quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Esquerda Democrática? Onde? - 2ª parte

Neste artigo, vamos analisar a história e a conduta atual de mais dois partidos brasileiros que se apresentam como “Socialistas Democráticos”. O primeiro, o PC do B, de ideologia marxista-leninista-stalinista, nascido na década de 1960 de uma dissidência do antigo “Partidão”, insiste em propagar que tem 94 anos, querendo furtar para si a idade do PCB. O segundo, o PSB, também de inspiração marxista, mas não revolucionário, exibe história acidentada, prenhe de equívocos, conflitos e contradições, como suas duradouras núpcias com o PT, recentemente desfeitas.

PC do B – Fundado em 1962, decorrente de uma dissidência havida no seio do PCB, que seguindo líder soviético Khrushchov, optou pela desestalinização, em 1956, do Movimento Comunista Internacional , o PC do B tem ideologia marxista-leninista e no seu nascimento já adotava, consequentemente, a linha política de Joseph Stalin. Várias vezes, o partido foi atingido por dissidências, correntes e militâncias paralelas, marginais. Depois, percorreu as linhas maoísta, chinesa, e, por fim, albanesa, todas experiências comunistas frustradas. Na década de 1980, cheguei a participar, a convite do PC do B, em Brasília, das comemorações de um aniversário de nascimento de Stálin, quando assisti ao então dirigente Renato Rabelo proferir entusiástica e derramada palestra sobre a vida do “grande e eterno Joseph Stálin, nosso líder inspirador”. Ao cultuar a ideologia marxista-leninista, ao perseguir a ditadura do proletariado, um regime totalitário, de partido único, contra a liberdade e o pluralismo partidário, um regime partido único, de economia estatal, centralizada, afasta o partido do rol dos Socialistas Democráticos. Pragmaticamente, por largo tempo, o PC do B foi um aliado de Leonel Brizola, tanto nas eleições nacionais, como nas estaduais. Porém, ao se compor com os desgovernos de Lula e Dilma, participando deles inclusive, ao se comportar como um instrumento do PT, a sigla se distancia definitivamente desse terreno, exceto se considerarmos legítimo e válido o conceito marxista, exclusivo e excludente, de “democracia”.

Arraes (1916-2005):
contradições e apoio a Lula
(Foto: https://pt.wikipedia.org)
PSB – O partido nasceu em 1947, do grande fórum 2ª Convenção Nacional da Esquerda Democrática, com a absorção de ideias marxistas, porém como uma alternativa mediana, formulada por João Mangabeira, Hermes Lima e Domingos Velasco, ao Trabalhismo de Getúlio e o Comunismo de Prestes. Percorreu tortuosos e contraditórios caminhos, interrompidos pela Ditadura Militar de 1964, que incluíram o abrigo de grupo trotskista, aproximações e alianças com a UDN e com o Janismo. Em 1985, o PSB foi refundado. Ao retornar do exílio em 1979, Miguel Arraes, que fora Governador de Pernambuco pelo PST, uma sigla trabalhista, aliada a Jango e Brizola, não ingressa no PDT, como se esperava e seria natural. Arraes se filia ao PMDB, assim como Waldir Pires, do antigo PTB, para surpresa de todos. Em 1990, o governador de Pernambuco, Miguel Arraes, eleito pelo PMDB, vai para o PSB. Em 2000, o partido recebe Antony Garotinho. Importantes quadros, por isto, deixam o partido. Garotinho é candidato a Presidência da República, fica em terceiro lugar e influencia o PSB por três anos, quando, então, é, praticamente, “expulso” da agremiação, pois tem o seu recadastramento negado. Arraes retorna à direção e volta a dominar o PSB, apóia Lula nas eleições de 1989 até 2006, e Dilma em 2010. Antes da eleição de 2010, recebe Ciro Gomes, perde mais quadros por conta dessa filiação, mas não o lança candidato a Presidente, preferindo Dilma. Sempre aliado ao PT, participa dos governos petistas. Somente em agosto de 1914, o PSB desperta, critica os rumos das políticas do PT, sai do governo Dilma e lança Eduardo Campos, neto de Arraes, à Presidência da República, com um programa de governo distante da ideologia populista e da política orçamentária e fiscal suicida do PT. Um desastre de avião mata Campos e o PSB acolhe Marina Silva, em processo de registro da Rede de Sustentabilidade, como candidata à Presidência. No segundo turno, Marina, derrotada, pessoalmente apóia Aécio Neves, mas o Diretório Nacional do PSB, incrivelmente, recomenda o voto em Dilma. Após tantas contradições e hesitações para reassumir, efetivamente, os princípios e objetivos do Socialismo Democrático, mesmo não participando do governo Dilma em seus estertores, o PSB se dividiu, se pulverizou ao votar o impeachment, com parlamentares a favor e outros contra o impedimento de Dilma, defendendo a sua permanência. Atualmente, com o seu afastamento, aparentemente irreversível, do desmoralizado PT, distante da irresponsabilidade, do populismo e da demagogia criminosa do PT, o partido retoma o seu tradicional ideário, tenta cumprir, coerentemente, no posicionamento e pronunciamentos de sua direção, no comportamento parlamentar, o seu histórico e prestigioso programa, identificando-se, verdadeiramente, como um partido Socialista Democrático.

No próximo artigo, visitaremos, criticamente, os demais partidos que se apresentam como “Socialistas Democráticos”.



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Um comentário:

  1. Corrigindo: agosto de 2014.O PSDB com políticos como: Mario Covas; José Serra;Franco Montoro; Tasso Gereissati; FHC e outros, é neoliberal? Acredito estar muito mais próximo da Social Democracia.

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