quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Incrível! Fantástico! Extraordinário! - Episódios da Política e façanhas de alguns políticos brasileiros - 1ª parte

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Brilho, incoerência, coragem, oportunismo.
(Foto: revista Época)
Carlos Lacerda – Ideológica, política e sucessivamente, foi e militou, intensiva e contraditoriamente. Foi marxista-leninista; trotskista; participa de conspiração e planejamento de agitações em 1930, efetivada em tentativa de golpe contra-revolucionário em janeiro de 1931; escondeu-se em propriedade da família após a Intentona Comunista de 1935; nacionalista de esquerda, aliado e companheiro de Samuel Weiner na revista Diretrizes, e devedor de vários favores e oportunidades que Weiner lhe prestou; torna-se adversário político e desafeto de Samuel Weiner; direitista e conservador, assume o lugar de inimigo figadal de Samuel Weiner e mantém a oposição orgânica e visceral a Getúlio Vargas; udenista apaixonado, conspira contra o governo democrático e nacionalista de Getúlio, insulta e calunia o Presidente pela Imprensa; chama Samuel de "o bessarábio" ou "o bessarabiano", natural da Bessarábia, região da Romênia, nunca conseguindo provar; e Samuel o apelidou de "O corvo", pelo perfil do rosto e a "personalidade" de ave agourenta, traiçoeira, de rapina e carniceira; Samuel, que negou a vida toda o seu berço natural, admitiu-o em 1980, antes de morrer; Lacerda é acusado, pela História, de ser o assassino oblíquo de Getúlio; participa de duas tentativas de golpe contra JK em 1955 e, em seguida, com Carlos Luz e militares direitistas; foge para a Cuba de Fulgencio Batista; se posiciona a favor do golpe de 1964; apoiador da ditadura; em revés, como não consegue ser candidato à Presidência, passa a atuar contra a ditadura; independente, milita a favor de si mesmo; camaleônico, tenta formar a natimorta Frente Ampla com seus inimigos Jango e Juscelino; termina a vida como “lacerdista” ou, como querem alguns, como “eu mesmo” ou “radical de centro”. Governador da Guanabara, construiu os Túneis Rebouças e Santa Bárbara, o Parque do Flamengo e o Sistema Guandu, onde foi acusado de lançar mendigos que “sujavam a cidade”. Removeu as favelas do Cantagalo e da Praia do Pinto na Lagoa Rodrigo de Freitas, transferindo as famílias para as Vilas Kosmos e Kennedy. 

Acredito que ele deu um tiro no próprio pé no episódio da Tonelero que vitimou o Major Rubens Vaz. Lacerda estava armado, atirou várias vezes e não houve exame da sua arma. A “República do Galeão” e os militares da Direita não permitiram que fosse feita análise na arma de Lacerda, perícia técnica nem exame de balística sobre o tiro no pé de Lacerda. E o Brasil inteiro acreditou que ele fora uma vítima do atentado da Tonelero, atingido por um tiro disparado pelo mesmo indivíduo que acertou o militar. A última vez que vi Carlos Lacerda foi em Paraty, RJ, pouco antes de ele morrer, anônimo, silente, aparentemente triste, atuando como corretor de imóveis, tentando representar grupos investidores, intermediar vendas de casas e terras, dizia-se, "suspeitas", no mínimo “embaraçadas”, na região – fazendas, ilhas, praias. Era madrugada, e cruzei com Lacerda, só, sob chuva fina, parecia alcoolizado, admirando os sobrados coloniais, andando com dificuldade pelas ruas de pés-de-moleque do Bairro Histórico do Município Monumento Nacional. Lacerda foi um fenômeno ideológico. De voluntarismo, coragem, incoerência e oportunismo político. Inteligente, culto, grande tribuno.

Eduardo Cunha – Quatro vezes eleito deputado federal no RJ, a primeira, em 2003, pelo PPB (primeiro nome do PP), as seguintes pelo PMDB. Desde que entrou na política, lançado por Garotinho, é réu em processos por corrupção. Através da sua empresa ”Jesus”, é detentor de centenas de domínios na Internet. O PT deveria mandar celebrar uma missa, ou melhor, um culto protestante por semana em ação de graças, pela felicidade e a vida do ex-presidente da Câmara, que indeferiu de pronto (mesmo que por interesse próprio ou recíproco entre ele e o partido de Lula), rejeitou mais de cinquenta denúncias requerendo o impeachment de Dilma Roussef. Nunca houve um temporal de pedidos como aquele, maior do que a soma dos ocorridos durante toda a República contra um só Presidente. Dilma, somente pelo Petrolão, deveria ter sido impedida muito antes, ainda no primeiro desgoverno. Cunha foi amigo, solidário, generoso, aliado, complacente. Um irmão querido. Atualmente preso em Curitiba pela Operação Lava-Jato é considerado um fenômeno político. E financeiro.

