da Cultura.


Gustavo Rocha – Secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, perguntou se Calero já havia enviado o processo à AGU, insistiu nessa proposta e, por fim, se apresentou, como autorizado pelo Presidente da República, a repetir, pela terceira vez, a pergunta, mesmo depois que Calero comunicou a Temer que não iria mais atuar no processo. Comunicou a Calero que ingressara com um recurso junto à Presidência do IPHAN para reformar a decisão do Ministro da Cultura.

Procuradoria e Procuradores do MinC – A Procuradoria decidiu o recurso de Geddel pela redução do gabarito do prédio. Os procuradores foram chamados à AGU, quando esta considerava que Calero lhe enviara o processo, o que não ocorreu.

Nara de Deus – Chefe de Gabinete de Temer, solidarizou-se, informalmente, com a postura legalista de Calero.

Carlos Henrique Sobral – Chefe de Gabinete de Padilha, figurante sem relevância, que apenas interrogou Calero sobre o prazo recursal que cabia a Geddel.

Grace Mendonça – Ministra-Chefe da AGU, que não chegou a atuar no processo.

Michel Temer – Inicialmente, tranqüilizou Calero, aconselhando-o a responder a Geddel que, por razões técnicas, não foi possível atendê-lo. Mas, num seguindo encontro, disse a Calero que a sua decisão estaria criando “dificuldades operacionais” em seu Gabinete. Recomendou-lhe, então, que tentasse construir uma saída para que o processo fosse encaminhado à AGU, porque a Ministra Grace Mendonça teria uma solução. Em outra oportunidade, tentando aplacar a ansiedade, impaciência e a intolerância de Calero quanto a pressões que estava sofrendo, justificou, apascentando-o: “... a Política tinha dessas coisas, esse tipo de pressão”. Calero sentiu-se “desapontado” (SIC) e depois recebeu os acautelamentos de Temer como se este o tivesse “enquadrado” (SIC). Em minha opinião, pura insegurança púbere e pretexto para deixar o cargo. No mesmo dia, no início da noite, presencialmente, disse ao Presidente que “estava se demitindo”, no que o Presidente tentou demovê-lo da atitude. No dia seguinte, 18 de novembro, recebeu ligação de Calero dizendo que “entregaria o seu cargo”. Temer, mais uma vez, lhe disse que não “via razões para isto”, mas Calero retrucou dizendo que “as teria”. E tudo foi consumado. A cortina se fecha.

MEU JULGAMENTO: Não houve crime comum ou crime de responsabilidade de Temer. O Presidente, apenas, tentou dirimir, promover um entendimento entre dois de seus ministros, mesmo que o interesse de uma das partes fosse privado, particular. O Presidente nada arbitrou, porque nada falou, encaminhou ou decidiu no processo, inclusive sugeriu a Calero o socorro da AGU, que é um órgão, não apenas de defesa de interesse da União, mas de assessoramento e aconselhamento jurídico do Presidente (Decreto nº 7.392, de 13.12.2010).

COM A PALAVRA, A COMISSÃO DE ÉTICA PÚBLICA DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, A POLÍCIA FEDERAL E O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

COMO O CONSUMIDOR BRASILEIRO É BOBO!

(Foto: acidezmental.xpg.uol.com.br)
CACHAÇAS: O MÍNIMO QUE VOCÊ DEVE SABER PARA NÃO SER ENGANADO – Temos no mercado mais de 6 mil marcas de Cachaça, uma bebida nascida no Brasil em 1532 e que só pode ser produzida com esta nome, aqui. Mas apenas, talvez, cerca de uma dezena, em cada tipo/denominação legal e mercadológica da bebida, possua “Excelência Sensorial”, isto é, receba uma nota de 8.0 a 9.9, porque uma nota 10 acontece raramente, no intervalo de anos. Cachaça de Excelência Sensorial é aquela limpa, translúcida, uniforme na cor. Que exibe aroma sedutor, agradável, sensual, de bagaço de cana, do ambiente do engenho, que lembre ao consumidor, ao aspirá-la, rapadura, melado ou os bolos caseiros feitos com melado. Na boca, tenha unidade química (a água não se separa do álcool), seja uma água ardente de fato, provoque uma excitante e agradável ardência, uma “doce ardência”, apesar do açúcar da cana ter se transformado em álcool. Trata-se da “memória do açúcar”, da qual trato nos meus livros. Que, afinal, seja saborosa, mesmo na graduação máxima (54o, o mínimo é 38o) permitida pela lei, a sua ingestão, macia, percorrendo o esôfago até o estômago com suavidade, prazerosamente, sem raspar, sem arranhões, sem incômodos. Gostosa, criando o desejo por outra dose. E a sua digestibilidade? Confortável, gozosa, sem desconfortos, longe do mal-estar.

