Foi um belo espetáculo a cerimônia de Abertura das Olimpíadas
2016, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. “Belíssimo, irretocável,
emocionante” – disseram todos, escreveu o mundo. Eu assisti e ratifico: Uma
maravilha. Criatividade, gigantesca e adequada cenografia, recursos
audiovisuais, coreografia, artes circenses, tecnologias, efeitos especiais.
Execução impecável de atores e voluntários. A equipe de criação e produção,
formada por Abel Gomes, Andrucha Waddinton, Daniela Thomas e Fernando Meirelles
estão de parabéns.
(Foto Estadão) |
Quando se passeou pelas matrizes e influências na formação da
Nação, após o protagonismo do nativo, o índio, habitante de Pindorama, vieram
os portugueses, colonizadores. Depois, os africanos, negros escravizados
arrancados a chicote da sua terra, amordaçados, acorrentados. Em seguida,
passamos à influência árabe, especialmente de sírios e libaneses, para, afinal,
apresentar a imigração japonesa no início século passado. Tudo quase perfeito.
Esqueceu-se de dois povos, cujas imigrações constituíram
presenças muito mais importantes e influentes do que os árabes e os japoneses.
Foram e são eles os alemães e os
italianos.
A imigração alemã, iniciada antes da nossa Independência, tem
uma história humana de quase duzentos anos, de chegadas, de jornadas que
duraram até 1960, de muito trabalho, construção, conflitos, autonomias, assimilações,
acréscimos, recepções, permutas, criações, doações, e contribuições à
Civilização Brasileira. Enfim, os alemães aqui estabelecidos, e suas descendências,
exibem uma vasta fenomenologia socioantropológica, visíveis em monumentais
patrimônios sociais, econômicos e culturais, identificados e flagrantes na nossa
Vida e na nossa Terra. As “germanidades” e os traços germânicos habitam muitos
fatos, façanhas, expressões e feitos da nossa Cultura, especialmente no Sul do
País: na resistência da língua e dialetos alemães, ainda falados e escritos em
muitas comunidades e, depois dividindo currículos com a língua portuguesa; em
vários estilos de vida, mentalidades e ideologias, rurais e urbanas; no modo de
ocupar, dividir e cultivar a terra e os recursos rurais que plasmaram grande
parte da nossa Agricultura, diversificando-a e racionalizando-a, resultando um
campesinato peculiar, marcados pela maneira de produção, convívio e
desenvolvimento próprios, plasmados na racionalidade e na sustentação ambiental;
na Culinária, nas Festas profanas e em várias manifestações do Folclore.
Os alemães também marcam a urbanização e a industrialização
do Brasil, difusamente, em vários Estados, de forma mais concentrada nos
espaços meridionais, onde uma arquitetura foi erguida. Os alemães criaram e
influenciaram muitas artes, da Literatura às Artes Plásticas, as Ciências e
Tecnologias; na Educação e na Academia. A nossa paisagem humana, físico-social,
está marcada por essa germanidade, ora espantosamente européia, íntegra,
distinta, ora incorporando-se ao nosso modo de viver e conviver, enriquecendo a
Cultura Brasileira. Pode-se afirmar que há uma população teuto-brasileira,
integrada à Vida Brasileira, que não renunciou aos valores, referências, signos
e símbolos, fortunas e expressões culturais alemães.
As mais eloqüentes presenças, afirmações, heranças e marcas
dessa imigração, nós as encontramos, principalmente, nos Estados do Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.
Centenas de cidades e vilas brasileiras foram criadas ou intensamente povoadas
por alemães.
Já os italianos, que chegaram depois, na segunda metade do
Século XIX, não são menos importantes para a Terra a Sociedade, a Economia, a
Cultura Brasileira. Hoje, os seus descendentes somam quase vinte por cento a
população do País. Creio que depois das três matrizes básicas – o índio, o
português e o negro – o italiano, sua língua, sua fala, suas tradições, hábitos
e costumes estão em toda a parte, tangem mentalidades e comportamentos onde a
imigração desembarcou, nas cidades e nos campos. Assim como temos um Nordeste
em São Paulo, encontramos nesse Estado a maior messe de italianos fora da
Itália. De onde vem a fala cantada, as inflexões e a prosódia paulistana
típica, consolidada, se não da imigração italiana, non è vero? As contribuições e influências italianas ao País são importantíssimas,
muitas vezes primaciais, fundamentais, mais visíveis, eloquentes, tal qual a alemã,
no Sudeste e Sul do País, onde eles foram mão-de-obra substituta da escrava,
principalmente nos cafezais paulistas. Os italianos também foram vanguarda e
maioria esmagadora na industrialização paulistana e, no Sul, fez o desenho da
estrutura das pequenas propriedades, anti-latifundiárias, na introdução de
tecnologias agrícolas, e oposta à monocultura. O Catolicismo itálico azeitou a
adaptação dos imigrantes ao convívio com brasileiros. As capacidades de
trabalho, superação, adaptação e improvisação, a musicalidade, a alegria, a
criatividade italianas foram fatores decisivos, amalgamadores, de integração e
assimilação mútua ao cotidiano brasileiro.
No Rio Grande do Sul, bem como em toda a região meridional do
País, a partir do Século XIX, as colônias italianas, de atividade agrícola,
contrabalançaram, com a latinidade, com o sentimento e a alma latina, a germanização
ortodoxa dos assentamentos, inflexível, às vezes fechadas, cingidas pelo
Luteranismo rígido e algumas manchadas pelo racismo, filho de execráveis e
perversas ideologias políticas. Os italianos projetaram sua língua, modos de
vida, costumes e sentimentos, seus gêneros, ritmos e talentos na música, dança,
teatro, artesanato, poesia, nas artes plásticas e visuais, na culinária, no
nosso plural Folclore, e até nos esportes que praticamos, por extensas áreas da
terra brasileira, recriando, enriquecendo as correspondentes expressões
nacionais. A escola e a universidade brasileira receberam mestres, pensadores,
artistas e gestores oriundi de
famílias dessa imigração, especialmente em São Paulo, que revolucionaram,
inovaram, fizeram vanguarda em seus campos de atividades. Como os alemães,
também fundaram vilas e cidades em diversos Estados.
Não se pode mostrar para o mundo, na Abertura de uma
Olimpíada, num grande, belo e longo espetáculo cênico, de música, dança, luz,
cores de grandes e belos efeitos visuais, num evento pensado e planejado
durante anos, a formação e evolução da Nação e da Cultura Brasileiras,
excluindo-se as doações e influências, as contribuições que recebemos dos
alemães e italianos. Um esquecimento transformado em erro. Erro grave,
injustificado, imperdoável, irremediável. Falta de uma consultoria cultural?
Não se sabe. O tropeço serve como lição a ser aprendida.
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Bravo ! Bravíssssimo Marcelo. Como Pode isto ter acontecido irmão??? Ahhh O Brazil !!!
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