segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

VERDADES POUCO CONHECIDAS SOBRE POLÍTICOS BRASILEIROS

O exilado Celso Furtado – O consagrado economista e professor paraibano, nascido em Pombal, Celso Monteiro Furtado (1920-2004), expedicionário da FEB, Bacharel em Direito e Doutor em Economia pela Sorbonne; criador e duas vezes Superintendente da SUDENE, Diretor do então BNDES, primeiro Ministro do Planejamento do Brasil, intelectual consagrado internacionalmente, viveu exilado em Paris, lecionando e pesquisando na Sorbonne e em outras universidades e instituições dos EUA e da Europa, no período de 1965 a 1979. Quando era visitado por brasileiros em Paris, recebia-os, acreditem, falando francês. É autor de Formação Econômica do Brasil, uma das obras mais importantes, livro-referência, para quem quer conhecer o País. Inteligente, culto, mestre brilhante, pensador do Brasil e formulador da Economia, administrador notável – Celso foi um dos homens mais valorosos e vaidosos da História Política Brasileira. Com ele disputaram o Troféu Rempli de soi-même no Século XX, com conteúdo, estofo, justificadamente, e, por isto, vaidosos podiam ser: Darcy Ribeiro, Fernando Henrique Cardoso e Paulo Brossard. Medíocres, “cheios de vento”, “fazendo gênero”, Aloysio Chaves (Senador PDS-PA, 1979-87) e Fábio Feldman (Deputado Federal PMDB e PSDB-SP 1987-95). Entre aqueles, os "justicados", e estes, os "vazios", está o "punhos de renda" Luiz Vianna Filho, intelectual valoroso, de obras, é verdade, porém, para mim, sem os louros e as loas tão altas que lhe foram dadas em vida e que ainda são cantadas em sua memória. Darcy Ribeiro não escondia a sua vaidade. Disse-me mais de uma vez: “A minha vaidade é resultado da minha fragilidade, da minha pequenez, das minhas carências. Eu preciso de carinho, de afagos. Por isto solicito tanto reconhecimentos, gestos ternos, carícias de toda natureza, inclusive verbais. Eu sou extremamente carente”. 

Amaral, Ministro de Jango,
entrega a Reforma Administrativa.
(Foto: www.educaja.com.br)
O marinheiro Amaral Peixoto – O niteroiense Ernâni do Amaral Peixoto (1905-89), engenheiro-geógrafo, Almirante da Marinha do Brasil, foi um político com vasta e riquíssima biografia. Revolucionário em 1930, ex-Interventor no Estado do Rio de Janeiro, de 1939 a 1945, depois, filiado ao PSD, exerceu mandatos de Deputado Federal Constituinte em 1946, Governador do RJ eleito diretamente (1951-4), Ministro de Estado da Viação e Embaixador nos EUA no Governo JK, Ministro do TCU, Ministro Extraordinário da Administração do Governo João Goulart, Deputado Federal pelo MDB e, finalmente, duas vezes Senador, a primeira pelo MDB, a segunda, “biônico”, pelo PDS. Era conhecido e ridicularizado como “Amaral Pé Enxuto”. Segundo seus adversários, apesar de Almirante da Marinha de Guerra do Brasil, jamais se aproximou ou se banhou no mar ou embarcou em um navio, baleeira ou canoa, exceto a barca Rio-Niterói e os barcos chamados “Avisos” da Marinha para viagens político-eleitorais até a Baía da Ilha Grande. Puro humor de bases falsas e depreciador. Pilhéria desmoralizante. A verdade histórica é outra. 