Nenhuma cachaça industrial tem “Excelência Sensorial” (51, Velho Barreiro, 88, Sagatiba, Chave de Ouro, Pitu, Ypióca, Caninha da Roça etc.). Possui, sim, legalidade química, apenas. Mas satisfação dos sentidos, nenhuma. Não é um plano diabólico, proposital, fraudulento, da indústria. Não. A cachaça industrial é ruim, todas, sem exceção, por natureza, porque o próprio modo de fabricação proporciona essa qualificação. Somente conduz à condição de “ruim”. Do seu regime de produção somente pode resultar uma cachaça plena de defeitos sensoriais e sem qualquer virtude.  É como ir à praia em Petrópolis ou esquiar no gelo em Terezina. Virtuosidade sensorial impossível.

E as Cachaças Artesanais? Quase cem cento delas não possuem “Excelência Sensorial”. Mesmo fabricadas sob o processo ideal, correto, quatrocentenário, quase sempre, com ética, honestidade, dedicação, esmero, elas, em sua esmagadora maioria, são apenas medianas sensorialmente, possuem alguma ou algumas virtudes, ostentando notas de 6.0 a 7.9. Ou são ruins (com notas 0 a 5.9), isto é, sem qualquer virtude, somente defeitos, como as industriais. E por quê? “Saber fazer Cachaça” é uma arte, uma técnica, resultado de uma Sabedoria secular, que poucos a detém, transmitida, atávica e teluricamente, entre gerações de uma família. Não adianta divulgar máxima conformidade legal ao produzir Cachaça, possuir equipamentos de última geração, praticar gestão sustentável, usar cana de alto grau de sacarose, matéria-prima orgânica e outros aspectos positivos do artesanato – se o alambiqueiro não sabe produzir uma Cachaça de Excelência Sensorial. É, para os chocolateiros, como se não detivessem receita correta e não soubessem executá-la. Já os atos socioculturais de beber e degustar são diversos e autônomos. O primeiro prescinde de sabedoria, estudo, perseverança, ciência, técnica, experiência, treinamento. Já o segundo é uma técnica e uma arte, como “fazer Cachaça” e “envelhecer Cachaça”.

Legalmente, há cinco tipos/denominações de Cachaças: “Cachaça” sem adjetivos, que pode ser a crua/fresca (engarrafada dias, semanas, um ou dois meses no máximo após “pingar” na ponta do alambique) e a armazenada/descansada (repousada de três a vinte quatro meses em recipiente de madeira quase neutra com capacidade superior a 700 litros); “Cachaça Envelhecida” (somente cinquenta por cento do conteúdo da garrafa são envelhecidos em recipientes de madeira com capacidade de até 700 litros (a outra metade pode ser cachaça ou cachaças novas, de diferentes idades); “Cachaça Premium” (100 por cento envelhecida, por um ano, em recipientes de madeira com capacidade de até 700 litros); “Cachaça Extra Premium” (100 por cento envelhecida, por três anos, em recipientes de madeira com capacidade de até 700 litros); e “Reserva Especial” (processo e recipiente de envelhecimento diferenciado, na madeira e/ou no tempo de envelhecimento, em recipiente de madeira de até 700 litros, distinto de todas as outras de certa destilaria (na verdade, na minha opinião, um diversionismo tolo e desonesto de quem não sabe fazer, nem envelhecer Cachaça). Mais de noventa por cento dos rótulos e contrarrótulos das Cachaças encontrados no mercado desinformam, são irregulares, incompletos, possuem alguma ilegalidade ou são fraudulentos. A fiscalização de bebidas no Brasil é extremamente deficiente, precária, quase totalmente ausente. Nas destilarias, nas distribuidoras e no comércio varejista.

Nenhuma cachaça com mais de dois anos de descanso/armazenamento e com mais de quatro anos de envelhecimento – prestam. Não se iluda. Se isto ocorrer, você estará bebendo um álcool com madeira ou um extrato de madeira com álcool. Ou coisa alguma. Uma loção pós-barba ou uma água de colônia com álcool além do normal. Descanso/armazenamento e envelhecimento são dois processos distintos, dois quais resultam duas bebidas diferentes, de perfis químicos e sensoriais diversos, para serem consumidos em momentos diversos. Existem madeiras apropriadas ao descanso/armazenamento, como o amendoim, o jequitibá-rosa, freijó e a amburana da caatinga (do sertão, do Nordeste, oposta à utilizada em Minas), que devem ser preparadas, curtidas para tal processo; e, também, madeiras adequadas ao envelhecimento que devem, igualmente, ser preparadas, curtidas, como o carvalho (este passando pela tropicalização), o araribá, o ipê, o bálsamo, o eucalipto, a amburana, a castanheira etc., pois a maioria delas é agressiva e aromática e devem ser mitigadas, no mínimo adequadas, nessas características. O fazer Cachaça, descansar/armazenar e o envelhecer Cachaça são processos diversos, autônomos, técnicas e artes diferentes. A madeira jamais deve ultrapassar de 15% a 20% do edifício sensorial da bebida. Mesmo envelhecida, a Cachaça deve permanecer Cachaça, isto é, o aroma de bagaço de cana e o gosto de Cachaça devem prevalecer sobre outros poucos aromas e gostos. A memória do degustador deve continuar remetendo-o à rapadura, ao melado, aos bolos e doces feitos à base de melado, ao ambiente do engenho.

