quarta-feira, 27 de junho de 2018

MARCELO CÂMARA TOMA POSSE NA AFL


Evento de 21.6.2018

Marcelo Câmara toma posse
na Cadeira 37 de Raul Pompeia
da Academia Fluminense de Letras

 
(Foto: Aldo Pessanha)



Com a leitura da Oração-Ensaio intitulada Raul Pompeia: O Gênio feito Homem, tomou posse, na Academia Fluminense de Letras – AFL, na Cadeira nº 37, patronímica de Raul Pompeia, o jornalista, escritor, editor e consultor cultural MARCELO Nóbrega da CÂMARA Torres. Com seis livros publicados e centenas de trabalhos nas áreas da Criação e Crítica Cultural, Literatura, Humor, Artes, Ciências Sociais, História, Política e Estética, e uma exitosa carreira como realizador em diversas áreas da Cultura, Marcelo é terceiro intelectual nascido em Angra dos Reis, terra de Raul D’Ávila Pompeia, a ingressar na instituição. O novo imortal foi saudado pelo decano da AFL, o poeta, crítico e editor literário Sávio Soares de Sousa. A Sessão Solene da AFL foi presidida por Waldenir de Bragança, que comanda a instituição e que possui cento e um anos de atividades. O Presidente entregou a Marcelo Câmara o Diploma de Membro Titular da Classe de Letras. Compareceu à cerimônia o professor da Universidade Federal Fluminense, Jayro José Xavier, de quem Marcelo Câmara foi aluno e que o qualifica seu “mestre na Literatura”. Jayro José Xavier é considerado pela crítica brasileira e ibérica um dos mais importantes poetas e ensaístas contemporâneos. Também estiveram presentes à tarde-noite na sede da AFL o professor Domingos Marques, representando o Deputado Estadual e Vice-Prefeito de Niterói, Comte Bittencourt, vários acadêmicos, parentes do empossado e amigos seus de juventude. O novo imortal recebeu a beca e a medalha, símbolos que identificam a condição de Membro da AFL, de sua esposa, a Professora Luiza Petersen.

Raul Pompeia foi considerado pelo Prêmio Nobel de Literatura, José Saramago, recentemente falecido, o maior escritor brasileiro, ao lado de Machado de Assis. Pompeia é o autor do insuperável romance O Ateneu – crônica de saudades, publicado em 1888, com dezenas de edições aqui e no exterior e considerado, unanimemente, uma obra-prima da Literatura Brasileira e Universal. Também é o autor, entre centenas de outros trabalhos publicados, das preciosas Canções sem metro, pequenos textos de poesia em prosa, admirados, internacionalmente, pelo tratamento e escritura ousada e única dos temas e do refinado e extraordinário estilo. Suas obras completas foram publicadas em dez volumes pelo MEC, pela editora Civilização Brasileira e a Prefeitura de Angra dos Reis, em 1981. Organizadas por Afrânio Coutinho, após vinte anos de trabalho, incluem, além das obras citadas, as reflexões filosóficas de Alma Morta ou Cartas para o Futuro; novelas, contos e crônicas; artigos e escritos políticos; perfis, crítica literária e artística; correspondência e poesia; caderno de notas íntimas e pensamentos; a reportagem Excursão Ministerial; A Mão de Luís Gama e dispersos; ilustrações, desenhos e caricaturas; outros textos até então inéditos, avulsos e fotografias.

Na sua longa, profunda e emocionada Oração-ensaio, Marcelo falou da convivência com Sávio Soares de Sousa durante a sua juventude; da sua formação, percurso literário e cultural do qual o pai, Câmara Torres, foi a principal influência, o personagem principal da sua vida; discorreu sobre a vida e a obra de seus antecessores na cadeira 37: o fundador Adelino Magalhães, Alípio Mendes e Calheiros Cruz; percorreu toda a existência de Raul Pompeia, destacando traços da sua personalidade e caráter do gênio angrense; e fez uma ampla análise crítica estilística da obra do grande escritor. Raul Pompeia (1863-1895) foi um artista anticonservador, revolucionário, de vanguarda, nacionalista, pleno, múltiplo, de elevadas e extraordinárias expressões, em diversas áreas da Cultura, produzindo em vários gêneros e formas literárias. Além de romancista, jornalista (repórter, redator e editor), cronista, contista, desenhista, caricaturista, foi um publicista notável, grande orador, ideólogo e militante contra a Escravidão e pela implantação da República. Também foi professor de Estética, Mitologia e diretor da Escola Nacional de Belas Artes, da Biblioteca Nacional e diretor de Estatística da União, embrião do atual IBGE. Vítima de infâmias e calúnias, insultado num ambiente agitado por paixões e lutas políticas, deprimido, sentindo-se ofendido em sua honra de cidadão, artista e profissional da Imprensa e da Literatura, suicidou-se, no auge da sua carreira, aos trinta e dois anos. Foi um dos intelectuais mais eruditos e produtivos da sociedade brasileira de seu tempo. Atualmente, Pompeia e sua diversificada obra são muito pesquisados e discutidos, objetos de teses em universidades brasileiras e estrangeiras e em centros de estudos brasileiros em diversos países do mundo.



quarta-feira, 30 de maio de 2018

CACHAÇA E CHORO - MC & MC - MARCELO CÂMARA & MAURÍCIO CARRILHO



Evento de 26.4.2018

CACHAÇA E CHORO
MC & MC
MARCELO CÂMARA & MAURÍCIO CARRILHO 


Marcelo: o maior especialista em Cachaça (Foto: Bruno Lira)


Maurício: um gênio do Choro (Foto: Renata Green Divulgação/O Globo)