Ernâni do Amaral Peixoto, além de participar de importantes atuações em terra, como militar, e, também a bordo de vasos de guerra, em movimentos tenentistas, por influência do irmão, também militar da Marinha, Augusto do Amaral Peixoto Júnior, revolucionário em 1924 e em 1930, esteve embarcado várias vezes, em exercícios navais, missões de paz e de conflitos armados, desde que se formou na Escola Naval, no Rio, em 1927. O revolucionário, de 1922, 1924 e 1930, então Capitão-de-Mar-e-Guerra, Protógenes Guimarães, depois Ministro da Marinha e Interventor no RJ, com quem Amaral travou contato nos levantes tenentistas, foi, sem dúvida, além do irmão Augusto, o seu grande líder militar e, depois, o padrinho político de Amaral junto a Getúlio Vargas, antes até do Estado Novo. 

Sua primeira viagem de instrução, ainda como guarda-marinha, no ano que recebeu o espadim, deu-se a bordo do cruzador Bahia. No ano seguinte, foi promovido a segundo-tenente e serviu no encouraçado Minas Gerais. Em 1929, primeiro-tenente, e, em 1930, encarregado geral dos aspirantes embarcados no Minas Gerais. Foi imediato do navio mineiro Maria do Couto, participando de operações de adestramento com forças do Exército. Retornou ao Minas Gerais, ficando ligado à direção de tiro junto com Lúcio Meira e Henrique Fleiuss, sendo também secretário do encouraçado, sob o comando de Silvio Noronha. Nesta época, participou de articulações que deflagraram a Revolução de 1930, que depôs Washington Luís e alçou Getúlio Dornelles Vargas (1884-1954) ao poder. 

No Governo Provisório, foi designado Ajudante de Ordens do comandante da Flotilha de Contratorpedeiros, Almirante Otávio Perry, indo servir no cruzador Barroso. Também foi Ajudante de Ordens do Almirante Augusto Burlamaqui, Comandante-em-Chefe da Esquadra, acompanhando-o quando ele foi nomeado Diretor-Geral do Arsenal de Marinha. Em seguida, cumpriu missões como Oficial da Marinha do Brasil na Liga das Nações, na Suíça, como Assistente Naval de José Carlos de Macedo Soares, ao lado dos Almirantes Américo Ferraz e Castro e Álvaro Vasconcelos, e, em outras representações em eventos, na Itália. Após essas missões político-diplomáticas, Amaral foi enviado para a base naval de Spezia, próxima a Gênova, na Itália, embarcando no contratorpedeiro italiano Leone, onde fez observações técnicas e estudou os sistemas de direção de fogo. 

Com a eclosão da Revolução Constitucionalista, em 9 de julho de 1932, Amaral voltou ao Brasil e seguiu, como voluntário, para a frente de combate no setor Paraty,RJ-Cunha,SP, onde foi artilheiro, sob as ordens do irmão Augusto, comandante do batalhão da Marinha no setor, e dos capitães Nelson de Melo e João Alberto Lins de Barros. Coincidentemente, o patronímico “Amaral” é tricentenário em Paraty, rezando a tradição local que o ex-Governador do RJ tem as raízes paterna (Peixoto) e materna (Amaral) no Município Monumento Nacional, pois o avô paterno de Amaral Peixoto, Pedro Evaristo de Almeida Peixoto, foi Presidente da Câmara Municipal do Município, de 1913 a 1915. E muitos paratyenses com o sobrenome “Amaral”, se apresentam como parentes de Ernâni. 

Após a vitória das forças legalistas em 1932, Amaral Peixoto, promovido a capitão-tenente, é designado para servir como Ajudante de Ordens do Comandante da Primeira Divisão Naval, Almirante Ferraz e Castro, seguindo a bordo do navio capitânia da Divisão, o Rio Grande do Sul, para juntar-se a outros vasos de guerra, a fim de bloquear o tráfego do Rio Amazonas e de seus afluentes, garantindo a neutralidade do Brasil no Conflito de Letícia, entre Peru e Colômbia. No final de abril de 1933, por sugestão do Ministro da Marinha, Protógenes Guimarães, a Getúlio Vargas, Amaral Peixoto é nomeado para o cargo de Ajudante de Ordens do Presidente da República, em substituição ao Capitão-Tenente Celso Pestana, morto em acidente automobilístico. Neste cargo, Amaral faz o Curso de Aperfeiçoamento em Armamento, na Escola de Especialização da Marinha. Ernâni, em 1939, casou-se com Alzira Sarmanho Vargas, a Alzirinha, filha de Getúlio, tornando-se seu genro e poderoso conselheiro. 