Lembre-se que o acepipe, o petisco, o prato, a iguaria que acompanha qualquer tipo de Cachaça chama-se e significa bota-gosto, alimento que se harmoniza com o destilado. “Tira-gosto” é um termo errôneo, uma agressão à inteligência, usado para anular os efeitos gustativos de um remédio ruim, de qualquer alimento pavoroso, petisco que se come para “tirar o gosto” do que é detestável, vomitativo, nauseabundo. Cada tipo de Cachaça, aliado a cada momento, tem o seu bota-gosto adequado, ideal, perfeito. Meus livros dedicam capítulos inteiros aos bota-gostos da Cachaça.

Saiba mais sobre tipos/denominações, processos e regimes de produção; acerca do conceito de Excelência Sensorial da Cachaça; Análise Sensorial e Análise do Produto; beber e degustar amador e profissionalmente; quais os serviços prestados por um Consultor Técnico Especialista em Cachaça e por um Degustador Profissional de Cachaças; e conheça outras fontes necessárias para saber identificar corretamente, para não ser enganado, escolher e comprar, com segurança, uma Cachaça de Excelência Sensorial no endereço: http://www.ilhaverde.net/rankings.htm  E, claro, continuar ou começar a beber com sabedoria, inteligência, moderação e prazer.


QUANDO SE ADQUIRE UM PRODUTO COM DEFEITO OU QUE NÃO FUNCIONA – Uma barbaridade que vem sendo praticada todos os dias, especialmente pelas grandes lojas, grandes redes de eletrodomésticos, é contrariar, frontal, audaciosa, escancarada e escandalosamente, o Código de Defesa do Consumidor – CDC, e Código Civil - CC, ao ignorar a reclamação do consumidor quando ocorre a compra de um bem adquirido com defeito, que não funciona ou é imprestável. Tudo vigora contra o cidadão, tudo contra o consumidor. Está virando rotina esse comércio poderoso e criminoso de mandar o consumidor ludibriado procurar a indústria que fabricou o produto, imputar à indústria a responsabilidade pelo não funcionamento ou pelo mal funcionamento, parcial ou total, deficiente ou precário, de um aparelho de ar condicionado, de uma geladeira, de um aparelho de som, de uma máquina de lavar. Ora, a relação comercial, de compra e venda, se dá entre o consumidor e o comércio varejista, a loja que vendeu o produto, e não entre o cidadão que pagou pelo produto e a marca do produto, entre o cidadão e o fabricante que forneceu a mercadoria à loja, entre o consumidor e a marca do produto. Inacreditável como os gerentes dessas lojas são, exaustiva e eficientemente, treinados e pagos para não cumprir o CDC e o CC, vomitando uma verborragia mentirosa, ilegal, cruel e sádica, construída sobre a farsa e a fraude, aplicando as melhores técnicas ilusionistas e dissimuladoras de vendas, a fim de enganar o consumidor, praticar a burla e o furto qualificado, solerte e maquiado com as formas e cores de “normas” inexistentes e “regras internas” injurídicas e imorais. Exercitam uma ginástica de falsas ações e omissões que martirizam o consumidor, levando-o à loucura, a todos os prejuízos financeiros, materiais e danos morais imagináveis.

E quais são as ações amorais, ilícitas, ilegais, de cinismo e delinquência praticadas, de maneira contumaz, por essas grandes lojas e redes? Começam oferecendo o que não podem entregar o que não possuem nem na loja, nem no “estoque”, ou querem “empurrar” um produto parecido ao que está exposto, mas não exatamente o que o consumidor pretende adquirir. Em seguida, vem o embuste da “garantia”, que elas, mais tarde, havendo problemas com o produto, insistem em transferir para o fabricante do produto, que não participa da relação de comércio entre a loja e o consumidor. Porém, na hora de vender, prometem o céu, falam maravilhas, dizem ao comprador que ele tem garantia e, mais, que a garantia pode ser estendida, pagando o consumidor por isto uma quantia irrisória a mais. Porém, na maioria das vezes, e depois, a loja jamais se responsabiliza por nada, como determina o CDC e o CC. Não entrega o produto conforme o combinado, não cumpre as cláusulas do acordo comercial, não observa os prazos para troca e devolução, estabelecidos no CDC, foge às suas obrigações que estão no contrato e na Lei. Por outro lado, na maioria das vezes, saindo a mercadoria nova da loja, ainda sem nenhum uso, o consumidor torna-se uma vítima em potencial do crime: chegando à casa, se o produto não funciona como deveria, o comércio costuma se omitir de responsabilidade, não troca o aparelho sem uso e joga o consumidor nas garras da indústria, através de uma assistência técnica autorizada, credenciada, treinada a chantagear, a enganar. A loja não troca o produto, como determina o CDC no prazo de sete dias, nem devolve o dinheiro. Esse preposto, na maioria das vezes, desonesto e pago para trapacear, geralmente age assim (e eu fui uma vítima dessa conduta ilícita), que pode ser resumida na seguinte chantagem: “Ou o senhor aceita a troca da peça no produto novo que o senhor comprou, peça que pode se substituída em 48 horas em virtude de um defeito de fábrica; ou, se preferir um produto novo, como o que o senhor comprou, terá de esperar trinta dias para chegar de São Paulo”, cidade que, parece, fica em outra galáxia. “Escolha, basbaque!” E aí o consumidor, para evitar mais aborrecimentos e despesas na nossa Justiça injusta, de burrocracia e velocidade medieval, sem alternativa, na compra de um ar condicionado no mês de dezembro no Rio, por exemplo, aceita a substituição da peça em um produto que não usou. Fizeram isto comigo a Casas Bahia e a Cônsul, mesmo eu sendo um cliente de mais de meio século da marca. Hoje, claro, um ex-cliente da rede e da marca. Nesta semana, um ministro do STF disse em entrevista a uma rádio: “O adágio popular ‘A justiça tarda, mas não falha’ é falso, irreal. O correto é admitir que ‘A justiça que tarda é falha”. E o PROCOM? Outra mentira, outra brincadeirinha para enganar os incautos.

