Após passearmos, criticamente, sobre o PT e o PDT e
constatarmos que o primeiro falece desmoralizado e degradado, depois de rasgar
as tradicionais bandeiras populares da Esquerda, de participação, ética,
igualdade de oportunidades, distribuição de renda e justiça social, através de
um projeto desonesto de poder, que incluiu a demagogia institucionalizada, o
descalabro administrativo, a orgia orçamentária e fiscal, a gastança criminosa
e a corrupção generalizada via aparelhamento do Estado; e o segundo partido, o
PDT, aliando-se, incondicionalmente, ao PT, traiu os seus compromissos
históricos com o Trabalhismo Brasileiro – neste artigo vamos iluminar a
atualidade das outras agremiações que se apresentam como “de Esquerda”, e
questionar: Podem elas, realmente, serem
identificadas, pelos seus ideários, programas e condutas políticas, como
“Partidos Socialistas Democráticos”, no amplo espectro de opções ideológicas antiliberais
e anticonservadoras?
PSDB – A
Social Democracia pode ser definida como um Socialismo reformista, não
revolucionário, dentro do Capitalismo, com pluralidade de representação
política, mas onde, mantendo-se a economia de mercado, a livre iniciativa e o
lucro, o capital é rigidamente regrado. O Estado intervém na economia, visando
ao bem-estar social, melhor distribuição de renda, um aperfeiçoamento do
sistema capitalista, tornando-o mais igualitário, mais democrático, mais justo.
Nascida no útero do marxismo, originalmente os social-democratas, ao contrário
dos marxistas ortodoxos, criam que, através do “reformismo”, do revisionismo da
doutrina de Marx e Engels, chegar-se-ia ao Socialismo, através da própria
evolução social e política. Na Alemanha, a divergência aberta por Bernstein contra os socialistas revolucionários de Rosa
Luxemburgo, formalizou a cisão no início do século passado. Em seguida, dentro
da própria Social-Democracia, novas cisões: caminhar rumo ao Socialismo ou
permanecer no Capitalismo, transformando-o, via sistema representativo e eleições
e através da nacionalização das empresas, programas sociais radicais como
educação e saúde públicas universalizadas e maiores tributos para os mais ricos.
No pós-guerra, estes últimos se aproximam e se aliam aos partidos de centro,
originando a atual “Terceira Via”, configurada com o fim da URSS e a queda do
Muro de Berlim, que congrega “social=democratas” com os “verdes”, tornando
prioritários programas sociais de distribuição de renda, as lutas ecológicas e
pelos direitos humanos. No mundo, raros são os partidos verdadeiramente social-democratas.
Quase todos se transformaram em neoliberais. Entre nós, o PSDB de Mário Covas e
FHC já nasceu como “Terceira Via”, uma pseudo Social-Democracia, deturpada,
não-socialista. Confirmou-se, na prática, o seu caráter neoliberal, privatista
e antinacional. Se há algum social-democrata, socialista democrata, no PSDB? Ocupando
cargos eletivos e militantes, certamente, não. Talvez, alguns eleitores mal
informados, iludidos, impressionados com a insígnia “Social-Democracia
Brasileira”. No Brasil, os únicos partidos, genuinamente, social-democratas,
socialistas democratas que existiram foram o PTB pré-64 e o PDT de Leonel
Brizola, hoje ambos finados. Brizola foi Vice-Presidente e Presidente de Honra
da Internacional Socialista, que reunia os autênticos da ideologia, distantes
das “Internacionais Comunistas” ou Komintern,
depois Kominform, ambas dissolvidas em 1943 e 1956
respectivamente, sob o comando da extinta URSS.
Freire: ex-comunista (Foto: GGN) |
PC do B –
Fundado em 1962, decorrente de uma dissidência havida no seio do PCB, que
seguindo líder soviético Khrushchov, optou pela desestalinização, em 1956, do Movimento Comunista Internacional , o
PC do B tem ideologia marxista-leninista e no seu nascimento já adotava,
consequentemente, a linha política de Joseph Stalin. Várias vezes, o partido
foi atingido por dissidências, correntes e militâncias paralelas, marginais. Depois,
percorreu as linhas maoísta, chinesa, e, por fim, albanesa, todas experiências
comunistas frustradas. Na década de 1980, cheguei a participar, a convite do PC
do B, em Brasília, das comemorações de um aniversário de nascimento de Stálin,
quando assisti o então dirigente Renato Rabelo proferir entusiástica e
derramada palestra sobre a vida do “grande e eterno Joseph Stálin, nosso líder
inspirador”. Ao cultuar a ideologia marxista-leninista, ao perseguir a ditadura
do proletariado, um regime totalitário, de partido único, contra a liberdade e
o pluralismo partidário, um regime partido único, de economia estatal,
centralizada, afasta o partido do rol dos Socialistas Democráticos.