“Maravilhosa” é o adjetivo para qualificar a noite de 26 de abril último no Instituto Casa do Choro, no Centro do Rio de Janeiro, quando Marcelo Câmara lançou dois livros: Ficha de Degustação de Cachaças Marcelo Câmara, e a segunda edição, revista e ampliada (um novo livro), de Cachaça – Prazer Brasileiro, ambos pela Editora Mauad X, e ocorreu a primeira apresentação dos Choros Alambicanos, de Maurício Carrilho, pelo músico e convidados, no dia do aniversário do músico, compositor e arranjador. A noite foi considerada “histórica, belíssima” pelos que dela participaram. Uma hora antes do lançamento dos livros de Marcelo Câmara, assistiu-se aos Choros Alambicanos, um recital sublime, impecável, apresentado por Maurício e músicos seus amigos, entre eles, Paulo Aragão e Luciana Rabello, que foram abraçá-lo no dia do seu aniversário. O show constituiu-se num extraordinário espetáculo de Música Brasileira no Auditório Radamés Gnattali, completamente lotado. Exibiram-se alguns dos nossos melhores músicos, o “primeiro time” do Choro do País.

As criações de Maurício foram inspiradas, construídas e receberam os nomes das raríssimas Cachaças de Excelência Sensorial que estão nos rankings de Marcelo Câmara (www.ilhaverde.net/rankings), e irão integrar um CD a ser finalizado brevemente. Os magníficos choros são belíssimas obras de arte que homenagearam outras fascinantes obras de arte, Cachaças primorosas, na presença de seus produtores, que compareceram ao show e ao lançamento dos livros, oriundos de cinco Estados. As nove melhores Cachaças do mundo, no julgamento profissional de Marcelo Câmara, são as seguintes: Coqueiro, Corisco, Engenho D’Ouro, de Paraty, RJ; Mato Dentro, de São Luiz do Paraitinga, e Engenho São Luiz, de Lençois Paulista, de SP; Tabaroa, de Bichinho, e Biquinha, de Coronel Murta, MG; Serra Limpa, de Duas Estradas, PB; e Samanaú, de Caicó, RN. Essas Cachaças foram degustadas enquanto Marcelo Câmara autografava os livros.

Vanguardas

Jornalista, escritor, editor e consultor cultural, autor de seis livros, três sobre a bebida nacional, e de centenas de trabalhos publicados em várias áreas da Cultura, Marcelo Câmara costuma dizer que "a História e a Cultura Brasileira, incluindo a sua Música, “são encharcadas, ao menos umedecidas, pela doce e sensual sabor da Cachaça. O Povo Brasileiro sempre lutou, conspirou, brindou, celebrou as suas vitórias, refletiu e lamentou as suas derrotas, com a Cachaça, que, como o Choro, constitui uma das mais autênticas, ricas e belas expressões da nacionalidade, da nossa Cultura”. Marcelo é primo e discípulo do maior dos Cachaçólogos, do mais erudito, o que maior sabedoria científica exibe sobre a bebida nacional – o escritor, historiador, sociólogo, antropólogo e folclorista, professor Luís da Câmara Cascudo (1899-1986).

A Ficha de Degustação de Cachaças Marcelo Câmara, como os outros livros de Marcelo, é obra de vanguarda, pioneira, ousada, única no mundo. Por isto, o nome do autor está no título do livro, a fim de lhe dar identidade, exclusividade, vinculá-la ao pensamento e fortuna crítica que há décadas Marcelo Câmara expõe acerca do destilado. As outras bebidas (uísque, vinho, cerveja, rum, conhaque, gin, tequila etc.) sempre possuíram cada uma, as suas de fichas de degustação, instrumentos de análise e julgamento das suas virtudes e defeitos, da sua qualidade sensorial. Para a Cachaça, o especialista criou, há mais de vinte anos, uma ficha de degustação, a primeira, inicialmente com cerca de vinte quesitos de informação e avaliação, que vem sendo utilizada no País e no exterior.

Nesse novo livro, Marcelo informa, didaticamente, quais são as características sensoriais da Cachaça, explica os quesitos que constroem o edifício, o complexo sensorial da bebida brasileira, qual o valor de cada um deles, por que eles são importantes para qualificar se uma Cachaça tem Excelência Sensorial (conceito criado por ele), é mediana ou ruim. Em seguida, o livro traz 10 “fichas nuas”, isto é, dezenas de quesitos sem explicações, a fim de que o leitor-degustador faça as suas opções e comente – com base na pedagogia, na explanação da primeira parte do livro, em bases técnico-científicas e legais, valores, princípios, fundamentos e referências culturais – acerca da identidade, aparência/cor, aroma e sabor de cada Cachaça a ser degustada.

Marcelo autografa para a Família França, amigos de Paraty.
(Foto: Casa do Choro)

Cachaça – Prazer Brasileiro, o outro livro lançado na Casa do Choro, é uma segunda edição, revista e ampliada, daquela que é tida como a melhor obra – básica, mais informativa e crítica – sobre a Cachaça. A primeira edição do livro esteve esgotada por cinco anos, e foi legendado pelo mercado como “A pequena bíblia da Cachaça”, pois se trata de um livro indispensável, rico, fundamental para quem quer ingressar no fantástico mundo econômico, socioantropológico e poético da bebida brasileira. “Tem de tudo um pouco”, dizem os críticos: história, sociologia, economia, política, cultura, linguagem, folclore, artes, política, psicologia social, religiosidade, comportamento etc. Marcelo explica: “Essa segunda edição é, praticamente, um novo livro, mais volumoso e amplo, mais profundo, ainda mais crítico no estudo e tratamento dos temas, especialmente naqueles relativos à História, à secular discriminação e preconceitos contra a Cachaça e à personalidade e exuberância sensorial da bebida. Destrói ficções e mentiras que povoam a mídia e livros de gente neófita e néscia, geralmente apenas bebedores, que amam outras bebidas e se arriscam a deitar lições, sem vivência e conhecimento, sobre a Cachaça. E o pior é que tolices sobre a Cachaça circulam pela Internet e ganham crédito e repercussão entre internautas interessados, ingênuos e bem intencionados”.