“DOZE VEZES SEM JUROS” – Puro engodo. Mentira consentida pela Lei e pelo Estado. Nem com inflação mensal de 0,000001%, numa economia de mercado, de livre iniciativa e concorrência e lucros, jamais se parcela um pagamento, se possibilita prolongar uma venda sem custos, esticar a liquidação de uma dívida em uma dezena ou uma dúzia de mensalidades sem juros. Os juros estão embutidos no preço. Todos sabem que sim, o comerciante jura que não e não tem a honestidade, a coragem e a transparência dos anos 1950 de anunciar: “À vista é tanto, a prazo os juros são x por cento ao mês; ao final, o senhor pagará um valor total y”. Você pode renunciar a compra, mas o comerciante não negocia, não reduz se tentar pagar à vista, se nega a dizer e a praticar a verdade.

“E PRA BEBER, DOUTOR?” – Um absurdo centenário no Brasil e, talvez em todo o mundo, é a clássica e asnal pergunta do maître ou do garçom que, simultânea ou imediatamente após a entrega do cardápio ao consumidor que sentou à mesa, antes de o cliente ler a lista de pratos disponíveis, arrisca: “E pra beber, doutor?” Uma agressão à inteligência e ao convívio. Não há como pedir drinque ou abrideira, ou bebida para acompanhar a refeição, se o cliente ainda não decidiu se haverá entrada ou não, se ainda não escolheu o que irá comer. A entrada, se houver, e o prato ou pratos deverão estar ligados, combinados, harmonizados entre si, assim como a bebida de entrada, se houver, e aquela que acompanhará a refeição. Tudo vai depender do que o cliente irá pedir para comer. Ele só poderá pedir a bebida ou as bebidas após escolher a comida. Se ele tiver um mínimo de educação, de informação, ele jamais beberá uma Cachaça com massa, nem um conhaque no verão antes de uma maionese de lagosta. Outra estupidez é comer amendoim, castanha de caju, biscoitos, com Cachaça. Uma agressão aos sentidos, a si próprio, à organoléptica, à lógica de comer e beber bem. O cliente irá pedir um drinque que combine com a entrada ou com o prato que escolher. E irá optar por um vinho, uma cerveja ou mesmo uma Cachaça para acompanhar o prato, a depender da natureza, categoria, características e sabor da comida. A pergunta “E pra beber, doutor?” somente será conveniente, adequada e oportuna após a escolha do prato. Portanto, rejeite, ignore, não responda a tola e indevida pergunta do maître ou do garçom que não conhece o seu ofício: o de bem servir, orientando o cliente no prazer da boa mesa. Finja que não ouviu o insulto. Após escolher o que vai comer, chame-o e diga o que quer beber.


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

MEMÓRIAS ATUALIZADAS

Tenho 66 anos. Não sou um idoso pronto ou prestes a escrever memórias ou a minha autobiografia. Porém, filho de um jornalista, educador, advogado e político, um Homem Público de prestígio, de muitas ideias e obras; e, como jornalista, iniciando atividades intelectuais na juventude, especialmente como Humorista, com colunas em muitos veículos do País; e, antes disto, desde a infância, com a oportunidade de estar em ambientes do poder, artísticos e culturais – tive, enfim, o privilégio de conhecer e conviver com personalidades da vida brasileira muito cedo, testemunhar episódios marcantes e, até, participar de alguns deles. Abaixo, alguns registros de fatos, hábitos e costumes, de caráter moral, social, histórico e cultural, incluindo as mudanças científicas e tecnológicas, ocorridos durante a minha vida, que, eventualmente, anotei nos últimos anos. Nada de vaidade, cabotinismo ou façanhas de herói. Apenas o exercício da vocação de repórter, crítico e historiador, e alguns milagres ou coincidências. Mas, principalmente, o desejo provocador de levar aos meus leitores à reflexão sobre os contrapontos, as disparidades e diferenças entre o passado recente e a atualidade.



