Brilho, incoerência, coragem, oportunismo. (Foto: revista Época) |
Acredito que ele deu um tiro no próprio pé no episódio da Tonelero que vitimou o Major Rubens Vaz. Lacerda estava armado, atirou várias vezes e não houve exame da sua arma. A “República do Galeão” e os militares da Direita não permitiram que fosse feita análise na arma de Lacerda, perícia técnica nem exame de balística sobre o tiro no pé de Lacerda. E o Brasil inteiro acreditou que ele fora uma vítima do atentado da Tonelero, atingido por um tiro disparado pelo mesmo indivíduo que acertou o militar. A última vez que vi Carlos Lacerda foi em Paraty, RJ, pouco antes de ele morrer, anônimo, silente, aparentemente triste, atuando como corretor de imóveis, tentando representar grupos investidores, intermediar vendas de casas e terras, dizia-se, "suspeitas", no mínimo “embaraçadas”, na região – fazendas, ilhas, praias. Era madrugada, e cruzei com Lacerda, só, sob chuva fina, parecia alcoolizado, admirando os sobrados coloniais, andando com dificuldade pelas ruas de pés-de-moleque do Bairro Histórico do Município Monumento Nacional. Lacerda foi um fenômeno ideológico. De voluntarismo, coragem, incoerência e oportunismo político. Inteligente, culto, grande tribuno.
Eduardo Cunha – Quatro
vezes eleito deputado federal no RJ, a primeira, em 2003, pelo PPB (primeiro
nome do PP), as seguintes pelo PMDB. Desde que entrou na política, lançado por
Garotinho, é réu em processos por corrupção. Através da sua empresa ”Jesus”, é
detentor de centenas de domínios na Internet. O PT deveria mandar celebrar uma
missa, ou melhor, um culto protestante por semana em ação de graças, pela
felicidade e a vida do ex-presidente da Câmara, que indeferiu de pronto (mesmo
que por interesse próprio ou recíproco entre ele e o partido de Lula), rejeitou
mais de cinquenta denúncias requerendo o impeachment
de Dilma Roussef. Nunca houve um temporal de pedidos como aquele, maior do que
a soma dos ocorridos durante toda a República contra um só Presidente. Dilma,
somente pelo Petrolão, deveria ter sido impedida muito antes, ainda no primeiro
desgoverno. Cunha foi amigo, solidário, generoso, aliado, complacente. Um irmão
querido. Atualmente preso em Curitiba pela Operação Lava-Jato é considerado um
fenômeno político. E financeiro.
Miro Teixeira – Foi o
político de maior poder e prestígio da curta história do falecido Estado da
Guanabara. Filho político de Chagas Freitas, e o genético que ele não teve, ninguém
até hoje fez e desfez mais na Guanabara do que Miro. Colunista de O Dia e, ainda rapaz, Chagas o elegeu deputado
federal pelo MDB. Em 1982, concorreu ao governo do RJ pelo MDB com Brizola
(PDT) e Sandra Cavalcanti (PTB). Ficou no partido do Doutor Ulysses até as
primeiras eleições pós-ditadura, quando muda de mala e cuia para o partido de
Brizola, ali permanecendo, fiel, competente e coerentemente, até 2003 quando
Lula o nomeia Ministro das Comunicações e ele vai para o PT. É demitido no
mesmo ano. Anos depois volta para o PDT e, em seguida, ruma para o PROS, da
base de Dilma, onde se reelege em 2014. Para a Câmara Federal, se elegeu três vezes
pelo MDB; uma para a Constituinte pelo PMDB; seis, pelo PDT; e uma, pelo PROS. Hoje
cumpre o décimo primeiro mandato agora pela REDE, que era base de Dilma, mas
Miro votou a favor do Impeachment. Sempre
bem eleito. Possui eleitorado cativo. É inteligente, hábil, competente
parlamentar, um fenômeno bem sucedido da Política Carioca.
César Maia – Antes do
primeiro turno das eleições de 1989, quando Brizola era o candidato do PDT, o então
deputado federal César Maia, do mesmo PDT, procurou Fernando Collor, às
escondidas, em São Paulo, para declarar que queria apoiá-lo. Collor, surpreso,
o interrogou: “Mas, como? O Doutor Leonel
Brizola não é o candidato do seu partido, o PDT? Como o senhor quer me apoiar?”
Maia explicou: “Sim, é. Mas eu quero
apoiá-lo”. Collor insistiu: “Mas é
fácil. Basta o senhor romper com o PDT e declarar, publicamente, o seu apoio a
mim”. Maia foi sincero: “Não, mas eu
quero apoiar o senhor sem que o Brizola saiba”. Collor ficou desconsertado
com a ousadia. Brizola teve conhecimento do encontro de Maia com Collor e
chamou o correligionário para esclarecer. Maia negou tudo. Collor confirma e
prova. Parte da entrevista de Collor, editada (não na íntegra como a assisti na
Band em 1997), contando esse triste episódio está no endereço:
Passava os mandatos de prefeito no computador, como uma criança que
ganhou um presente. Criou a palavra e a tolice denominada “factóide”, uma
bobagem, fictícia e irrealizável, que praticava habitualmente, que assustava os
incautos e neófitos pelo tom de seriedade com que era divulgada, e no contexto em
que estava inserida. Inviabilizou, no município, o programa dos CIEPS que, como
Secretário de Finanças de Brizola (“Com quem, diz ele, aprendi tudo de finanças
públicas”), ajudou a construir. É réu em diversas ações de improbidade
administrativa. Foi deputado na Constituinte de 1988, reelegendo-se em 1990
quando após a posse, se transferiu para o PMDB. Foi três vezes prefeito do Rio,
cargo que também deu a Luiz Paulo Conde Cumpre o segundo mandato como vereador,
o terceiro mais votado no último pleito. Elegeu seu filho, Rodrigo Maia, pela quinta
vez deputado federal, atualmente presidente da Câmara, o primeiro na linha
sucessória de Temer. Rodrigo Bethlem, Eduardo
Paes, Índio da Costa, Pedro Paulo – todos são conhecidos no Rio como “Cesar
Boys”, ou seja, garotos e criações de César Maia, que, quer queiram ou não, é um
fenômeno inexplicável da Política Carioca.
Garotinho – Obra de Brizola. Pertenceu ao PC do B, ao PT, ao PDT, ao
PSB, ao PMDB e, hoje, é filiado ao PR. Duas vezes prefeito de Campos dos
Goytacazes, RJ (1986-8 e 1988-92), deu, ainda, dois mandatos de prefeito à mulher
Rosinha Garotinho (2009-12 e 2013-6); Deputado Estadual (1986-88) e Governador
do RJ (1998-2002). Elegeu a mulher sua sucessora no governo do Estado (2003-6).
Foi deputado federal pelo PR (2011-15). Já protagonizou vários escândalos de
corrupção, entre eles o propinoduto,
um roubo descoberto em 2003, mas realizado no seu governo por fiscais
estaduais, mancomunados com colegas da Receita Federal e doleiros que enviaram
para Suíça US$ 77 milhões. Atualmente, em virtude da lentidão processual da
Justiça brasileira, a Suíça, que bloqueia a fortuna, está propensa a não
repatriá-la, com o risco até de o dinheiro ser devolvido ao fiscal Silveirinha, hoje solto, à época homem
de confiança de Garotinho e e chefe da
quadrilha.
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