Alguns internautas receberam o primeiro artigo desta série, dedicado ao
PT, como uma intenção deliberada deste jornalista de livrar uma suposta
Esquerda do partido da responsabilidade pelos males causados ao País. Não.
Absolutamente. Nada disso. Três foram os objetivos daquele artigo: procurar
demonstrar que as ações dos governos do PT não se coadunam, em tese, com os
valores e a ética de uma doutrina socialista democrática; que os verdadeiros
socialistas que estiveram no PT o deixaram a partir das condutas iniciais do
primeiro governo Lula; e que, como se comprovará ao final da série, os
verdadeiros socialistas, com as suas naturais virtudes, pecados e erros, não
habitam os partidos ditos “de Esquerda” no País, estão distantes do processo
político-partidário, ocupados em outros ofícios e missões, ideológicas ou não.
José Augusto Ribeiro: História com seriedade. (Foto: www.hildegardangel.com.br) |
CARTA DE LISBOA - Em 1980, o PDT
foi a alternativa de Leonel de Moura Brizola, após perder a histórica sigla PTB
para Ivete Vargas, numa complexa e maquiavélica manobra do General Golbery do
Couto e Silva, o mesmo que ajudou a inventar Lula. No ano anterior, em
Portugal, Brizola e mais 125 Trabalhistas, gente de várias latitudes sociais e
diversos talentos, como Darcy Ribeiro, Francisco Julião, Doutel de Andrade e
Herbert de Souza, o Betinho, elaboram
e assinam a Carta de Lisboa,
manifesto político, documento social, econômico e cultural, socialista e
nacionalista, que marcaria o renascimento do velho PTB, mas acabou sendo o
“registro de nascimento” do PDT, “um partido nacional, popular e democrático”. Essa
Carta transformou-se no ideário e no programa básico do PDT. Nela, Brizola
prega uma “solução trabalhista para o País, despida
de soluções importadas” e convoca para a participação e o debate todas as
forças populares, democráticas e progressistas visando à “construção de uma
sociedade socialista, fraterna e solidária, em Democracia e Liberdade”. Após
prever um partido que deve praticar a tolerância, a fraternidade, o pluralismo
e condenar a manipulação de sindicatos e organizações populares, Brizola diz
que deseja “recuperar o papel renovador que desempenhava os trabalhistas antes
de 64”.
IDEAIS
BRIZOLISTAS - Além de condenar todas as formas de censura, defender os
direitos dos trabalhadores e, indiscriminadamente, os direitos humanos, a Carta enumera quatro missões então
urgentes do novo partido, diante o drama social que a Nação vivia, sob a
Ditadura Militar: 1) salvar as crianças do abandono e da fome, e, da
delinquência, os jovens “analfabetos e descrentes da sua Pátria”; 2) viabilizar
o exercício dos direitos dos negros e índios, fazendo-lhes justiça; 3) dar a
mais séria atenção às mulheres brasileiras, espoliadas em sua cidadania e no
seu trabalho; 4) assumir a Nação a causa do Povo Trabalhador do Norte e
Nordeste, vítimas de cruel e permanente “colonialismo interno”. Brizola coloca
o Povo Brasileiro como “sujeito e criador do seu próprio futuro”, sublinhando “o
caráter coletivo, comunitário e não individualista da visão Trabalhista”. E
encerra a Carta, asseverando que, com
a organização do PTB – sonhava ele –
“continuaremos firmemente, sob a inspiração da Carta Testamento do Presidente
Getúlio Vargas, a caminhada junto ao povo que nos levará à emancipação da
Pátria”.
O TRABALHISMO, UMA DOUTRINA NA GAVETA - Tomemos a ideologia
Trabalhista que tem no Trabalho e nos Trabalhadores os valores primaciais de
uma Nação, para a construção do Estado e suas instituições, a evolução
política, o desenvolvimento socioeconômico e cultural de um país. Em seguida,
viajemos pela História do Trabalhismo Brasileiro cuja semente está na Revolução
Farroupilha, na luta pela República e sua afirmação, no Governo gaúcho
positivista de Júlio de Castilhos. Depois, com Getúlio Vargas, Alberto
Pasqualini pensou e sistematizou a doutrina. Marcondes Filho organizou o
sindicalismo e ajudou a dar face trabalhista a um partido, liderado por Vargas.
Vieram Jango e Brizola para consolidar a ideologia definitivamente. Meditemos
sobre os percursos político-ideológicos de Vargas, o Estadista do Século XX, que
fundou e estruturou o Estado Brasileiro, praticou, efetivamente, o Trabalhismo
em suas decisões e feitos, em toda a sua dimensão humana e social, estabeleceu
os alicerces da economia nacional; de Jango com as Reformas de Base, seu
governo nacionalista e popular, o golpe que, por isto, sofreu e por causa dele
morreu. Reflitamos sobre a Carta de
Lisboa, seus fundamentos, sua crítica, seus objetivos, o que o PDT nela buscou
e dela cumpriu. Analisemos, por último (e nada aconteceu depois) a brilhante,
coerente e vitoriosa caminhada de Brizola como líder político, nacional e
trabalhista, prefeito, deputado estadual e federal, o único brasileiro
governador em dois Estados, sua conduta de estadista, seus extraordinários
feitos como administrador, sua rica biografia, bem como as vitórias e derrotas
do PDT. Definitivamente, concluímos: no Brasil, o PDT é uma doutrina na gaveta.
Então, estamos prontos para questionar: Esse PDT que sobreviveu após a
partida do “Doutor Leonel”, e que está aí, flagelado, raquítico, canhestro,
manco, contraditório, vendido, desfigurado, aliado ao PT, com o liliputiano
Carlos Lupi no leme e o patético Ciro Gomes na proa, fazendo composições
esdrúxulas regionalmente, tem algo a ver com o Trabalhismo Brasileiro? Com o
Trabalhismo Socialista? Com a Esquerda? Deixo as perguntas aos leitores.
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Os brasileiros ganham um rico blog. Para historiadores, professoress de História e alunos, uma fonte preciosa.
ResponderExcluirJá começa brilhantemente. E terá vida longa.
Jorge Beja