EU SOU DO TEMPO...


que se tomava a bênção aos pais, avós, tios e padrinhos.

que não se sentava à mesa sem camisa.

que se chamava os mais velhos de “senhor” e “senhora”.

que não se tomava banho, se cortava o cabelo ou se fazia a barba depois das refeições.

que cada um tinha a sua escova de dente.

que não se dizia a pai e mãe: “mentira”, “mentiroso” ou “mentirosa”.

que se penteava o cabelo antes de dormir.

que se previa que os achocolatados Kresto e Toddy iriam concorrer no mercado, o que não ocorreu.

que os guardanapos eram de linho.

que as crianças usavam boinas no inverno.

(Foto:http://carissimascatrevagens.blogspot.com.br) 
que existia os produtos de higiene Eucalol, Vale quanto pesa e Odol.

que, quando se pretendia namorar uma garota, a senha era: “Eu quero falar com você”. Estava feito o pedido.

que não se contestava as explicações dos pais quanto a dificuldades financeiras da família.

que não se misturava manga com leite.

que se cedia lugar nos transportes públicos às mulheres, pessoas mais velhas, grávidas e deficientes físicos.

que se respeitavam os professores.

que escuro dava medo.

que não se comia carne bovina da segunda-feira após o Domingo de Ramos até o Sábado de Aleluia.

que se apaixonava, platônica ou sensualmente, por belas mulheres casadas, honestíssimas e impossíveis.

dos excelentes sorvetes da Kibon vendidos em casquinhas ou em potes, nas padarias e mercearias; e das carrocinhas amarelas da Kibon onde se podia comprar os maravilhosos picolés: o imbatível Chica-bon de chocolate, o Já-já de coco, o Kalu de limão, o Ton-bon de abacaxi e o supremo Eski-bon; as guloseimas Ki-Bamba, Ki-Coisa; Ki-Leite, Ki-Coco, Ki-Passas, Lingote, Delicado, Amendoim coberto de chocolate e a Jujuba. Tudo isto são lembranças gustativas impossíveis de serem recuperadas.

que a missa era em latim e eu, como aspirante a coroinha num colégio de padres, tive de decorar as falas do acólito na língua de Cícero em 48 horas, sob pena de ser excluído do grupo de meninos que queriam ajudar na liturgia.

que só se dançava de rosto colado com a namorada ou com alguma garota assanhada.

que garota “galinha” não ia pra cama, mas somente “sarrava”, isto é, era parceira em libidinagens.

que somente as prostitutas, algumas empregadas domésticas e mulheres livres (mal casadas ou solteiras fogosas incontroláveis) transavam com os rapazes.

que se beijava nas faces apenas: pai, mãe, irmãos, avós, tios, primas, professora (primária) e madrinha de batismo. Na boca, namorada e mulheres de aventuras.

que, com caxumba, não se saía da cama e se pisava descalço no chão frio, porque o testículo "subia" e você ficava sexualmente "estéril".

da Casa Neno, que “Serve bem ao grande e ao pequeno” e de À Colegial, loja de uniformes escolares, ambas de Niterói.

do maravilhoso refrigerante Taí, de sabor indefinido, gosto de recreio escolar; nos anos 1980-90, ressuscita-se a marca, porém bem distante do refrigerante mágico da década de 1960, que nem lembrava aquele líquido neutro, com pouco açúcar, uma magia pré-púbere.

da Niterói, antes da ponte, quase cidade do interior, sem crimes, autossuficiente, da qual você somente precisaria sair dela para uma consulta com um médico de grande fama ou para fazer uma compra extraordinária de uma produto no centro do Rio ou em Copacabana, se Niterói não o possuíse.

do Príncipe, que “veste hoje o homem de amanhã”.

das Rádios Relógio e Mayrink Veiga.

da Casa Santa Branca, da Imperatriz das Sedas e da Tecidos Kalil M. Gebara.

dos inúmeros restaurantes árabes, de comida boa e barata, que povoavam todo o Rio.

da cerveja gélida do Safita, na Glória, com bota-gostos e pratos árabes.

da “VARIG, VARIG, VARIG”.

do antigo Bar Luiz, seu chope, queijo prato e bota-gostos insuperáveis.

da Panair do Brasil,

da banana split das Lojas Americanas.

da noite em Copacabana, com dezenas de casas com música ao vivo, apresentando os maiores astros da Música Brasileira.

da Sloper, da Exposição, da Casa José Silva, da Ducal, da Casa Masson, e das confeitarias Cavé, Manon, Colombo (antiga, não a atual) e Gerbô.

dos cinemas da Tijuca e da Cinelândia.