Choros feitos de Cachaça

As criações de Maurício foram inspiradas, construídas e receberam os nomes das raríssimas Cachaças que estão nos rankings de Marcelo Câmara. Os magníficos choros são belíssimas obras de arte que homenagearam outras fascinantes obras de arte, Cachaças primorosas, na presença de seus produtores, que compareceram ao show e ao Lançamento, oriundos de cinco Estados. Jornalista, escritor e consultor cultural, Marcelo Câmara é considerado, internacionalmente, “o maior especialista em Cachaça”, ostenta mais de cinquenta anos de realizações, vivências e convivências no universo do destilado nacional. Cachaçólogo (estudioso da bebida), pingófilo (amante e bebedor da boa pinga), consultor de Cachaças que atende à produção e ao mercado, do plantio da cana ao consumo do destilado, atua como Degustador Profissional de Cachaças, o primeiro a se profissionalizar no mundo, o único com atividade regular no mercado.

Marcelo e Maurício são amigos, pingófilos militantes, refinados, e apaixonados pela Música Brasileira, especialmente pelo Choro, identidades que os aproximaram. Maurício Carrilho é professor e vice-presidente da Casa do Choro, instituição dirigida pela cavaquinista, compositora e produtora Luciana Rabello, personalidade da vida cultural carioca, que, há décadas, se dedica à educação musical, preservação e divulgação da música brasileira e carioca, especialmente o Choro. Maurício, ainda, apresentou, no show do dia 26 de abril, mais cinco choros, entre eles os que reverenciam Paraty, o mais tradicional e célebre centro de Excelência, produtor de Cachaça há mais de quatro séculos, e duas célebres Cachaças, marcas extintas, de Paraty: Azuladinha e Vamos Nessa.

As atividades da Casa do Choro objetivam a formação de plateias e de músicos profissionais, bem como manutenção, conservação e divulgação de acervos, catalogação, registro, estudo, preservação e divulgação da memória musical nacional. A Casa reúne dezenas de professores consagrados e possui mais de 1 mil alunos, se contar com a Escola Portátil de Música – EPM, um dos seus departamentos, que reúne, todos os sábados, no campus da Uni-Rio, num grande ensaio informal, aos pés do Morro da Urca, centenas de alunos, iniciantes, formados e veteranos, amadores e profissionais. São quarenta professores ministrando aulas teóricas e práticas de diversos instrumentos, cursos teóricos e cursos especiais, além das aulas de apreciação musical e a roda de choro. Centenas de candidatos procuram se matricular a cada ano, atraídos pela proposta inédita de promover a educação musical por meio da linguagem do Choro. O objetivo da EPM é dar ao aluno fundamentos educacionais, profissionais, sociais e emocionais, para que ele possa trilhar uma carreira de sucesso e uma vida produtiva como artista e como cidadão.

MARCELO CÂMARA NA AFL


Notícia de 20.3.2018

MARCELO CÂMARA NA AFL

O jornalista, escritor, editor e consultor Cultural, Marcelo Câmara, teve o seu nome aprovado, por unanimidade, pela Assembleia Geral da Academia Fluminense de Letras – AFL, na Sessão do último dia 15 de março, para integrar, na Classe de Letras, a centenária Instituição Cultural, a fim de ocupar a Cadeira 37, que tem como Patrono o genial RAUL D’Ávila POMPEIA, angrense, considerado, internacionalmente, o maior escritor da Literatura Brasileira, ao lado de Machado de Assis. A eleição foi fundamentada em Parecer, também unânime, da Comissão de Admissão, que analisou e a recomendou ao Plenário, com base na biografia, obras publicadas e curriculum intelectual e cultural de Marcelo. “A minha alegria multiplica-se porque ocupo a Cadeira nº 1, patronímica do mesmo escritor, no Ateneu Angrense de Letras e Artes – AALA, desde a sua fundação, na minha terra, Angra dos Reis” – manifestou-se o eleito. “Em toda a história da Instituição”, orgulhosamente destaca Marcelo Câmara, “sou o terceiro angrense a ingressar na AFL: na primeira metade do século passado, brilhou o teatrólogo e jornalista Quaresma Júnior; na segunda, pontuou o jornalista e historiador Alípio Mendes, fundador do AALA”.

Fundada em 1917, reconhecida pela Lei Estadual 7599, do mesmo ano, a Academia Fluminense de Letras é, na sua categoria, o mais antigo sodalício do gênero, a mais antiga Casa de Letras estadual em atividade contínua no Brasil. Também é considerada pela Academia Brasileira de Letras – ABL “a Academia de Letras oficial do Estado do Rio de Janeiro”, e reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, órgão da ONU. Em 2017, foi celebrado o Centenário da AFL, quando um amplo programa cultural foi cumprido (eventos de arte, encontros de instituições culturais, concursos, etc.), com destaques para: a Sessão Solene em comemoração à Efeméride realizada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, por iniciativa dos Deputados Comte Bittencourt e Waldeck Carneiro; a realização em Niterói do I Congresso Brasileiro de Academias de Letras; e um estande que homenageou a AFL na abertura da Bienal do Livro 2017 na Cidade do Rio de Janeiro.

