quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Histórias da Política

Durante mais de dez anos, nas décadas de 1970 e 1980, no início da minha vida de jornalista profissional, assinei colunas de Humor em jornais e revistas de Niterói, Rio e Brasília e fiz televisão numa emissora carioca. Foi um tempo fértil de muita criação e arte, em plena ditadura militar, quando publiquei cerca de quinhentos textos para fazer rir e pensar.  Como Humorista profissional, nunca tive problemas com a censura do regime, mesmo fazendo reflexões e críticas lancinantes, sátiras diretas de caráter ideológico político, a governos e oposições. Talvez porque sempre agi com respeito e elegância, não atacava a honra das pessoas, mas iluminava, com Humor, suas ideias e atitudes, e não apelava para o chiste grosseiro e a pornografia. Mas, sofri, sim, poucas vezes, autocensura, do próprio veículo que trabalhava. Na verdade, eram mais exercícios de defesa e autopreservação da empresa e dos nossos empregos, no clima policialesco que vivíamos, do que uma restrição à liberdade de pensamento e de imprensa. Lembro-me de que, durante o tempo que escrevi no Diário de Notícias do RJ, em duas ocasiões, o editor não publicou dois trabalhos meus sobre a Revolução dos Cravos, de Portugal, e seu líder, general António de Spínola, escrito assim mesmo, com acento agudo no pré-nome. No momento, me chateei. Depois, compreendi os vetos. Neste artigo, não criarei ou recriarei Humor. Apenas irei contar algumas histórias políticas, humorísticas e verdadeiras, que vivi, que ouvi ou que me relataram na infância e juventude. Não há ficção nelas.

INJÚRIA – Numa sessão da Câmara Municipal de Angra dos Reis, RJ, o íntegro e voluntarioso vereador getulista militante do antigo PTB, Benedito Braz Pereira, ouve ressoar de um discurso inflamado: “Isto é uma brasfêmia!”. O edil trabalhista indignou-se: “Protesto, Senhor Presidente. Eu sou muito macho, sou homem, chefe de família. ‘Fêmea’ coisa nenhuma. Não admito a ofensa...!

CIDADANIA – A vereadora Júlia Rocha, de Rio Claro, RJ, na década de 1970, questiona o Plenário da Câmara Municipal: “Temos de parar com essa mania de conceder Título de Cidadão Rio Clarense pra gente de fora. Temos de prestigiar o pessoal da terra”.

ESTRADAS – Na década de 1960, o vereador Antonio Porto, o Baiaco, de Paraty, RJ, protestando, em sessão da Câmara, contra o isolamento do município, sem estrada que seguisse serra acima em direção ao interior, até o Vale do Paraíba, bradou: “Precisamos construir uma estrada de ferro, nem que seja de pau”. Outro vereador ponderou: “Mas, Excelência, é impossível colocar trilhos para subir a Serra do Mar...” Baiaco retrucou: “Então vamos construir uma rodovia marítima, por cima d’água, cruzando a Baía da Ilha Grande...”

DIAGNÓSTICO – Nas eleições municipais de 1966 em Mangaratiba, RJ, um médico trabalhava como cabo eleitoral do candidato que fazia oposição a Edson Elias Dumas. No meio do sertão da Serra do Piloto, que faz divisa com Rio Claro, o médico após examinar um caipira, tentando cooptá-lo, diagnosticou: “O seu caso é grave, o senhor está com impaludismo”. O caipira rebateu prontamente: “Não, dotô, eu tô com Edson Dumas”.

CIDADANIA – A vereadora Júlia Rocha, de Rio Claro, RJ, na década de 1970, questiona o Plenário da Câmara Municipal: “Temos de parar com essa mania de conceder Título de Cidadão Rio Clarense pra gente de fora. Temos de prestigiar o pessoal da terra”.

ESTRADAS – Na década de 1960, o vereador Antonio Porto, o Baiaco, de Paraty, RJ, protestando, em sessão da Câmara, contra o isolamento do município, sem estrada que seguisse serra acima em direção ao interior, até o Vale do Paraíba, bradou: “Precisamos construir uma estrada de ferro, nem que seja de pau”. Outro vereador ponderou: “Mas, Excelência, é impossível colocar trilhos para subir a Serra do Mar...” Baiaco retrucou: “Então vamos construir uma rodovia marítima, por cima d’água, cruzando a Baía da Ilha Grande...”

DIAGNÓSTICO – Nas eleições municipais de 1966 em Mangaratiba, RJ, um médico trabalhava como cabo eleitoral do candidato que fazia oposição a Edson Elias Dumas. No meio do sertão da Serra do Piloto, que faz divisa com Rio Claro, o médico após examinar um caipira, tentando cooptá-lo, diagnosticou: “O seu caso é grave, o senhor está com impaludismo”. O caipira rebateu prontamente: “Não, dotô, eu tô com Edson Dumas”.

Norival (à esq.) e Nhonhô
 à época do comício
(Foto: Acervo Marcelo Câmara)

VIRTUDES – Nas eleições de 1958 para Prefeito de Paraty, RJ, o vereador Antônio Núbile França, o Nhonhô, da UDN, famoso pelo seu dom e dotes na oratória política, tinha como vice outro vereador, Norival Rubem de Oliveira, do PSP. Num comício em Tarituba, bela praia e vila paratyense, Nhonhô, elogia os candidatos da coligação estadual e local PTB-PSP-UDN, a deputado estadual e federal, a senador e a governador, recitando as virtudes e predicados de cada um. Ele já tinha tomado umas pingas (era sábio e primoroso pingófilo) e no momento de falar do seu vice, Norival, o raciocínio falhou e ele começou a ratear: “Norival Rubem de Oliveira, meu companheiro de chapa, o grande Norival... Como ia dizendo, o grande Norival... Norival... o candidato a vice-prefeito, homem de muitas qualidades... Norival, Norival... Norival Rubem de Oliveira... o amigo de todas as horas... Norival Rubem de Oliveira...” E não sabendo o que dizer dele, arrematou: “Norival, QUE SEMPRE BEBEU COMIGO!” Nhonhô e Norival venceram as eleições e dividiram o mandato. Cada um governou dois anos. Até hoje, se diz em Paraty que o melhor prefeito da sua história, foi um vice: Norival, que fez, realmente,  uma bela administração.


SIGILO – Nas eleições legislativas de 1933, em Caicó, RN, um cidadão, que votava pela primeira vez, depois de ser orientado sobre o sigilo do voto (“Ninguém pode saber em quem você votou, ouviu?” foi advertido), se apresentou na porta da sala da biblioteca municipal, onde se localizava a sua seção eleitoral, se identificou na mesa eleitoral e foi orientado a ir até a cabine indevassável no fundo da sala para recolher a cédula do seu candidato a deputado à “Assembleia Nacional Constituinte do Brasil”. Na saída, depois de percorrer os corredores com estantes de livros, ele teria de depositar a cédula na urna colocada junto à mesa, na porta da sala por onde entrou. Passou direto. A mesária chamou o sujeito: “Senhor, o seu voto, coloque aqui na urna.” Ao que ele reagiu: “De jeito nenhum. O voto é secreto, minha senhora. Ninguém pode ver. O meu voto eu escondi, está dentro de algum livro aí da biblioteca.


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Um comentário:

  1. Amigo Marcelo ! Venho Aquí te Parabenizar por esta Valiosa Contribuição à Cultura e à Informação " VERDADEIRA" Abraço Amigo e Parceiro rs !!!!

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