Pragmaticamente, por largo tempo, o PC do B foi um aliado de Leonel Brizola,
tanto nas eleições nacionais, como nas estaduais. Porém, ao se compor com os
desgovernos de Lula e Dilma, participando deles inclusive, ao se comportar como
um instrumento do PT, a sigla se distancia definitivamente desse terreno,
exceto se considerarmos legítimo e válido o conceito marxista, exclusivo e
excludente de “democracia”.
PSB – O
partido nasceu em 1947, do grande fórum 2ª
Convenção Nacional da Esquerda Democrática, com a absorção de ideias
marxistas, porém como uma alternativa mediana, formulada por João Mangabeira,
Hermes Lima e Domingos Velasco, ao Trabalhismo de Getúlio e o Comunismo de
Prestes. Percorreu tortuosos e contraditórios caminhos, interrompidos pela
Ditadura Militar de 1964, que incluíram o abrigo de grupo trotskista,
aproximações e alianças com a UDN e com o Janismo. Em 1985, o PSB foi
refundado. Ao retornar do exílio em 1979, Miguel Arraes, que fora Governador de
Pernambuco pelo PST, uma sigla trabalhista, aliada a Jango e Brizola, não
ingressa no PDT, como se esperava e seria natural. Arraes se filia ao PMDB,
assim como Waldir Pires, do antigo PTB, para surpresa de todos. Em 1990, o
governador de Pernambuco, Miguel Arraes, eleito pelo PMDB, vai para o PSB. Em
2000, o partido recebe Antony Garotinho. Importantes quadros, por isto, deixam
o partido. Garotinho é candidato a Presidência da República, fica em terceiro
lugar e influencia o PSB por três anos, quando, então, é, praticamente,
“expulso” da agremiação, pois tem o seu recadastramento negado. Arraes retorna à
direção e volta a dominar o PSB, apóia Lula nas eleições de 1989 até 2006, e
Dilma em 2010. Antes da eleição de 2010, recebe Ciro Gomes, perde mais quadros
por conta dessa filiação, mas não o lança candidato a Presidente, preferindo
Dilma. Sempre aliado ao PT, participa dos governos petistas. Somente em agosto
de 1914, o PSB desperta, critica os rumos das políticas do PT, sai do governo
Dilma e lança Eduardo Campos, neto de Arraes, à Presidência da República, com
um programa de governo distante da ideologia populista e da política
orçamentária e fiscal suicida do PT. Um desastre de avião mata Campos e o PSB
acolhe Marina Silva, em processo de registro da Rede de Sustentabilidade, como
candidata à Presidência. No segundo turno, Marina, derrotada, pessoalmente
apóia Aécio Neves, mas o Diretório Nacional do PSB, incrivelmente, recomenda o
voto em Dilma. Após tantas contradições e hesitações para reassumir,
efetivamente, os princípios e objetivos do Socialismo Democrático, mesmo não
participando do governo Dilma em seus estertores, o PSB se dividiu, se
pulverizou ao votar o impeachment,
com parlamentares a favor e outros contra o impedimento de Dilma, defendendo a
sua permanência. Atualmente, com o seu afastamento, aparentemente irreversível,
do desmoralizado PT, distante da irresponsabilidade, do populismo e da
demagogia criminosa do PT, o partido retoma o seu tradicional ideário, tenta
cumprir, coerentemente, no posicionamento e pronunciamentos de sua direção, no
comportamento parlamentar, o seu histórico e prestigioso programa, identificando-se,
verdadeiramente, como um partido Socialista Democrático.
No próximo artigo, visitaremos, criticamente, os
demais partidos que se apresentam como “Socialistas Democráticos”.
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