Pela AFL passaram grandes personalidades da Literatura, do Jornalismo, do Direito, da História, das Ciências Sociais, da Política, da Ciência, enfim, da Intelectualidade fluminense e nacional. Entre estes, podemos citar: Olavo Bastos, Múcio Paixão, Carlos Maul, Elói Pontes, Adelino Magalhães, Oliveira Viana (membro da ABL), Ismael Coutinho, Levi Carneiro (membro da ABL), Alberto Lamego, Júlio Salusse, Luiz Lamego, Agenor de Roure, Celso Kelly, Nelson Rebel, Everardo Beckhauser, Prado Kelly, Hamilton Nogueira, Thiers Martins Moreira, Heitor Gurgel, João Rodrigues de Oliveira, Vasconcelos Torres, Brígido Tinoco, Lacerda Nogueira, Jacy Pacheco, Raul de Oliveira Rodrigues, Artur de Almeida Torres, Newton Perissé Duarte, Rubens Falcão, Dayl de Almeida, Paulo de Almeida Campos, Xavier Placer, Geraldo Bezerra de Menezes, Alberto Lamego, José Cândido de Carvalho (membro da ABL), Alberto Torres, Marcos Almir Madeira (membro e Presidente da ABL), Maria Alice Barroso, Câmara Torres, Ângelo Longo, Luís Antônio Pimentel, Enéas Marzano, Lyad de Almeida e Emmanuel de Bragança Macedo Soares.

Pertencem, atualmente, à AFL, entre outros, o crítico e poeta Sávio Soares de Souza (decano da Academia); o filósofo Tarcísio Padilha e o escritor Marco Luchesi, ambos membros da ABL; o professor José Raimundo Martins Romêo, ex- Reitor da UFF; o jornalista e escritor Marcelo Cerqueira, a romancista Sara Rifer e o professor Aníbal de Bragança, ex-coordenador da Fundação Biblioteca Nacional. A AFL é presidida pelo médico, professor universitário, ensaísta, escritor, administrador cultural e ex-político, Waldenir de Bragança. Desde 1934, a AFL possui a sua sede própria num belo e imponente edifício à Praça da República, no Centro de Niterói, RJ. A posse de Marcelo Câmara está marcada para o dia 21 de junho de 2018.

domingo, 15 de outubro de 2017

DIAS DE INFÂNCIA, MEMÓRIA DA FAZENDA DO FUNDÃO: OBRA-PRIMA DO DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO

O cartaz do filme, lançado em agosto de 2015,
na Casa da Cultura Câmara Torres, no Bairro Histórico de Paraty.
(Divulgação)

O Saco do Fundão, visto de satélite.
(Divulgação)



Marcelo Câmara*

O Fundão é um paradisíaco fundo de golfo, quase um pequeno fiorde, no litoral sul de Paraty, RJ, entre a Ponta Grossa e o Saco do Mamanguá. O Saco do Fundão. Era a sua costa, em meados do Século XIX, uma de muitas glebas de terra de Domingos Feliciano Corrêa, grande proprietário de fazendas, produtor rural, patriarca de grande descendência, famoso pelas Cachaças que fabricava, inclusive estabelecendo o primeiro engenho a vapor em Paraty no final do Século XIX. Porém, a legendária Fazenda do Fundão não foi obra de Domingos, mas construída e consolidada, no início do século passado, por um de seus filhos, Pedro Erasmo de Alvarenga Corrêa, conhecido como Seu Peroca, outro afamado fazendeiro, brilhante alambiqueiro, exímio administrador rural.

De barco, rumo à Praia do Ubá, na Fazenda do Fundão, no fundo do golfo.
(Divulgação)
A Fazenda do Fundão foi um belo sítio de produção agrícola, com casa grande, lago, engenho com roda d’água para produção de Cachaça, rapadura e melado, paiol, curral de leite, pátio para secagem de feijão e cereais, inúmeras espécies silvestres e frutíferas, canavial, várias lavouras, pomar, criação de gado e de muitos animais, hortas, variados cultivos, praia, mangue. O Fundão fez história pela excelência de seus produtos e pela maneira notável, então moderna e eficiente, de como era bem administrada. Pai, com Domingas Ayres Corrêa, de prole numerosa – treze filhos, dois homens e onze mulheres - e laureado aguardenteiro, Seu Peroca produzia as célebres e premiadas marcas de Cachaça: Branca do Peroca, Azulada do Peroca e Branca do Fundão. Algumas garrafas delas tenho orgulhosamente comigo, e as bebo em dias extraordinários. Uma tradição oral em Paraty informa que o Seu Peroca inventou a Cachaça azuladinha, no início do Século  XX, colocando folhas de tangerina ou de laranjeira, na panela do alambique. Assim como fora o criador também de três tipos, denominações, de Cachaças especialíssimas, compostas, maravilhosas, incolores, transparentes como água, que só existiam em Paraty: a Laranjinha, a Lourinha e a Canelinha, com os sabores sutis, discretos, ao final do gole, da laranja, do louro e da canela, respectivamente. Hoje, nenhum alambiqueiro se arrisca a fabricá-las na Excelência Sensorial com que fazia o Seu Peroca e, nas décadas de 1960 e 1970, Ormindo M. Brasil, empregado do Engenho da Dona Quita, que criou e fabricava a Cachaça Coqueiro, uma das melhores do mundo, marca de excelência, hoje de propriedade de um sobrinho-neto do Seu Peroca, destilado que continua primoroso, com a mesma altíssima qualidade. 

A sede da Fazenda do Fundão por volta de 1930. (Divulgação)
Com a morte do Seu Peroca em 1964, a Fazenda do Fundão foi vendida para um milionário paulistano que a destruiu por completo: aterrou o mangue, viveiro de espécies e habitat de aves marinhas, dizimou pomares e matas nativas, todas as benfeitorias (casa, engenho etc.), provocou erosões no solo, enfim arrasou o Fundão. Eu, na juventude, ainda alcancei ruínas e a bela e imponente roda d’água do engenho. Triste, desolador. Criminosa a terra arrasada que se consumou.

