quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Algumas perplexidades de um cidadão brasileiro após o processo de Impeachment

O Ministro Ricardo Lewandowski, ao dividir ao meio a sanção constitucional, una e explicitamente indivisível, decorrente do impedimento da Presidente da República pelo cometimento de crimes de responsabilidade, dando um entendimento esdrúxulo ao Parágrafo Único, do Artigo 52 da Constituição, sob a justificativa de que se tratava de “um destaque”, semelhante aos que colocou em votação na Sessão de Pronúncia – levou o Senado a se assemelhar a um empregador que dispensa um empregado por justa causa e lhe entrega uma “carta de referência” positiva ao mercado, recomendando-lhe “como um honesto, competente e produtivo trabalhador”.

(Foto: www.jorgeroriz.com)
O dispositivo constitucional citado determina: “... limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.” Ora, o entendimento literal, claro, cristalino, para qualquer alfabetizado, da preposição “com” traduz-se numa adição, numa companhia inseparável, vinculante, em simultaneidade, num acréscimo insubstituível que forma uma sanção única, indissolúvel. Não existe a conjunção alternativa “ou”. Nem a conjunção coordenativa aditiva “e”, que poderia ser entendida como uma “pena acessória”, como “algo mais”. No mínimo, o Presidente deveria dar ao Plenário o direito de decidir sobre o corte ao meio, a separação da sanção em duas sanções. Errou Lewandowski. Primariamente. E todos comeram moscas ao considerar que, no País, só existe função pública, que à Dilma não é possível, naturalmente, procurar ocupação ou emprego no setor privado, como faz a maioria dos brasileiros.

  A Presidente da República foi ao Senado na última quinta-feira. Não respondeu a uma pergunta sequer. Disse o que quis, como quis, no tempo que lhe conveio. Com um discurso deplorável na forma, prenhe de erros, e no conteúdo, falso, inverídico, infundado. Sem réplicas. Ginasianamente. Seus asseclas disseram que ela “demoliu a acusação”. Na realidade, houve uma auto-implosão asnal. Perguntada, nada disse. E tudo lhe foi perguntado. Melhor seria que nada se perguntasse. E tempo não se perdesse.

O Trabalhismo Brasileiro, seus personagens, seus feitos, suas conquistas e os crimes que sofreu, transformou-se no grande acervo para os discurseiros desarticulados do PT e seus aliados. O PT sempre odiou, combateu e ridicularizou Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, a doutrina trabalhista brasileira. Eis alguns assaltos oportunistas:

·   Vargas, o maior estadista da História do Brasil, que editou a CLT, produto de uma equipe de notáveis de pensamento socialista (Lindolfo Collor e outros), “sempre foi o ditador sanguinário, que construiu a CLT, documento fascista de dominação e controle dos trabalhadores, diploma ultrapassado, feito em cima da Carta del Lavoro, de Mussolini”. Mas, nas sessões do processo de impeachment, repetiam: “A CLT é sagrada, uma conquista dos trabalhadores, que Getúlio Vargas deu ao povo brasileiro. A CLT é o porto seguro dos trabalhadores. E Temer quer revogar a CLT, um crime etc.”.

·  Compararam ao cerco que Carlos Lacerda e a Direita fizeram a Getúlio Vargas em 1954 e que o levaram ao suicídio à posição de ré de Dilma Roussef. Chamaram o Palácio do Jaburu, de onde Temer governava, de “a mesma República do Galeão que traiu Getúlio”. Uma esquizofrenia histórica. O Senador Requião, nacionalista, é verdade, mas aliado do PT, leu, na íntegra, da tribuna, a Carta do Testamento de Getúlio Vargas, emocionando o Plenário. Pretendeu encarnar a Carta no PT, identificá-la com o partido de Lula. Impossível. Nenhuma identidade.

·     Para o PT, o Sindicalismo que Getúlio criou sempre foi falso, dirigido pelo ditador. O PT sempre se colocou contra o imposto sindical. Até a posse de Lula em 2003. Nos últimos dias, nada mais democrático, legítimo e representativo que a “herança sindical de Getúlio, que teceu a base do Sindicalismo brasileiro, que, agora, Temer quer destruir...”