do Beco da Fome, na Prado Júnior.

das Cantinas Sorrento e La Fiorentina (a falecida).

das Casas Pernambucanas que advertia: "Não adianta bater / Eu não deixo você entrar / As Casas Pernambucanas / É que vão aquecer o meu lar..."

dos Lenços Paramount “... e ainda são perfumados”.

do “Melhoral, Melhoral, é melhor e não faz mal”.

do jingle: “Se lâmpada queimar /não adianta reclamar / nem bater o pé / O que resolve / é ter sempre à mão / lâmpada GE...

que havia “No ar, mais um caravelle da Cruzeiro do Sul / E, a bordo, tudo azul”.

do Banco Irmãos Guimarães – BIG, de portugueses, que distribuíam parte dos lucros da empresa com seus empregados; o escriturário do BIG tinha casa própria e carro.

do Banco Nacional “O banco que está ao seu lado”, e seu jingle do Natal de 1971, criação de Edson Borges, o Passarinho: “Quero ver você não chorar não olhar pra trás / Nem se arrepender do que faz / Quero ver o amor vencer mas se a dor nascer / Você resistir e sorrir / Se você pode ser assim tão enorme assim / Eu vou crer / Que o natal existe, que ninguém é triste / E no mundo há sempre amor / Bom natal um feliz natal / Muito amor e paz pra você”.

dos Programas: PRK-30, com Lauro Borges e Castro Barbosa; Lyra de Xopotó, com Paulo Roberto; César de Alencar; Balança, mas não cai, com Paulo Gracindo e Brandão Filho; das novelas O Anjo; Jerônimo, o herói do sertão e Bianca; e a locutora da Rádio anunciava: “o creme dental Colgate, o criador dos mais belos sorrisos e Palmolive, o sabonete embelezador da mais alta qualidade que existe, apresentam...”

de “Romário – o homem-dicionário”, que não era jogador de futebol, mas sabia, de cor, um dicionário inteiro da Língua Portuguesa e respondia a perguntas em programas de auditório.

dos Trigêmeos Vocalistas que se apresentavam na TV e sopravam flautim com ar saído das narinas.

Angelita Martinez
(Foto: Acervo Marcelo Câmara)
das vedetes, lindas e perfeitas, curvilíneas, sem plásticas e sem academia, com corpos femininos, sólidos e roliços, sem braços de pugilista, nem pernas de zagueiro central: Angelita Martinez e Virgínia Lane.

que “depois do sol, quem ilumina o seu lar é a Galeria Silvestre”.

do Bazar Francês, Rua da Carioca, nº 5: “Brinquedo pra mim e pra vocês”.

do programa Musicas na Passarela, da Rádio Mundial: “música azul”, “música verde”, “música grená” etc.

do programa Hoje é dia de rock, na Mayrink Veiga, com Jair de Taumaturgo.

que a Rádio Jornal do Brasil lançava as vanguardas da MPB, como as composições da Bossa Nova, de Newton Mendonça e Tom Jobim, e, mais tarde, da Tropicália, de Caetano e Gil.

das Estampas Eucalol.

das revistas Seleções (Reader's Digest) e das femininas A Cigarra e Querida.

que Jorge Veiga, Ademilde Fonseca, Ivon Curi, Ângela Maria, Jorge Goulart, Nora Ney, Blecaute, a Orquestra Tabajara, de Severino Araújo, Stelinha Egg, Cauby Peixoto, Dalva de Oliveira, Jackson do Pandeiro e Almira, Vicente Celestino, Elizeth Cardoso, Aracy de Almeida, Bené Nunes, Carolina Cardoso de Menezes, Orlando Silva, as Irmãs Batista (Dircinha e Linda), Sérgio Murilo, Zezé Gonzaga, Nelson Gonçalves, Conjunto Farroupilha, Dilermando Reis, Cely Campelo, Nilo Sérgio, Maysa, Bob Nelson, Leny Eversong, Fafá Lemos, Marinês e sua Turma, Luiz Gonzaga, Adelaide Chiozzo, Luiz Vieira, Marlene, Edu da Gaita, Elza Soares, Dick Farney, Silvinha Telles, Silvio Cesar, Tia Amélia, Altamiro Carrilho, Claudete Soares, Nilo Sérgio, Zezé Gonzaga e Waldir Calmon – tocavam no rádio.

que se rezava pela manhã e ao deitar.

que um padre era facilmente identificável num grupo de leigos ou de rufiões bêbados e descompostos.

que os advogados, promotores e defensores públicos escreviam corretamente e falavam bem, e os juízes, respeitabilíssimos e equilibrados, eram cultos, exibiam erudição.

que se lavavam as mãos antes das refeições e se usava bidê como a melhor higiene.

que os meninos, amigos, caminhavam abraçados, e as meninas, de mãos dadas.

que mulher usava bolero, anágua e combinação, e, formavam pares nos bailes, na falta de cavalheiros.