Garça sobrevivente no Saco do Fundão.
(Divulgação)
A filha caçula do Seu Peroca (apenas ela e uma irmã estão vivas), a professora e escritora Maria Thereza Corrêa Ermelich, hoje com oitenta anos, vivia em São Paulo, SP desde o casamento em 1962 e, nas suas vindas a Paraty durante o desmonte do Fundão e, finalmente, com a sua destruição total, sofreu, chorou, se amargurou muito. A partir de 2002, ela e o marido resolveram viver definitivamente em Paraty. Maria Thereza, a Teleca, se transformou numa surpreendente escritora, uma cronista de brilhante memória e senso etnográfico, uma artista de grande talento. Em 2016, ficou  viúva, retornando a São Paulo, onde vive atualmente.



Seu Peroca, Dona Domingas e nove dos treze filhos.
(Divulgação)
O documentário longa-metragem Dias de Infância – Memória da Fazenda do Fundão, de Tati Beck, de 2015, é uma extraordinária obra de arte. Belíssimo! Um filme para chorar, sorrir, pensar, amar. Admirável, majestosa, impressionante a capacidade da cineasta para recriar, atualizar, sublimar e eternizar, cinematograficamente, como arte cinematográfica, como Cinema, os dois preciosos livros artesanais de Maria Thereza Corrêa Ermelich, atualmente com oitenta anos. São eles: Histórias Frutíferas – Lembranças da infância na Fazenda do Fundão em Paraty (Ed. da autora, 2ª ed. revisada, Paraty, 2010), o primeiro a ser lançado, em 2008: e Lembrou-se, Xiba e Zepelim – Histórias da antiga Fazenda do Fundão em Paraty (Ed. da autora, 2ª ed. revisada, Paraty, 2009), lançado em 2009. Para escrever e publicar os dois livros, Maria Thereza teve a valiosa assessoria editorial de Sylvia Junghähnel, uma paratyense de coração, de origem germânica, pedagoga, consultora e guia de Turismo, especializada em Atrativos Naturais e Observadora de Aves, que organizou ambos os trabalhos, inclusive escrevendo a apresentação do primeiro.


Maria Thereza desenhou as capas dos seus livros com lápis de cor.
(Divulgação)
Além de realizar, em imagens e som, os dois livros de Maria Thereza, a diretora Tati Beck os enriqueceu ainda mais com a gravação de tesouros sociológicos que são os depoimentos, as memórias, os personagens, a narrativa, as paisagens, os fatos, os bens, os dotes, os dons da tradicional Família Alvarenga Corrêa e da Fazenda do Fundão, seus habitantes, amigos e contemporâneos, de 1920 a 1960. Uma época e a sua inestimável fortuna humanística, histórica e ecológica. O filme de Tati Beck é mais seminal, mais primacial, do que as próprias fontes que o inspiraram, isto é, os maravilhosos livros de Teleca. Evidentemente, não me abstenho de louvar o alto valor socioantropológico, etnográfico, cultural, dos livros da Maria Thereza. O que quero assentar é que a arte de Tati Beck, o seu “fazer cinema” chegou à genialidade, ultrapassou, quilometricamente, os meros recursos, os próprios assuntos cinematográficos iluminados e as ferramentas de que dispunha. Não se limitou a ilustrar as obras de Maria Thereza, colocá-las na tela. Superou, com fidelidade, engenho e ternura, todas as dificuldades e limitações de uma produção cinematográfica independente, que não contou com patrocínios ou apoios públicos ou privados. A façanha foi alcançada. Os desafios não estavam apenas nas ausências, nos idos, nos vazios. Foram reais as dificuldades de toda sorte, para reconstruir, com sabedoria, técnica e arte, um tempo, muita vida, um universo inteiro. Mas, principalmente, pela sua invenção sem invencionices, o seu poder de enunciar, comunicar e emocionar sem apelos baratos, sem lugares-comuns, sem cambalhotas tecnicistas, erráticas e falsas.

Assim como prometi à Maria Thereza escrever e publicar uma crítica aos livros dela, ouso, aqui, rabiscar e divulgar, dizer algo sobre o documentário Dias de Infância, Memória da Fazenda do Fundão. Tenho notícias das dezenas de outros filmes que Tati Beck roteirizou e dirigiu em vários países. Mesmo sem conhecê-los, e imagino que sejam excelentes, assevero, sem risco, pelo que vi neste filme que Tati Beck é uma artista inteira, brilhante, criadora de uma obra-prima no gênero “documentário”. Trata-se de um filme para ser visto, sentido e aplaudido, para ser alimento, poesia, arte, sonho e reflexão, denúncia sempre, pronto para arrematar muitos prêmios em festivais no mundo.

Acesse:


e assista a essa maravilha da Cultura Brasileira.



(*) Jornalista e Consultor Cultural 

segunda-feira, 26 de junho de 2017

OS PARATYENSES - OS ANGRENSES

OS PARATYENSES - OS ANGRENSES


Convido os internautas a ler os meus artigos da série Os Paratyenses, no endereço:

http://www.castroassociados.com.br/?page=artigos_list

São perfis sobre personalidades e personagens de Terra de Domingos Gonçalves de Abreu, que já não estão entre nós, com as quais o autor teve o privilégio e a felicidade de conviver, da infância até hoje.

Rua do Fogo, no Bairro Histórico de Paraty, RJ, onde há dezenas de ruas tão ou mais belas,
floridas e bucólicas, quanto esta. Ela integra o Plano Urbanístico da Cidade (Código de Posturas),
o segundo da cidade, do início do Século XIX. O primeiro data do Século XVII.
Paraty foi a primeira cidade planejada do Brasil, por volta de 1660. (Foto: Magali de Oliveira)
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E os artigos da série Os Angrenses, na

Revista do Ateneu Angrense de Letras e Artes - AALA

São perfis sobre personalidades e personagens de Terra de Lopes Trovão, que já não estão entre nós, com as quais o autor teve o privilégio e a felicidade de conviver, da infância até hoje.