Miro Teixeira – Foi o político de maior poder e prestígio da curta história do falecido Estado da Guanabara. Filho político de Chagas Freitas, e o genético que ele não teve, ninguém até hoje fez e desfez mais na Guanabara do que Miro. Colunista de O Dia e, ainda rapaz, Chagas o elegeu deputado federal pelo MDB. Em 1982, concorreu ao governo do RJ pelo MDB com Brizola (PDT) e Sandra Cavalcanti (PTB). Ficou no partido do Doutor Ulysses até as primeiras eleições pós-ditadura, quando muda de mala e cuia para o partido de Brizola, ali permanecendo, fiel, competente e coerentemente, até 2003 quando Lula o nomeia Ministro das Comunicações e ele vai para o PT. É demitido no mesmo ano. Anos depois volta para o PDT e, em seguida, ruma para o PROS, da base de Dilma, onde se reelege em 2014. Para a Câmara Federal, se elegeu três vezes pelo MDB; uma para a Constituinte pelo PMDB; seis, pelo PDT; e uma, pelo PROS. Hoje cumpre o décimo primeiro mandato agora pela REDE, que era base de Dilma, mas Miro votou a favor do Impeachment. Sempre bem eleito. Possui eleitorado cativo. É inteligente, hábil, competente parlamentar, um fenômeno bem sucedido da Política Carioca.

César Maia – Antes do primeiro turno das eleições de 1989, quando Brizola era o candidato do PDT, o então deputado federal César Maia, do mesmo PDT, procurou Fernando Collor, às escondidas, em São Paulo, para declarar que queria apoiá-lo. Collor, surpreso, o interrogou: “Mas, como? O Doutor Leonel Brizola não é o candidato do seu partido, o PDT? Como o senhor quer me apoiar?” Maia explicou: “Sim, é. Mas eu quero apoiá-lo”. Collor insistiu: “Mas é fácil. Basta o senhor romper com o PDT e declarar, publicamente, o seu apoio a mim”. Maia foi sincero: “Não, mas eu quero apoiar o senhor sem que o Brizola saiba”. Collor ficou desconsertado com a ousadia. Brizola teve conhecimento do encontro de Maia com Collor e chamou o correligionário para esclarecer. Maia negou tudo. Collor confirma e prova. Parte da entrevista de Collor, editada (não na íntegra como a assisti na Band em 1997), contando esse triste episódio está no endereço:


Passava os mandatos de prefeito no computador, como uma criança que ganhou um presente. Criou a palavra e a tolice denominada “factóide”, uma bobagem, fictícia e irrealizável, que praticava habitualmente, que assustava os incautos e neófitos pelo tom de seriedade com que era divulgada, e no contexto em que estava inserida. Inviabilizou, no município, o programa dos CIEPS que, como Secretário de Finanças de Brizola (“Com quem, diz ele, aprendi tudo de finanças públicas”), ajudou a construir. É réu em diversas ações de improbidade administrativa. Foi deputado na Constituinte de 1988, reelegendo-se em 1990 quando após a posse, se transferiu para o PMDB. Foi três vezes prefeito do Rio, cargo que também deu a Luiz Paulo Conde Cumpre o segundo mandato como vereador, o terceiro mais votado no último pleito. Elegeu seu filho, Rodrigo Maia, pela quinta vez deputado federal, atualmente presidente da Câmara, o primeiro na linha sucessória de Temer. Rodrigo Bethlem, Eduardo Paes, Índio da Costa, Pedro Paulo – todos são conhecidos no Rio como “Cesar Boys”, ou seja, garotos e criações de César Maia, que, quer queiram ou não, é um fenômeno inexplicável da Política Carioca.

Garotinho – Obra de Brizola. Pertenceu ao PC do B, ao PT, ao PDT, ao PSB, ao PMDB e, hoje, é filiado ao PR. Duas vezes prefeito de Campos dos Goytacazes, RJ (1986-8 e 1988-92), deu, ainda, dois mandatos de prefeito à mulher Rosinha Garotinho (2009-12 e 2013-6); Deputado Estadual (1986-88) e Governador do RJ (1998-2002). Elegeu a mulher sua sucessora no governo do Estado (2003-6). Foi deputado federal pelo PR (2011-15). Já protagonizou vários escândalos de corrupção, entre eles o propinoduto, um roubo descoberto em 2003, mas realizado no seu governo por fiscais estaduais, mancomunados com colegas da Receita Federal e doleiros que enviaram para Suíça US$ 77 milhões. Atualmente, em virtude da lentidão processual da Justiça brasileira, a Suíça, que bloqueia a fortuna, está propensa a não repatriá-la, com o risco até de o dinheiro ser devolvido ao fiscal Silveirinha, hoje solto, à época homem de confiança de Garotinho e e chefe da quadrilha.


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