que levar palmadas dos pais e ficar de castigo não levavam os filhos, mais tarde adultos, a terapias.

que se beijava, pedindo bênção, as mãos dos padres, bispos e cardeais.

que, nos clubes, se levava a dama até a mesa ao final da dança.

que a tulipa do chope tinha a espessura de uma casca de ovo e o queijo prato era saboroso.

que não ganhar um brinquedo que os pais não podiam dar não provocava distúrbios psicanalíticos, nem faziam os filhos sair de casa.

que se dizia “balaustre”, “balaustrada”, 'bureaux"; se fazia rol de roupas para a lavadeira; se areava panelas; as costureiras cerziam e chuleavam; se usava Alginex, Elixir Paregórico, água vegeto mineral, pedra pome; e aos bebês chorosos era dado Luminaleta.

Chocolate surge na capital paulista
em 1888, do empreendedorismo
da Senhora Alwine Sophia Sönksen
(Foto: www.saopauloantiga.com.br)
que o melhor chocolate era o Sönksen e se comprava, em grandes barras, próximo a Itatiaia, na Dutra, no Alemão, na divisa entre o Rio de São Paulo.

que se ia a baile, principalmente, para dançar; e muito; uma garota conquistada era o melhor dos mundos.

que o católico ia à missa aos domingos e dias santos, comungava regularmente, ou, ao menos, uma vez por ano, na Páscoa da Ressurreição, e tinha o seu padre confessor.

da manteiga feita de nata de leite de vaca, batida à mão.

dos chocolates Bebê e balas Tofee, da Bhering, indústria localizada no bairro de Santo Cristo, na Cidade do Rio de Janeiro, a Capital do Brasil.

E do chocolate Refeição, da Neugebauer.

que se convivia com o sentimento de culpa e se administrava a depressão, buscando-se a reflexão através da oração, o diálogo com os mais velhos, especialmente pelos que já passaram por isso, e  se tentava a autoanálise.



EU ALCANCEI...

Ø  escarradeiras nos banheiros domésticos.

Ø  bonde, trólebus e lotação no Rio; e "carro de praça" sem "relógio" em Niterói.

Ø  Emilinha Borba bonita, insinuante, de “tomara que caia”, sem plásticas, de vestido branco rodado, diáfana, com seguranças ao seu redor, recebendo cachês lunáticos.

Ø  a theca Dana de Teffé (nascida Dana Edita Fischerova) e o advogado mineiro Leopoldo Heitor de Andrade Mendes namorando no bar do Hotel Fazenda da Grama, em Rio Claro, RJ, no início dos anos 1960.

Mário Peixoto, autor do argumento, 
roteiro, cenários, produtor e diretor
  de Limite (1931),  considerado
  "o melhor filme brasileiro
 de todos os tempos".
(Foto: www.adorocinema.com)
Ø  o genial cineasta, crítico e escritor Mário Peixoto (Bruxelas, 1908), criador do clássico Limite, no cais de Angra dos Reis, septuagenário, anonimamente, de bermuda branca, óculos escuros, chapéu de palha, saltando, lépido, para uma baleeira que o deixaria na Praia do Morcego, na Ilha Grande, adquirida por seu pai em 1938, e onde ele passou a viver a partir de 1966, na mesma casa que foi do pirata Juan Lorenzo, no Século XVIII; era amigo de meu pai, Câmara Torres e descendente dos famosos Breves, família de Mangaratiba; Mário vivia solitário, meditando e escrevendo cinema, crítica cinematográfica e poesia; à época, depois de inúmeros projetos inacabados, tendo seus argumentos, roteiros e cenografias inviabilizadas, extraviadas e furtadas, o artista, ignorado pelos governos no propósito de transformar o imóvel em um museu, tentava vendê-lo, o que fez anos depois, indo morar, modestamente, num quarto de hotel no centro de Angra; morre em 1992, aos 83 anos, no seu apartamento em Copacabana, no Rio, também deixado pelo pai.

Ø  Jacy Campos fazendo o primeiro talk show da TV brasileira, na falecida TV Tupi, Canal 6, do Rio, no programa Meio-Dia, que, além das entrevistas e shows ao vivo, transmitia reportagens exclusivas.

Ø  (e adorava) maionese caseira, feita à mão, batida com a mistura de gema de ovo, azeite e sal.

Ø  na década de 1950, em Niterói, RJ, duplas de muares puxando carroças que recolhiam lixos das ruas e das residências.

Ø  o programa Alô Querida!, com a belíssima Eva Wilma e John Herbert, casal na vida e na arte, na extinta TV Tupi, do Rio.

Ø  guardas-noturnos, vigilantes e ativos, soprando apitos, cumprindo rondas nas ruas de Niterói, RJ.

Ø  o ator Orlando Drummond e a atriz Nádia Maria, a Marilinha, abrindo ou fechando o programa de humor Boate do Ali Babá e os quarenta garçons, toda sexta-feira à noite, na falecida TV Tupi, do Rio.