Convento Carmo, construído entre 1613 e 1616, à beira-mar, e de frente para o mar, na cidade de Angra dos Reis.
O conjunto é composto pela Capela da Ordem Terceira do Carmo, a Torre Sineira, a Igreja Conventual e o Convento.
A Torre original foi destruída, bombardeada em 1710 pelo corsário francês Jean-François Duclerc.
O atual edifício é resultado de reconstruções feitas no Século XVIII.
(Foto: www.turismovaledocafe.com)
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domingo, 12 de março de 2017

LACERDISTAS ENRUSTIDOS E DISSIMULADOS

Depois que um amigo me contou que foi testemunha ocular de o fato que agora narro, nada mais me surpreende nesse mundo dos “intelectuais” ortodoxos, sectários e convictos. Ele se aproximou do personagem para se certificar de que não era uma ilusão de ótica ou um erro de identificação. Ou se seria um sósia a pessoa a poucos metros dele. Numa igreja da Tijuca, zona norte do Rio, este meu amigo flagrou o historiador materialista dialético, marxólogo, teórico respeitado nacionalmente, ateu praticante, autor de dezenas de livros, aclamado por leninistas, trotskistas e maoístas, o coronel Nelson Werneck Sodré, já provecto, meses antes de falecer, orando, de pé, contrito, tocando uma imagem de Nossa Senhora. Chegou bem perto do intelectual comunista para confirmar o que via. O coronel estava com os olhos marejados e balbuciava humilde e piedosamente. Até aí nada demais. Compreensível. Ao Homem, na sua pequenez, continência e contradições cotidianas, qualquer mudança no pensamento, no coração e no espírito é permitida e tolerável, mesmo que imprevisível. Porém o que constrange e decepciona o observador social são aqueles sujeitos arautos de determinada ideologia, partido ou posição política, que, ordinária e regularmente, fogem de si mesmos, mentem, “posam para fotografia”, surfam em onda alheia, dissimulam, interpretam, sempre, papéis, os quais, publicamente, negam ou não admitem em hipótese alguma.

Uma dessas crenças, uma corrente histórica não assumida, envergonhada, é o Lacerdismo, o fato de alguém receber a pecha “insultuosa” de ”lacerdista”, seguidor, correligionário de Carlos Lacerda (1917-77), vereador, deputado estadual e federal, governador da falecida Guanabara, fundador da famigerada UDN. O máximo que admitem é dizer: “Um grande administrador, mas não me venham com a mentira dos mendigos mortos no Rio da Guarda...”. Não se trata de se revelar, com orgulho e sem constrangimentos, como um cidadão de Direita, liberal, consciente e defensor da Justiça Social num sistema capitalista. Nem tão pouco de se manifestar como um “Conservador”, monarquista ou republicano, de Direita, sem oscilações e conveniências, também consciente e responsável social e politicamente. Neste último caso, o do Conservadorismo, tanto a Direita sã, capitalista, criativa e inventiva, bem como a raríssima Esquerda Democrática (Trabalhistas e Social-Democratas), consideram saudável, indispensável, a sua presença no espectro partidário de uma Democracia.

Mas o Rio está enxameado de lacerdistas enrustidos, herdeiros daquele Carlos Lacerda talentoso e feroz, incoerente, virulento e oportunista, que professou, na juventude e maturidade, todos os credos políticos imaginários, com exceção do monárquico, mas pontificou, glorificou-se mesmo como a mais execrável Direita, calhorda, antinacional, entreguista, manipuladora da frágil e vulnerável classe média, que Darcy Ribeiro denominava de “Direita Tarada”. Era um balaio no qual poderíamos ajuntar, ontem, além de Lacerda, um Amaral Neto, um Roberto Campos, Sandra Cavalcanti, Médici, David Nasser, Cantídio Sampaio, ACM e outros vultos. E, hoje, um Bolsonaro, um Pastor Everaldo, Dornelles, entre outros.

Os remanescentes do Lacerdismo têm pudor de se revelarem como tais, de mostrarem o rosto lacerdófilo, da “direta tarada” que levou Getúlio Vargas ao suicídio e apoiou o Golpe Militar de 1964. Recentemente, vivi alguns exemplos desse receio e dissimulação. Um deles, e o mais emblemático, foi a manifestação de um “jornalista” que posa de “trabalhista histórico” – imaginem! – quando escrevi sobre a última vez que eu vi Carlos Lacerda. Foi em Paraty, RJ, no início da década de 1970, intermediando transações imobiliárias complexas, no mínimo “suspeitas”, dizia-se. Era madrugada e Lacerda estava meio grogue, sob chuva fina, sozinho, numa das ruas do Bairro Histórico, admirando sobrados e casarões.

Pois bem, o tal “jornalista” ficou tão indignado com a minha informação verdadeira e comprovável por dezenas de paratyenses vivos contemporâneos, que, editor de um site, censurou o meu texto e retrucou sanguinariamente: “Não é verdade. Você está inventando. Lacerda era milionário, vendeu a Tribuna da Imprensa por dez milhões de dólares (? – interrogação minha). Ele nunca morou em Paraty, nem jamais foi corretor de imóveis...”. Enfureceu-se, também, quando, comprovadamente, afirmei que Lacerda participara de conspirações contra-revolucionárias ocorridas logo em 1931, prontamente reprimidas, escondendo-se em propriedade da família em Vassouras, RJ. Analfabeto histórico, crítico circunstancial do varejo político, rasteiro, que pululam nos noticiários; pequeno, medíocre, inculto, sem informação, o tal “jornalista”, além de se ofender, de se revelar um lacerdista enrustido, entendeu que um sujeito do nome, prestígio, inteligência e capacidade de um Carlos Lacerda, mesmo no ostracismo político, cassado politicamente, precisaria morar em Paraty ou ter inscrição do CRECI para negociar com grandes grupos e corporações econômicas, a compra e venda de imóveis, tanto na cidade como no belíssimo, cobiçado e valorizadíssimo (já naquela época) litoral do único Município do País considerado por lei “Município Monumento Nacional”.