·    Leonel Brizola, o último estadista que este País teve, sempre foi “um demônio” para os petistas, inimigo mortal, mesmo sendo o responsável pela maior transferência de votos já havida na política brasileira a favor de Lula no RJ, quando, em 1989, o “sapo barbudo” não se elegeria vereador entre os fluminenses. Pois bem, durante o processo de impeachment, Brizola foi a referência da Esquerda (que Lula e o PT nunca foram), o grande líder nacionalista, trabalhista, socialista, democrata.

·    Darcy Ribeiro construiu os CIEPS. Para o PT “depósitos de crianças, prédios caríssimos, programa sem pedagogia, demagogia brizolista”. No início dos anos 1990, o PT elaborou e distribuiu panfletos contra Brizola, Darcy e os CIEPS, nos corredores do Congresso Nacional, durante a discussão de um projeto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de interesse da Direita conservadora, que se confrontava com uma proposição do próprio Darcy. Nas sessões do impeachment, Darcy foi citado e recitado todos os dias. Até Dilma, nos funerais do dia 31, no +Alvorada, mutilou um pensamento de Darcy. Pior: leu a reprodução do seu ghost writer de versos de Maiakovski. Certamente, Dilma pensou que fosse um slogan de uma vodca russa.

Falas patéticas:

·         Este Senado não tem moral para julgar a Presidenta Dilma

( Gleise Hoffmann, inflando-se de moralismo e sem argumentos.)

·         Eu acuso... Eu acuso... Eu acuso...

(Lindberg Farias, tentando ser tribuno, fingindo genialidade, ao plagiar mal o repetido recurso estilístico que Émile Zola utilizou – “J’acuse” - na carta ao Presidente Felix Faure, na França de 1898. Enquanto isto, os seus eleitores aguardam, até hoje, a sua prometida e devastadora ação parlamentar contra a privataria do PSDB, discurso com o qual se elegeu, enganando os eleitores em 2002.)

·         A Presidenta Dilma vai ficar com uma aposentadoria de R$ 5 mil. Ela não vai poder dar aulas em universidades... Por isto, peço às senhoras e aos senhores que não votem pela inabilitação para o exercício de funções públicas.”

(Kátia Abreu clamando ao Plenário para não aplicar a devida pena de inabilitação, certa de que Dilma pode dar aula em universidades quando a falecida “Presidenta” está, há vinte anos, para concluir o curso de mestrado.)

Onomatopeias:

·   Voz de manicure aflita e endividada.

(Gleise Hoffmann em arroubos de inconformismo)

·   Voz de menino contrariado, forçado a ir ao dentista e com mesada atrasada.

(Lindberg Farias raivoso com Ronaldo Caiado)

Humor:

·   As falas críticas e verdadeiras do Senador Magno Malta, em linguagem popular, repletas de adágios, folclore brasileiro, citações bíblicas e alcunhas perfeitas criadas por ele mesmo.

·  O Ministro Lewandowski chamando o Senador Cidinho Santos de “Senadora Cidinha Santos”, e o Senador Cristóvão Buarque de “Senador Cristóvão Colombo”.

Jargões mais ouvidos:

·  Todo esse processo é uma farsa, uma fraude nascida do ódio de Eduardo Cunha contra a Presidenta Dilma, uma vingança do ex-presidente da Câmara. Trata-se de um processo nascido de um desvio de finalidade. Não existem as digitais de Dilma...”

(A alguns do PT parece que Eduardo Cunha foi orientado por Barak Obama)

·   “A presidenta Dilma é uma mulher honrada, uma mulher honesta...”

Não mente, nunca mentiu, nunca enganou ninguém...” – diziam alguns petistas."

·   Não está provado o crime de responsabilidade.”

“  Onde está o crime? Se não há crime, não há autoria. E onde está o autor?” perguntou o petista. “No Alvorada” – respondeu um senador do PMDB.



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