Ø  o compositor e cantor Erasmo Carlos em início de carreira, quase que diariamente, nos alvores dos anos 1960, no programa Rancho do Paulo Bob, nos estúdios da Rádio Federal de Niterói, caitituando o seu primeiro compacto.



GENTE, EU...

Ø  assisti a uma palestra de Fidel Castro, na década de 1980, cinco metros à minha frente, num auditório em Brasília, sobre a realidade de Cuba, História e Política internacional.

Ø   estive ao lado de Adhemar de Barros, em 1954, quando candidato à Presidência, como sempre obeso, alegre e loquaz, sentado na varanda da minha casa em Angra dos Reis.


Ø  eu assistia ao Circo Bom Brill, com Carequinha, Fred, Zumbi e Meio-Quilo, na TV Tupi, Canal 6, às 19h das quartas-feiras; e o Circo do Arrelia, na TV Rio, Canal 13, às segundas. Na Tupi, assistia, também, Clube do Titio Hélio, com Hélio Ribeiro e seus desenhos animados; Clube do Guri, ao meio-dia a cada domingo, apresentado por Collid Filho, que revelou as crianças Sônia Delfino, Wanderléia, Rosemary e Leny Andrade; Aula de Inglês, com Gladys; Grande Teatro da Imperatriz das Sedas, ao vivo, com Procópio Ferreira, Fernanda Montenegro e outros astros de primeira grandeza; Festival Trol de Teatro Infantil, às 14h de cada domingo, com Zilka Salaberry, Paulo Padilha, Ida Gomes, Roberto de Cleto, Edson Silva, Fábio Sabag e outros craques. Na TV Rio, Falando francamente, programa de entrevistas políticas com Arnaldo Nogueira (antes por outro âncora), deputado federal pela UDN, e a Grande Resenha Facit, depois na Globo, apresentada por Luiz Mendes (Botafogo), com Armando Nogueira (idem, de terno e gravata), Nelson Rodrigues (Flu), José Maria Scassa (Fla), Hans Hennigsen (“o marinheiro sueco”), Vitorino Vieira (Vasco), o artilheiro Ademir, o Queixada; depois entrou o americano Achiles Chirol; havia, ainda, um botafoguense de terno e gravata borboleta, de família árabe, do qual o nome não me recordo. Na TV Continental, Canal 9, com sede nas Laranjeiras, das Organizações Rubens Berardo (depois Vice-Governador de Negrão de Lima na GB; morreu assassinado em casa); eu era expectador assíduo do programa de Gilson Amado tratando de temas da Educação e Cultura. 

Ø  tomei a minha primeira pinga aos seis anos, uma Graúna, de Paraty, RJ, marca extinta na década de 1960; nunca mais deixei de beber.

Ø  bebi, e muito, com grandes personalidades da Cultura Brasileira, como o compositor Nelson Cavaquinho; o diretor de teatro Ziembiński; os cineastas Nelson Pereira dos Santos e Walter Lima Júnior; o antropólogo Darcy Ribeiro; os grandes músicos e compositores Codó, Luiz Bandeira, Silveira, (compositor da obra-prima Canção do nosso amor), Carlos Lyra, Roberto Menescal e Juquinha Stockler (o baterista predileto de Newton Mendonça, Tom Jobim e João Gilberto), além do pianista, compositor e maestro Geraldo Mendonça; e o físico nuclear Bautista Vidal, pioneiro das energias alternativas no Brasil.

Ø  cruzei com Nara Leão e Cacá Diegues, em lua-de-mel, namorando nas madrugadas, pelas ruas coloniais de Paraty, RJ.

Ø  fui recebido, com o meu filho, de seis anos, por João Paulo I, em audiência reservada, em 1980, na Nunciatura Apostólica do Vaticano, em Brasília.

Marcelo, aos dez anos, em 1960, numa viagem de lancha,
entre Angra e Paraty, com o Governador Roberto Silveira.
(Foto Acervo Marcelo Câmara)
Ø  participei, aos oito anos, dos comícios das eleições de 1958 para governador do RJ, ao lado do candidato Roberto Silveira (PTB), à época, considerado por muitos o futuro Presidente da República, se não partisse com apenas 37 anos, vítima de desastre aéreo; e, em seguida, integrei suas caravanas oficiais como governador em várias viagens pelo Extremo Sul do Estado do Rio de Janeiro.

Ø  vi Adhemar de Barros Filho, jovem, rico, antes de entrar para a política, atlético, de maillot de bain de lastex, fazendo pesca submarina em Angra dos Reis na década de 1950.


Ø  tive como costureira das minhas camisas de menino, sob medida, até os seis anos, em Angra dos Reis, Dona Zizinha, mãe do grande sambista e cantor carioca Joel de Almeida, da dupla Joel e Gaúcho, que lançou Roberto Carlos em disco pela primeira vez, no final dos anos 1950, cantando Bossa Nova, para competir com João Gilberto. Não deu certo. Roberto partiu pra outra com muito sucesso.

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