Após ser agredido e insultado pelo pseudojornalista em decorrência deste episódio, que me acusou de “descuidado e ficcionista”, disse ao sujeito que ele continuava “um ginasiano, após décadas de ‘Jornalismo’. E que nunca deixou de ser um lacerdista”. Além disto, e por conta da discussão em que eu não tinha contendor, mas somente um detrator farsante, sobre o dorso da arrogância, chamei-o de “incivilizado, mal educado e analfabeto político, histórico e cultural. Afinal, falecido”. A um suposto e circunstancial amigo comum, eu disse que o lacerdista enrustido era apenas “um ex-repórter esperto, um ex-editor medíocre, como centenas que estão por aí. Intelectualmente, um asno, um "intelectual de orelha de livro". Profissionalmente, um incapaz. Moralmente, um pulha, inescrupuloso." Infelizmente, com um lacerdista dissimulado, a mesma violência, as mesmas armas de quem Samuel Wainer apelidou de "O corvo", agourenta e traiçoeira ave, amoral, sem nenhum caráter, como costumava qualificar essas espécies, o genial Nelson Rodrigues.

Seria mais normal e saudável, democrática e historicamente compreensível e aceitável, se os que comungam com as ideias e pensamento de Carlos Lacerda, seus viúvos e sectários envergonhados, assumissem essa condição e mostrassem o rosto, fizessem os seus discursos. Mas a realidade mostra os insistentes disfarces, escapismos e dissimulações ineficazes. 

domingo, 29 de janeiro de 2017

"ESSE BRIZOLA É UM DEMAGOGO, UM IDIOTA, SÓ DIZ BOBAGENS..." - Bordão dos adversários de Brizola, dito, de 1979, quando ele retorna do exílio, até a sua morte em 2004.

Darcy, Brizola e Niemeyer: os criadores dos CIEPS
Foto: www.pdt.org.br
No último dia 22 de janeiro, nos lembramos de que há 95 anos nascia Leonel de Moura Brizola, em Cruzinha, na roça gaúcha, distrito de Carazinho, filho de camponeses pobres, criado órfão de pai, este assassinado pelas costas na Revolução Federalista. Alfabetizado pela mãe, estudou em escolas públicas, se formou Técnico Agrícola com uma bolsa de estudos do Estado do Rio Grande do Sul. Trabalhou desde a infância para se manter na Capital, Porto Alegre, e cursar o Ginásio e o Segundo Grau, até se formar Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRS. Ingressou na Política por iniciativa própria, depois incentivado por João Goulart e Getúlio Vargas, foi um dos fundadores do Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, a única agremiação social-democrata até hoje existente no País, se elegendo deputado estadual. Em 1950 casou com Neuza Goulart, irmã de Jango, que pertencia à família mais rica do Estado. O resto da História você já leu neste blog, na matéria Incrível! Fantástico! Extraordinário! Episódios da Política e façanhas de alguns políticos brasileiros - 2ª parte, postada em 16.10.16.

Desde a sua morte, os políticos federais, estaduais e municipais, e as Oposições circunstanciais, as de plantão, em qualquer nível, a mídia, os cientistas sociais e políticos – todos que, no passado, sempre criticaram as suas ideias e posições não se cansam de repetir o que Brizola sempre afirmou, e sempre foi contestado, por mais de cinquenta anos. Os que sobreviveram a Brizola fazem, diariamente, pronunciamentos e dão entrevistas, como se fossem eles os primeiros a se manifestarem sobre certas questões nacionais, como que fossem eles os que descobriram o que Brizola repetiu por décadas. São problemas cristalizados, que estão se transformando em arqueologia na nossa História. Abaixo alguns dos pensamentos do Homem Público Leonel Brizola, proclamados, sem medo, sem ódio, durante toda a sua vida de lutas pelo Povo Brasileiro, de coerência ideológica e política.


  • Sobre o Trabalhismo, hoje, no Brasil, uma doutrina na gaveta, e ausente da vida partidária: 
O Trabalho é o valor primacial, fundamental, insubstituível, o principal elemento, essencial na vida de uma sociedade. O trabalho deve ser a base da Economia, deve perpassar toda a vida social. Ele é o elemento que humaniza, eleva, honra e dignifica a Vida e o Homem na Comunidade, na sua conduta como cidadão, agente criador e produtivo e nas suas relações com o outro, com a Coletividade, com o Estado.“


  • Sobre o Povo Brasileiro: 
A elite norte-americana luta pelo povo norte-americano. A elite alemã defende o povo alemão. A elite japonesa briga pelo povo japonês. E assim por diante. Cada elite de um país trabalha pelo povo do seu país. Aqui, não. O Povo Brasileiro é bom, trabalhador, generoso. O que não presta é parte das nossas elites, vinda de vários pontos, com vários matizes. Ora dá as costas para o seu Povo, ignora-o; ora se locupleta dos bens do País, saqueia a Nação; ora se alia às elites de outros países para auferir criminosamente lucros e vantagens indevidas, em detrimento do Povo Brasileiro.”


  •    Sobre a sua “tara” existencial e política, a Educação: 
A Educação é o principal dever, instrumento, a principal tarefa de uma Nação que pretende ser livre e soberana, reproduzir gerações conscientes e responsáveis pelo seu desenvolvimento, forjar o seu futuro com independência e autonomia, missão de um País que quer ser dono do seu próprio destino. Não se confunda escola de “horário integral” com escola de “Educação Integral”: a primeira é uma extensão de permanência das crianças numa escola deficiente, precária, que, com raríssimas exceções, tivemos no passado; a segunda é uma nova Escola, onde a criança tem ensino, orientação moral e social, assistência integral às suas necessidades físicas, psicológicas, mentais e culturais, e é preparada, com dignidade e respeito, para a Vida, a Cidadania e o Trabalho. Cada CIEP deve ser um espaço, um pólo, centro de convergência social, de criação e divulgação cultural de uma comunidade.