Como se vê, Amaral Peixoto, passou parte da sua carreira militar embarcado e se aperfeiçoando nas técnicas e artes navais. Ainda em 1933, influenciado pelo irmão Augusto, eleito Deputado Constituinte em 1933, pelo Partido Autonomista, Amaral ingressa na política, filiando-se à agremiação. 

O resto é Política e está nos livros de História e nas enciclopédias. E aí começa outro longo e plural percurso do personagem. Agora, desembarcado. Destaque para a atuação de Amaral Peixoto como interlocutor presencial do Presidente Roosevelt, dos EUA, representando Vargas, nas tratativas da entrada do Brasil na Segunda Guerra contra os países do Eixo. Também influenciou a decisão de Vargas de o Brasil lutar ao lado dos Aliados, além de se pronunciar publicamente e participar de manifestações populares, em pleno Estado Novo, contra o nazifacismo. 

Roberto: talento, liderança e competência política.
(Foto: www.adorocinema.com)
O boêmio e andador Roberto Silveira – Roberto Teixeira da Silveira (1923-61), natural de Bom Jesus do Itabapoana, RJ, o mais jovem Governador do Estado do Rio de Janeiro, eleito em 1958, por uma inimaginável coligação PTB-PSP-UDN contra o PSD de Amaral Peixoto, que tinha como candidato Getúlio Moura, foi um dos mais autênticos e populares líderes políticos do século passado da História do Brasil. Antes de governar os fluminenses, foi duas vezes Deputado Estadual, a primeira como Constituinte em 1946, Secretário do Interior e Justiça do Governador Amaral Peixoto e Vice-Governador de Miguel Couto Filho. Seria, para muitos, “o futuro Presidente da República”, após João Goulart, se o golpe não ocorresse. 

Além de um Homem Público brilhante e extraordinário administrador, era um político muito próximo do povo, gostava de conversar com todos, ouvia muito. Homem de Cultura, fascinado pelas Artes em geral, sua personalidade tinha um aspecto que poucos conheciam. Era um boêmio, mesmo sem álcool, à la Mário Lago, apaixonado por música popular, folclore e serestas. Adorava reunir-se com amigos, mesmo durante o seu governo, em viagens oficiais, para conversar, participar de serestas e ouvir os poetas dizer poemas. Muitas vezes, e eu fui testemunha em algumas, esperava que as comitivas oficiais se recolhessem nas cidades que visitava e, com alguns assessores de maior amizade, “fugia” para a boemia, retornando pela madrugada. Mas isto, poucos viriam a saber. Porém, na hora de cumprir a agenda na manhã seguinte, oito ou nove horas, a que horas fosse, estava lá o Governador Roberto Silveira, impecavelmente trajado, com excelente humor, o seu insuperável carisma, sempre muito simpático, acessível a todos, para cumprir a agenda oficial, seja para fazer uma visita técnica ou político-institucional, participar de uma reunião de trabalho, presidir uma inauguração de uma obra de seu governo etc. 

Outra curiosidade de sua personalidade era a impressionante velocidade com que andava pela Capital, quando necessário, e cidades do interior do RJ, cumprindo compromissos em eventos, onde a sua presença era protagonista. Poucos, entre eles, meu pai, Câmara Torres, à época Deputado Estadual, seu grande e fraterno amigo, que, mesmo com a baixa estatura, conseguia acompanhar o passo de Roberto Silveira. Roberto tinha a rapidez no caminhar tão rara, quanto à inteligência, sensibilidade e capacidade política.

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