quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Perplexidades de um trabalhista após o processo de Impeachment

O Trabalhismo Brasileiro, seus personagens, seus feitos, suas conquistas e os crimes que sofreu, foi o filão mais invocado, louvado e venerado pelos discurseiros desarticulados do PT e seus aliados durante as sessões do Impeachment. O valioso acervo do Trabalhismo foi larga e despudoradamente utilizado. O PT sempre odiou, combateu e ridicularizou a doutrina brasileira de Getúlio Vargas, sistematizada por Alberto Pasqualini, prosseguida por João Goulart, renovada por Leonel Brizola e Darcy Ribeiro. Essas figuras foram cantadas, incensadas, em verso e prosa, pelo cinismo petista. Eis alguns assaltos oportunistas.

Vargas, o maior estadista da História do Brasil, que editou a CLT, produto de uma equipe de notáveis de pensamento socialista, que incluiu Lindolfo Collor entre outros, “sempre foi o ditador sanguinário, que construiu a CLT, documento fascista repressivo, de dominação e controle dos trabalhadores, diploma ultrapassado, feito em cima da Carta del Lavoro, de Mussolini” – menospreza e brada o PT desde que existe. Mas, nas sessões do processo de impeachment, o PT, com as suas forças auxiliares, as siglas PT do B, PSOL e a maior parte do deformado, corrompido e irreconhecível PDT, repetiam: “A CLT é sagrada, uma conquista dos trabalhadores, que Getúlio Vargas deu ao povo brasileiro. A CLT é o porto seguro dos trabalhadores. E Temer quer revogar a CLT, um crime etc.”.

Uma quadrilha na lama
 (Foto: Folha de Tucuruí)
Compararam ao cerco que Carlos Lacerda e a Direita entreguista e golpista fizeram a Getúlio Vargas em 1954 e que o levaram ao suicídio à posição de ré de Dilma Roussef. Chamaram o Palácio do Jaburu, de onde Temer governava, de “a mesma República do Galeão que traiu Getúlio”. Uma esquizofrenia histórica. O Senador Requião, homem de Esquerda, nacionalista, é verdade, mas, equivocamente, aliado do PT, leu, na íntegra, da tribuna, a Carta do Testamento de Getúlio Vargas, emocionando o Plenário. Pretendeu encarnar a Carta no PT, identificá-la com o partido de Lula. Uma grave distonia, uma patética tentativa. Nenhuma identidade há do pensamento e da ação de Getúlio com as patuscadas de aparelhamento do Estado, incompetência e corrupção dos governos Lula e Dilma.

Para o PT, “o Sindicalismo que Getúlio criou foi falso, um instrumento de dirigismo do ditador”. O PT sempre se colocou contra o imposto sindical. Isto até a posse de Lula em 2003. Nos últimos dias, “Nada mais democrático, legítimo e representativo que a herança de Getúlio, que teceu a base democrática, popular e participativa do Sindicalismo brasileiro, que, agora, Temer quer destruir...”

Leonel Brizola, o último estadista da nossa Política, sempre foi “um demônio de sobrancelhas grossas”. Para os petistas, um inimigo mortal, mesmo sendo, generosamente, o responsável pela maior transferência de votos já havida na política brasileira, no caso, a favor de Lula no RJ, quando, em 1989, o “sapo barbudo” que não se elegeria vereador entre os fluminenses, foi o mais votado no Rio de Janeiro e, também, no Rio Grande do Sul. Pois bem, durante o processo de impeachment, Brizola foi “a referência da Esquerda (que Lula e o PT nunca foram), o grande líder nacionalista, trabalhista, socialista, democrata”.

O sociólogo, antropólogo e senador, o professor Darcy Ribeiro, meu mestre e fraterno amigo, com Brizola, planejaram e construíram os CIEPS, um sistema, pedagogia e didática de escola de tempo integral. Para o PT “depósitos de crianças, prédios caríssimos, inúteis, programa eleitoreiro, demagogia brizolista”. No início dos anos 1990, o PT, através do então deputado federal Raul Pont, elaborou e distribuiu panfletos insultuosos, degradantes, difamadores, contra Brizola, Darcy e os CIEPS, nos corredores do Congresso Nacional, durante a discussão de um projeto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de interesse da Direita conservadora à qual o PT se aliou, e que se confrontava com uma proposição do próprio Darcy. Nas sessões do impeachment, Darcy foi citado e declamado todos os dias. Até Dilma, nos funerais do dia 31, no Alvorada, mutilou um pensamento de Darcy, divulgando-o pela metade, desfigurando-o, como fez Lewandowski com o texto constitucional, iludido ou persuadido de que o dispositivo fosse uma emenda legislativa, passível de ser apreciada como DVS (Destaque para Votação em Separado). Para arrematar, Dilma leu, raivosa e ameaçadora, como é do seu risível estilo, a reprodução que seu ghost writer fez com versos do genial Vladimir Maiakovski, o grande poeta da Revolução de 1917 e notável vate romântico, esta uma face que poucos conhecem. Certamente, Dilma, pensou que fosse um slogan de uma vodca russa, adequada para curar o tombo petista.


Em conclusão, estupefacto, constato que fica para a História Política Brasileira, terminado o processo de Impeachment, mais que uma apropriação indébita, mais que um assalto explícito por parte do “Lulismo” (uma péssima culinária do nosso molusco e nem de longe uma corrente ideológica séria), ficando evidente que houve, mais que um furto, um verdadeiro roubo dos valores, obras e personagens do adormecido Trabalhismo Brasileiro, atualmente invisível na estrutura partidária do País e no Congresso Nacional.



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