  • Sobre os brasileiros: 
A vida das nossas crianças começa no ventre materno. Temos de proporcionar um pré-natal seguro, eficiente, de qualidade, às mães brasileiras. O cérebro das nossas crianças tem de ser cuidado antes do seu nascimento. Depois, na pré-escola, tudo começa acontecer no desenvolvimento físico, mental, psicológico, afetivo, intelectual das nossas crianças. É o período onde se formam e se consolidam as matrizes orgânicas, mentais, emocionais nos cérebros das nossas crianças. Elas precisam de atenção, substanciosa nutrição, cuidados, carinho. É como ocorre nos computadores: se um desses chips queimar, não tem mais jeito. Se não dermos a elas boas condições de higiene, saúde, uma família bem estruturada, uma boa pré-escola, eficiente e eficaz, o que será da alfabetização dessas crianças, do seu curso de 1º grau? São nessas fases, da primeira infância onde se constroem as bases do indivíduo, das futuras cidadãs e cidadãos.”


  • Sobre o tráfico de drogas e armas: 
O Rio de Janeiro não fabrica drogas nem armas. Tudo vem de fora. Precisamos assumir definitivamente, vigiar e controlar as nossas fronteiras, tarefa constitucional da União, da Polícia Federal, da Receita Federal, das nossas briosas Forças Armadas. É pelas nossas fronteiras, marítimas e secas, que entram as drogas, as armas e também ocorre o tráfico de pessoas, legiões de seres humanos escravizados pelo crime e a infâmia.”


  • Sobre Getúlio Vargas: 
O Presidente Getúlio Vargas foi o grande estadista que o Brasil teve no Século XX: construiu o Estado, ergueu a Nação e organizou a Economia nacional, estabeleceu os deveres e direitos dos trabalhadores, lutou até a morte pela nossa independência e soberania.


  • Sobre João Goulart: 
Jango foi derrubado por um conluio da direita entreguista e antinacional, aliada a forças externas, porque era um nacionalista que queria um Brasil livre e desenvolvido, defendia os direitos e interesses do Povo Brasileiro e as riquezas do País”


  • Sobre Segurança Pública no RJ:
Eu jamais proibi a Polícia Civil ou Militar de subir os morros cariocas, penetrar nas favelas, onde prospera, como no asfalto, a bandidagem e a criminalidade. O que eu nunca permiti é que a polícia invadisse as comunidades pobres atirando a esmo, chutando as portas dos barracos dos trabalhadores, assassinando, com balas perdidas, cidadãos de bem, crianças, mulheres, idosos, gente inocente, como acontece hoje. Operações nas favelas? Sim. Mas, cirúrgicas, eficazes, precedidas de trabalhos de inteligência e planejamento. As polícias dos meus dois governos no Rio de Janeiro prenderam centenas de traficantes, homicidas, estupradores, prenderam os bicheiros, chefes de máfias criminosas do jogo ilegal, do tráfico de drogas e de armas. Eu prendi os bicheiros, mas quem levou a fama foi a respeitável e douta juíza Denise Frossard, que os condenou por justiça. No governo Moreira Franco, os bicheiros frequentavam e eram banqueteados no Palácio do Governo. Quando assumi o Governo do Rio de Janeiro pela segunda vez, em 1991, sucedendo Moreira Franco, a capa da revista Veja mancheteava: Rio em Guerra Civil”.


  •   Sobre a presença do Estado na Economia:
A princípio, tudo dever ser privado, não deve caber a presença ou intervenção estatal. Numa economia de mercado, onde há livre iniciativa, com empregos e salários, direitos e deveres de empregadores e empregados, e o objetivo de quem produz é o lucro, o Estado não deve entrar, não deve interferir, a participação do Estado deve ser seletiva, específica, excepcional. O Estado deve, sim, regular vigiartributar, acompanhar para defender o interesse público, e só se tornar sujeito ou responsável pelas atividades econômicas, ser agente produtivo, nas áreas de interesse e importância social, onde não haja interesse, razão ou motivo do particular atuar, onde ele não tenha chance de lucrar, não tenha perspectivas de ganho.


  • Sobre as perdas internacionais, sempre ridicularizadas pelos seus adversários:
As perdas internacionais, a nossa maior desgraça, se traduzem nos pagamentos crescentes de encargos da dívida externa e o envio sistemático, e também crescente, de lucros das grandes corporações que aqui atuam para o exterior, não investindo, nem reinvestindo no País, não geram empregos, não multiplicam riqueza e renda.


  •  Sobre a Educação em Tempo Integral, os CIEPS:
A Educação Integral, a Escola em Tempo Integral, livre e democrática, é fundamental, indispensável, deve ser generalizada em nosso País, acessível a todas as crianças e jovens, pobres e ricos, de todas as etnias e latitudes sociais, culturais, econômicas. Ela é comum, centenária em vários países, inclusive em alguns das Américas. Constitui ensino sob pedagogia contemporânea, enriquecedora; prédios amplos e adequados; equipamentos apropriados ao ensino; boa e produtiva didática; transmissão de valores, princípios, fundamentos e referências civilizatórias acrescentativas; orientação moral, social e cultural para formação de um caráter reto e uma personalidade sadia, digna, tolerante, dos nossos jovens, futuros cidadãos; educação física e esportes; alimentação, do café da manhã à sopa no final da tarde; assistência social, psicológica, médica e odontológica, para que as crianças cresçam, se desenvolvam harmonicamente com a sua cultura e o seu meio, visando a uma vida com saúde, paz, prosperidade e alegria.”